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Crítica | A Lenda do Gavião Negro (2000)

por Bruno Cavalcanti
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Embora nunca tenha sido oficializado pela DC, as versões da Era de Prata do Gavião Negro e da Mulher Gavião parecem ser os primeiros dias de suas carreiras como super-heróis na Terra. E é este o período que vemos em A Lenda do Gavião Negro, publicada no ano 2000 com roteiro de Ben Raab com arte e capas de Michael Lark.

O enredo tem início com uma discussão do casal extraterreste decidindo sobre permanecer na Terra ou retornar a seu planeta natal Thanagar. Enquanto Katar Hol insiste que ambos podem descobrir profundos significados existenciais e até mesmo sobre suas próprias vidas ao permanecer na Terra, sua esposa Shayera defende que são estrangeiros em um planeta onde nunca serão capazes de ser tratados com igualdade, além de claro, sentir saudades de sua terra natal. O argumento é interrompido pela descoberta arqueológica de uma cripta milenar no Tibet, que despertou interesse da dupla não apenas por ser um possível artefato extraterrestre, mas também porque descobrem ser de origem Thanagariana.

Este primeiro arco narrativo é completo e pode ser lido como uma obra fechada. Nele, quase que com a ânsia e imaturidade de uma criança, vemos o Gavião Negro abrindo a cripta onde estava preso o algoz milenar de seu povo: Thasaro, o Caído. Nem mesmo os protestos desesperados de sua esposa o impediram de libertar o mais antigo mito de Thanagar. O embate então se torna frenético, repleto de cenas de ação, com belos desenhos diagramados caprichosamente para nos passar a sensação de urgência e dinamismo que as cenas mostram, até seu desfecho final, com uma revelação importante sobre a genealogia de um dos nossos heróis e o novo aprisionamento do vilão.

Os outros dois volumes funcionam como o início de um novo arco, mas continuam de onde o primeiro parou. O clímax coloca as ideias e temas previamente levantados de lado e apela para soluções literais, sem qualquer estratégia, como por exemplo derrotar uma horda inteira de zumbis apenas com ataques simples de suas armas. É bem feito de qualquer maneira, inclusive a arte que se mantém em alto nível, mas mesmo eu tendo gostado bem mais na segunda leitura, a série poderia ser melhor, mais complexa, ter soluções mais inteligentes pelo menos para o plot principal, que é a batalha final contra a divindade. Há todo um ar de grandiosidade com a exploração de vários cenários no Tibet, na América e até em Thanagar, porém toda essa ambição se resume a um não muito adequado embate entre dois heróis que voam contra um deus gigantesco e todo poderoso.

Ainda que de forma superficial, a questão religiosa também é levantada no enredo. O Gavião Negro faz o papel de homem da ciência e a Mulher Gavião o de mulher da fé e alguns diálogos são utilizados nesse embate, que não convencem muito e até soam um pouco estranhos já que estamos falando de uma história onde os deuses aparecem e conversam, negando o conceito padrão de fé.

Todo o resto, no entanto, se sobrepõe às falhas e forma uma excelente história do Gavião Negro. Os protagonistas possuem muita profundidade e você percebe o quanto um faria qualquer sacrifício pelo outro. Shay é uma personagem praticamente sem defeitos nesta história e equilibra a balança em favor da obra. É ainda muito agradável ler A Lenda do Gavião Negro por uma soma de fatores secundários, que como já foi dito, só consegui enxergar melhor na segunda leitura. Os cidadãos de Midway, por exemplo, aqui são habitantes mais reais e não parecem ser apenas fillers para encher páginas. Isso inclusive torna a cidade tão orgânica quanto Metrópoles ou Gotham. Os cidadãos conterrâneos de Katar e Shay também tem seu espaço para se mostrarem um povo nobre cuja cultura e força de caráter derivam de outros deuses benevolentes. Tanto humanos quanto Thanagarianos tem um papel fundamental no desfecho da história, sedimentando a importância dada aos personagens coadjuvantes. Tudo isso sem tirar o protagonismo do casal.

Não há como não se encantar também com as belas imagens de gaviões, falcões, aves de rapina, deuses e de todos os outros elementos da própria mitologia egípcia. Tudo magistralmente comandado por Raab, que homenageia a era de prata, resgatando a nostalgia dos quadrinhos dos anos 70, mas sem deixar de demonstrar modernidade.

Fica, no fim, a sensação de que a obra poderia ser mais do que realmente é, mas não tira a considerável quantidade de méritos que ela possui. A Lenda do Gavião Negro é uma excelente porta de entrada para conhecer melhor seu protagonista ou mesmo para quem quer ler uma boa história fora do mainstream da DC.

A Lenda do Gavião Negro (Legend of the Hawkman, EUA – 2000)
Contendo: Legend of the Hawkman #1 a #3
Autor: Ben Raab
Arte: Michael Lark
Letras: Willie Schubert
Cores: Lee Loughridge
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: 2000
Editora no Brasil: não publicada até a data de postagem da presente crítica
52 páginas (cada edição)

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