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Crítica | A Lenda dos Guardiões

por Ritter Fan
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A Lenda dos Guardiões é, até o momento, o longa “fora da curva” da filmografia de Zack Snyder. Afinal, mesmo que suas marcas registradas estejam presentes, notadamente a câmera lenta e o filtro azul, elas são usadas não só com parcimônia, como com eficiência, ou, pelo menos, mais eficiência que usualmente, sem os exageros autorais que mais parecem cacoetes e que costumam manchar suas obras. Mas é o fato de o filme ser uma animação e sobre corujas guerreiras que realmente o coloca em uma prateleira diferente do que podemos esperar do cineasta.

Baseado em uma série de livros da autora americana Kathryn Lasky que, entre a série principal e seus spin-offs, tem mais de 30 volumes, o longa conta a história de Soren (Jim Sturgess), uma jovem coruja que ainda não sabe voar direito e que adora as lendas dos chamados Guardiões de Ga’Hoole, heróis corujas de uma era passada que, juntamente com seu irmão Kludd (Ryan Kwanten), é sequestrado por corujas guerreiras que trabalham no exército do sinistro e deformado Bico de Metal (Joel Edgerton), basicamente um Hitler com penas que prega a pureza de sua raça e a necessidade de dominação de todas as corujas do mundo. Obrigado a amadurecer rapidamente e a perceber que seu irmão é muito diferente dele, Soren e a pequena corujinha Gylfie (Emily Barclay) fogem para a terra dos guardiões do título, encontrando outros interessantes personagens que se juntam a eles.

Apesar de o roteiro conseguir estabelecer com eficiência a mitologia com traços de lenda arturiana desse mundo animal, o maior problema do longa é sua velocidade. Afinal, trata-se de uma jornada de crescimento para Soren, mas o longa mais parece uma corrida de 100 metros rasos, daquela que o espectador, se piscar, acabou. E, com isso, esse amadurecimento do protagonista fica apenas para nossa dedução, sem que o espectador consiga efetivamente sentir e apreciar a evolução orgânica do personagem, algo que a montagem de David Burrows só agrava por eliminar toda e qualquer sensação de passagem temporal. É como se Soren fosse capturado em uma noite e na noite do dia seguinte o filme já chegasse ao seu fim na contagem interna de tempo, o que inclusive torna a progressão narrativa um tantinho confusa, com personagens coadjuvantes potencialmente curiosos, inclusive do lado vilanesco (e não falo aqui de Bico de Metal, pois ele é um arquétipo e, como tal, não precisa de mais nada), com quase nenhum desenvolvimento mensurável.

Mas Zack Snyder é, inegavelmente, um mestre com visuais e seu primeiro e até agora único trabalho 100% CGI (300 é quase isso…) é deslumbrante nesse não desimportante quesito. Cada coruja, mesmo as de mesma raça, tem características que a diferenciam, seja a cor das penas, sejam os detalhes dos rostos ou elementos externos, como marcas e pinturas, criando personagens visualmente memoráveis como a imponente Nyra e o esculhambado Ezylryb (respectivamente os veteranos Helen Mirren e Geoffrey Rush em exemplares trabalhos de voz). As sequências de voo são estupendas, com uso cirúrgico de slow motion que só acentuam a beleza delas, assim como o design dos reinos das duas facções principais, o primeiro basicamente emulando o Inferno e, o segundo, o Paraíso.

Mas se o roteiro corre com a história, o mesmo acontece com a batalha climática que conta com uma arma secreta dos vilões que é algo que parece deslocado do restante da história, ainda que ela seja introduzida logo cedo na narrativa. Fica tudo muito fácil e conveniente para Soren salvar o dia, algo que não é spoiler pois faz parte da infraestrutura desse tipo de história, o que retira um pouco o perigo e urgência do conflito entre corujas no aspecto macro e entre irmãos no que se refere ao distanciamento do protagonista de Kludd. Faltou calma para trabalhar um final menos cinético e mais dramático para colocar o drama em mais evidência do que as competentes sequências de ação.

Mesmo sofrendo de velocidade excessiva ou, talvez, melhor dizendo, uma falta de distribuição mais equânime entre construção, desenvolvimento e desfecho, A Lenda dos Guardiões deslumbra por seu apuro estético que geram lindas sequências de voo e de ação – o voo durante uma tempestade em pleno mar é espetacular -, o que mantém o interesse pela história padrão de bem contra o mal até o fim. Snyder, apenas em seu quarto longa, mostra que não tem tempo ruim para ele e que até uma animação com corujas fotorrealistas ele consegue transformar em algo atraente para crianças e adultos.

A Lenda dos Guardiões (Legend of the Guardians: The Owls of Ga’Hoole – EUA, 2010)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: John Orloff, Emil Stern (baseado em romances de Kathryn Lasky)
Elenco: Jim Sturgess, Emily Barclay, Ryan Kwanten, David Wenham, Anthony LaPaglia, Helen Mirren, Geoffrey Rush, Joel Edgerton, Hugo Weaving, Adrienne DeFaria, Miriam Margolyes, Sam Neill, Sacha Horler, Abbie Cornish, Richard Roxburgh, Essie Davis, Deborra-Lee Furness, Barry Otto, Angus Sampson, Leigh Whannell, Bill Hunter, Gareth Young
Duração: 97 min.

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