Na sua estreia, A Lista Terminal chamou atenção por trazer Chris Pratt em um papel razoavelmente diferente do que estamos acostumados a vê-lo: longe da comédia e da leveza dos Guardiões da Galáxia ou mesmo do drama de ação mais convencional, aqui ele encarna um personagem mais sombrio, paranoico e movido pela dor. Pratt é James Reece, comandante de um esquadrão de SEALs que sobrevive a uma emboscada apenas para descobrir que não perdeu apenas seus companheiros, mas também, pouco depois, sua família. A partir desse trauma, a narrativa o coloca em uma espiral de vingança contra corporações, políticos e agentes corruptos.
No papel, a premissa tinha todos os elementos para se tornar um thriller marcante, com militares de elite, conspiração governamental, crítica ao complexo industrial-militar e uma narrativa que mistura ação tática com dilemas psicológicos. No entanto, o resultado é uma série que, apesar de alguns bons momentos, cai em muitos lugares-comuns do gênero, que tem uma trama confusa em suas reviravoltas e que se arrasta em um tom monocórdio que nunca chega a justificar seus oito episódios.
O que mais incomoda em A Lista Terminal é justamente a forma como a série confunde densidade com seriedade excessiva. Chris Pratt se esforça para dar camadas a Reece, mas sua interpretação raramente escapa do semblante carrancudo e da voz grave, num estereótipo militar que acompanha o caminho previsível da história em uma jornada de vingança repetitiva. O que temos é uma linha reta de fúria, em que cada episódio repete o ciclo: uma pista nova, um nome adicionado à lista e uma execução.
A estética também reforça essa sensação de cansaço. A fotografia escura e granulada tenta dar um ar “realista” e intenso, mas logo se torna uma muleta visual, usada para disfarçar a falta de variedade visual. Em algumas sequências, como a perseguição urbana ou os ataques contra os alvos de Reece, há um vigor técnico, com direção de ação que lembra jogos táticos de guerra, o que dá certo fôlego à produção em sua tentativa de atingir o público alvo de quem gosta de pancadaria e tiros. Porém, até esses momentos acabam engolidos por uma narrativa que se estica mais do que deveria, que se mistura numa conspiração boba bem rasa, algo que talvez funcionaria como um filme de duas horas simples, mas se perde aqui em oito capítulos redundantes.
Outro ponto fraco é o conjunto de personagens secundários. A jornalista Katie Buranek (Constance Wu) e o seu ex-companheiro Ben Edwards (Taylor Kitsch) poderiam ser contrapontos interessantes para Reece, mas suas trajetórias são pouco exploradas, servindo mais como dispositivos narrativos do que como figuras bem construídas (são os velhos arquétipos do agente da CIA malandro e a jornalista sem medo de nada). Até mesmo a grande revelação envolvendo Edwards, amigo de longa data que se revela traidor, soa mecânica, como um recurso de roteiro ao invés de uma situação construída organicamente. O mesmo vale para os vilões corporativos e políticos, que seguem arquétipos tão óbvios que mal oferecem resistência dramática.
Dito isso, é preciso reconhecer que a obra entrega alguns acertos suficientes para ser assistível. A ideia central da lista é simples, mas eficiente para dar andamento à conspiração e à trajetória de Reece. Há também um interesse em discutir temas como o uso de soldados como cobaias em experimentos farmacêuticos e o cinismo do alto escalão militar e governamental, tópicos pertinentes, ainda que tratados de forma superficial. Além disso, mesmo limitado, Pratt consegue sustentar a série com carisma físico, e os fãs do gênero militar encontram aqui um banquete de tiroteios, táticas de infiltração e sequências de combate bem coreografadas.
No entanto, no balanço final, A Lista Terminal não passa de um thriller de vingança inflado. É uma série que leva a si mesma a sério demais, pra ser bem sincero. Funciona como passatempo para quem busca ação crua e violência estilizada, mas se perde quando tenta ser um estudo de personagem ou uma crítica política. O que poderia ser um mergulho perturbador na mente de um homem devastado vira mais um exercício de estilo sombrio sem alma, com episódios longos demais e um roteiro que insiste em arrastar uma história que já nasce repetitiva.
A Lista Terminal (The Terminal List) – 1ª Temporada | EUA, 2022
Criação e desenvolvimento: David DiGilio
Direção: Antoine Fuqua, Ellen Kuras, M. J. Bassett, Frederick E.O. Toye, Tucker Gates, Sylvain White
Roteiro: David DiGilio, Daniel Shattuck, John Lopez, Olu Odebunmi, Tolu Awosika Max Adams, Brooke Roberts, Lisa Long, Hennah Sekander
Elenco: Chris Pratt, Constance Wu, Taylor Kitsch, Riley Keough, Arlo Mertz, Jeanne Tripplehorn
Duração: 462 min. (08 episódios)
