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Crítica | A Lenda (1985)

Efeitos vazios.

por Kevin Rick
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A Lenda acompanha a história de Jack (Tom Cruise), um jovem inocente que vive na floresta, e sua amada princesa Lili (Mia Sara), que acabam enfrentando o Lorde das Trevas (Tim Curry), que planeja cobrir o mundo com a noite eterna após matar dois unicórnios. É o tipo de premissa que parece ter saído de um manual para fantasias genéricas, seja por seu caráter maniqueísta, seja pela maneira como a narrativa segue todos os clichês imagináveis de obras desse tipo. O antagonista é até mesmo um grande demônio, para tudo ficar completamente evidente.

A abordagem batida não é necessariamente ruim, porém. Não me importo tanto com contos de fadas com premissas comuns, desde que a execução encante – O Senhor dos Anéis está aí como exemplo máximo do potencial da simplicidade de uma história fantasiosa. Penso que Ridley Scott notou o roteiro genérico e canastrão de William Hjortsberg, mas embarcou na produção para tentar criar algo visualmente memorável, revestindo a história simples com um belo espetáculo. Para seu mérito, ele até consegue elevar a experiência estética do filme, mas nada que compense um material extremamente fraco.

Os efeitos práticos são um show à parte, especialmente a maquiagem e o design do antagonista, também com destaque para a interpretação de Curry, extremamente divertido e imponente em seu clichê ambulante de chifres. Entre goblins, fadas e anões, temos uma variedade de criaturas visualmente interessantes, além de sets criativos, seja na beleza de uma floresta ou nos cenários meio medievais, meio Espada e Feitiçaria compostos pela direção artística. Acaba lembrando filmes da época como Labirinto – A Magia do Tempo ou O Cristal Encantado que buscavam essa magia com o universo e seus indivíduos. Também queria ressaltar a trilha sonora da versão de diretor, que traz partituras líricas com instrumentos clássicos, apropriadas para o enredo, mas a versão americana é ironicamente cômica com sua trilha sonora mais “metal”.

No entanto, diferente dos filmes citados, falta um certo charme para A Lenda. A mitologia da obra, por exemplo, é extremamente mal desenvolvida, começando pela maneira abrupta que somos jogados na história. Não temos nenhum tipo de profecia ou quaisquer outros padrões narrativos para embarcar a audiência na trama e no que é esse mundo – a versão de diretor, com meia hora extra, tem mais contexto, mas nada realmente substancial. A narrativa é por muitos momentos confusa, atirando os personagens de um lado para o outro sem nos envolver na aventura, algo perceptível na montagem desconjuntada e cortes de cenas abruptos. A culpa também está na direção de Scott, pouco imaginativo em termos de set-pieces e momentos de ação que vão além de mostrar os efeitos práticos da produção. Ele faz mais um passeio por locações do que realmente uma trajetória fantasiosa imersiva.

Não ajuda que Jack e Lili sejam dois protagonistas sem qualquer traço de personalidade ou química como casal. É difícil comprar o jovem como um herói, até porque ele não faz muita coisa além de caras e bocas assustadas, e também é difícil de entender o papel de donzela em perigo de Lili, que poderia muito bem não fazer parte da narrativa que nada mudaria. Sua participação soa gratuita, assim como a de muitas criaturas coadjuvantes. Falta uma distinção dramática ou simplesmente carismática para todos os personagens, deixando a audiência indiferente para seus determinados destinos.

É meio chato dizer o óbvio, mas A Lenda é um clássico caso de forma sobre substância. É uma armadilha fazer esse tipo de afirmação, pois pode passar a impressão de que o problema é a premissa simples. Não é. O problema é a falta de comprometimento do roteiro e da direção de pegar os clichês de fantasia e criar algo encantador, simpático e que seja criado para os personagens e para suas missões. Essa produção não tem esse tipo de alegria com seu universo, sobrando apenas uma qualidade técnica para seus efeitos práticos. Falta coração e charme.

A Lenda (Legend) – EUA, 1985
Direção: Ridley Scott
Roteiro: William Hjortsberg
Elenco: Tom Cruise, Mia Sara, Tim Curry, David Bennent, Alice Playten, Billy Barty, Cork Hubbert
Duração: 89 min.

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