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Crítica | A Lâmina no Corpo

por Luiz Santiago
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A Lâmina no Corpo possui muitas semelhanças com filmes da fase inicial do giallo. Filmes que faziam a transição da narrativa, da construção cênica e das características góticas para esse novo jeito de mostrar crimes sequenciais, uma torrente de mistérios e alguma investigação formal ou informal em andamento. De alguma forma, a obra nos lembra O Monstro de Veneza (1965), mas consegue construir a sua própria identidade, reforçando o papel do assassino misterioso e da trilha de tragédias que ele deixa por onde passa.

Ambientado nas décadas finais do século XIX (algo entre 1870 a 1890), o enredo nos leva para a clínica do Doutor Dr. Robert Vance (William Berger), profissional de métodos questionáveis e clara genialidade, o que o coloca próximo ao patamar de um cientista louco sendo ajudado por uma pessoa de caráter questionável ou atormentado por uma figura monstruosa. No caso dessa obra, os dois modelos de pessoas aparecem, causando uma excelente e aterradora impressão no espectador, ajudando a montar a fauna estranhíssima de pacientes e funcionários que moram nessa mansão, nessa clínica macabra no interior do país.

No livro Italian Gothic Horror Films, 1957-1969, de Roberto Curti, há um comentário do corroteirsita Ernesto Gastaldi (figurinha carimbada no gênero desde os primeiros anos, estando envolvido em outros dois gialli antes desse, a saber, Libido e A… de Assassino) dizendo que quem verdadeiramente dirigiu A Lâmina no Corpo foi Lionello De Felice, apesar deste não ser oficialmente creditado pelo trabalho e apenas Elio Scardamaglia, que pegou algumas poucas cenas finais, aparecer como diretor da fita. O estilo de ambos, porém, não é forte o bastante para se destacar em meio ao restante, de modo que o filme desemboca no mar dos gialli com interessante direção de arte, direção fotografia e notáveis figurinos encobertos por uma história e uma mão-guia bastante frágeis.

O que impede o roteiro de Gastaldi e Luciano Martino de crescer é o constante desvio do motivo mais interessante do enredo (os assassinatos de mulheres) em prol de indicações eróticas, de estranhos romances e de um passado macabro dos personagens, tudo isso marcado por eventos trágicos na vida do Doutor Robert Vance. As reticências em torno da nova enfermeira, todo o contexto jogado fora em torno da nova hóspede da clínica (sim, uma hóspede e não paciente) e as mulheres estranhas que cercam o Doutor ajudam a preencher o lado passional dessa atmosfera de terror gótico que se costura de modo falho ao giallo. Aliás, a presença dos pacientes na clínica também representam um certo desvio narrativo, mas esse chega a ser interessante e, na maior parte das vezes, consegue se disfarçar como caminho para alguns “motivos de crime“. É na atmosfera gótica e sentimental que o texto se perde e não consegue decidir-se que caminho deve tomar.

O final é uma boa prova disso. Após o clímax da trama (e é necessário destacar aqui o excelente trabalho da equipe de maquiagem para o tal “monstro do andar de cima“), o roteiro desiste de sustentar a face mais sombria da produção e dela se desvia para abraçar o amor entre “duas almas sofridas“. É um encaminhamento que dá o golpe final de qualidade em coisas que já não iam tão bem, nesse caso, estendendo as mãos para uma mistura de incoerência e fuga de tema… justamente no desfecho da fita.

A Lâmina no Corpo (La Lama Nel Corpo / The Murder Clinic) — Itália, França, 1966
Direção: Lionello De Felice (maior parte do filme) Elio Scardamaglia (algumas cenas, na reta final)
Roteiro: Ernesto Gastaldi, Luciano Martino (baseado na obra de Robert Williams)
Elenco: William Berger, Françoise Prévost, Mary Young, Barbara Wilson, Philippe Hersent, Harriet Medin, Germano Longo, Massimo Righi, Delfi Mauro, Anna Maria Polani, Rossella Bergamonti, William Gold
Duração: 86 min.

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