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Crítica | A Loja da Esquina

por Leonardo Campos
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Nos primeiros instantes do drama A Loja da Esquina, dirigido por Ernst Lubitsch, tendo como direcionamento, o roteiro de Samson Raphaelson, baseado na peça homônima de Miklós Laszló, percebemos que estamos diante de uma produção sobre a solidão, sentimento que não possui período específico para se manifestar, mas atenua-se nos festejos natalinos, principalmente para aqueles que vivem sem as configurações de família apresentadas pelo cinema hollywoodiano clássico, geralmente com um grupo de pessoas a dividir a ceia natalina farta diante da troca de afetos e presentes.

Importante também é perceber a importância da compreensão do subtexto que permeia um filme clássico, conferido anos após a sua realização e estabelecimento no imaginário. A Loja da Esquina não faz referências apenas à solidão e melancolia de indivíduos isolados, mas também é uma alegoria da desesperança coletiva oriunda do pós-guerra (Primeira Guerra Mundial), Crise de 1929 e manifestações políticas e sociais que previam o estabelecimento dos conflitos bélicos da Segunda Grande Guerra Mundial. Lançado em 1940, a produção traz tudo isso embalado metaforicamente em seu arco dramático sobre linear, sem grandes surpresas e reviravoltas.

Ao longo de seus 99 minutos, a trama busca descortinar a história de Alfred (James Stewart), um dos mais antigos e dedicados funcionários da tal loja de confecções e outros itens de casa, situada na esquina da rua. Exposto dentro das dinâmicas de seu perfil social, sem traços que nos permita mergulhar psicologicamente em outras dimensões, Alfred é contido, mas não disfarça para o espectador o seu interesse amoroso por Klara (Margareth Sullivan). Ela é a garota com quem ele troca correspondências, mas ambos sequer desconfiam que os destinatários do amor mútuo fazem parte do mesmo ambiente de trabalho e, cotidianamente, trocam desaforos e constantes desentendimentos.

As farpas são diárias, trocadas por “balões de corações” apaixonados quando a trama se desenrola e o nó da narrativa é desatado. Diante dos conflitos, a produção nos conta uma história sobre resiliência, perdão, amor ao próximo e volta por cima de personagens que para a exaltação, precisaram amargar a humilhação. Tendo como proprietário da loja o Sr. Matuschek (Frank Morgan), os protagonistas e coadjuvantes sofrem diariamente com o homem que pensa apenas nas finanças e no lucro, sem deixar espaço na sua vida para outros sentimentos nobres, afinal, não sejamos hipócritas, sem dinheiro para as questões básicas no bojo do capitalismo, como um ser humano pode registrar a sua existência de maneira digna?

Alfred vai passar por esses questionamentos quando é demitido de maneira injusta e aleatória pelo seu chefe, após uma breve discussão por conta de opiniões adversas. E é justamente quando o personagem descobre quem é de fato a mulher que ele idealiza para ser o seu amor. As coisas inicialmente são difíceis, mas tal como a sua versão contemporânea, Mensagem Para Você, lançada em 1999, o clima natalino não é prejudicado pela maldade dos humanos que acabam se regenerando e exercem “aquilo” que o Natal pede, isto é, o arrependimento, o perdão, o pedido de desculpas, etc.

Em seu processo narrativo, A Loja da Esquina conta com a direção de fotografia de William M. Daniels, responsável por cenas que de maneira geral, situam-se no ambiente interno da loja, com brevíssimas tomadas externas para representar a rua, espaço que em suas aparições, é composta de diversos figurantes a representar a busca pelo consumo na semana de festejos natalinos, pessoas que caminham pela neve providenciada pela equipe de Cedric Gibbons e Edwin. B. Willis, diretor de arte e cenógrafo, respectivamente. Eles são cuidadosos com a gestão dos espaços e adereços que adornam a narrativa conduzida musicalmente por Werner R. Hymann.

Simples e com uma mensagem edificante, a produção é a típica estrutura de filme natalino, retomado pelos produtores de cinema e televisão desde então, ao lançar as suas narrativas anuais sobre o tema que é um subgênero da comédia e do drama. É uma data que tais realizações já tentaram reforçar o significado, isto é, período de comunhão e solidariedade entre os seres humanos diante de um mundo repleto de situações desiguais. Com a força midiática do consumismo e do materialismo, então, a data muitas vezes é esquecida, em prol da conjugação do verbo “comprar”, muitas vezes responsável por sublimar o “amar”.

A Loja da Esquina (The Shop Around The Corner/Estados Unidos, 1940)
Direção: Ernst Lubitsch
Roteiro: Ben Hecht, Miklós László, Samson Raphaelson
Elenco: James Stewart, Margaret Sullavan, Frank Morgan, Joseph Schildkraut, Sara Haden, Felix Bressart, William Tracy, Inez Courtney, Sarah Edwards, Edwin Maxwell, Charles Halton
Duração:  91 min

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