Home TVTelefilmes Crítica | A Jornada de Um Diretor: Os Bastidores de Dragão Vermelho

Crítica | A Jornada de Um Diretor: Os Bastidores de Dragão Vermelho

por Leonardo Campos
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Os três filmes do universo criado por Thomas Harris na literatura, isto é, O Silêncio dos Inocentes, Hannibal e Dragão Vermelho, ganharam produções documentais caprichadas, tendo em vista a cobertura de situações de bastidores que funcionam para nós cinéfilos ou até mesmo curiosos como uma aula de cinema das boas. Aqui, em A Jornada de Um Diretor: Os Bastidores de Dragão Vermelho, exibido nos canais de televisão fechada associados aos estúdios da Universal, temos a possibilidade de contemplar durante mais de quarenta minutos, a caminhada de Brett Ratner na direção desta segunda adaptação do romance homônimo de Harris, antes levado ao cinema por Michael Mann, em 1986, além de compreender como algumas passagens foram realizadas, tais como a cena do crime na casa dos Leeds, o assassinato do jornalista na cadeira de roda em chamas, dentre outros pontos marcantes desta produção lançada em 2003, conhecida por ser a última colaboração de Anthony Hopkins como o Dr. Hannibal Lecter. Psicologicamente denso, a narrativa de Dragão Vermelho mergulha nos acontecimentos que antecedem o encontro de Lecter com Clarice Starling, tendo como foco a investigação de Will Graham, agente que adentra num labiríntico processo entre os encontros com o canibal e a captura de Francis Dollarhyde.

Como as demais produções do tipo, o documentário traz depoimentos da equipe técnica, membros do elenco e outras pessoas envolvidas direta e indiretamente na produção, como consultores de temas específicos (criminologia) e proprietários de residências que serviram de cenário para o desenvolvimento do filme. Hopkins comenta o seu estilo de atuação, Brett Ratner sobre a mitologia dos personagens e da história, explicando junto ao seu depoimento, a cronologia de Dragão Vermelho e as suas escolhas enquanto diretor contratado por Dino de Laurentiis para assumir o comando desta terceira incursão de Hopkins no universo que hoje já se expandiu para séries televisivas. Ted Tally aparece rapidamente, mas não é entrevistado, Martha de Laurentiis, bastante presente nos comandos da produção executiva, comenta as escolhas por detrás do estilo de Brett Ratner, algo para nos fazer lembrar que estamos num documentário que reflete o diário de filmagem do cineasta ao longo de sua jornada cheia de responsabilidade e expectativas por parte dos envolvidos e do público que esperou ansiosamente pelo lançamento que sucedeu a polêmica direção de Ridley Scott neste universo de temas macabros tratado com sofisticação.

No trecho sobre direção de fotografia, Dante Spinotti testa a luz do cenário com a cela de Hannibal, treina como captar as passagens com sangue e criar o devido contraste pelas lentes de suas câmeras. Observamos os testes de figurinos, a busca por visuais que estejam de acordo com a época de desenvolvimento da história, além de uma detalhada análise das máscaras utilizadas por Francis Dollarhyde em seus ataques, selecionadas e debatidas nos bastidores de uma equipe preocupada em não trazer um elemento para a história que soe ridículo e caricato. Mais adiante, John Douglas, agente do FBI, comenta o seu olhar experiente em torno dos acontecimentos do filme e destaca o que é ficção e o que está mais próximo da nossa realidade. Ele delineia que Hannibal Lecter é um ser mitológico, um manipulador e camaleão antissocial, dificilmente possível de ser encontrado numa situação da vida fora das telas. Elaborar o perfil do assassino, tomar as primeiras anotações do relatório policial local e se questionar sobre as motivações de escolha de vítima analisada em específico são alguns dos primeiros passos em seu processo investigativo.

Sob a direção e escrita de Stephen J. Morrison, o documentário bem editado por Taatshing Hui não apresenta nada revolucionário em sua estrutura informativa. Tudo é simples e direto, sem rodeios ou passagens muito inoportunas. Além dos pontos destacados, temos acesso aos storyboards com cenas comparadas aos trechos do filme, bem como uma detalhada abordagem dos truques de maquiagem para algumas passagens emblemáticas da narrativa: as cenas de morte, a transformação de Hopkins num Lecter visualmente convincente, a tatuagem do Dragão Vermelho de William Blake nas costas de Ralph Fiennes, dentre outros momentos. Somos informados que um consultor de homicídios do FBI esteve em determinados trechos do set de filmagens para observar as passagens com crimes hediondos de Francis Dollarhyde e, com a experiência de alguém que vive isso na realidade, dar dicas de como tornar tudo mais o mais realista possível. Ademais, Hopkins conta que em seu modo de operação profissional, geralmente lê diversas vezes o roteiro e consegue entrar e sair rapidamente de seus personagens, reforçando no desfecho de uma de suas brilhantes falas que é um ator, não uma estrela de cinema, algo que não precisamos da afirmação para ter certeza, basta olhar panoramicamente a sua belíssima trajetória.

A Jornada de Um Diretor: Os Bastidores de Dragão Vermelho (Making Red Dragon, EUA – 2002)
Diretor: Stephen J. Morrison
Roteiro: Stephen J. Morrison
Elenco: Brett Ratner, Anthony Hopkins,  Edward Norton, Ralph Fiennes, Dino de Laurentiis, Martha de Laurentiis, Danny Elfman, John Douglas, Mary-Louise Parker, Emily Watson, Dante Spinotti
Duração: 73 minutos

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