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Crítica | A Louca! Louca História de Robin Hood

por Ritter Fan
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Depois de tentar algo diferente com Que Droga de Vida!, em 1991, Mel Brooks retorna à relativa segurança da paródia de filmes com A Louca! Louca História de Robin Hood, longa que, em geral, navega na fama do lendário personagem britânico, mas que se aproveita mais diretamente da versão então bem recente – de apenas dois anos antes – Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões, sucesso dirigido por Kevin Reynolds e estrelado por Kevin Costner e Morgan Freeman, com aquela música-chiclete de Bryan Adams que eu sei que você está escutando em sua cabeça neste momento, isso se não estiver cantarolando.

Brooks, porém, não consegue chegar ao nível de seus clássicos do gênero como O Jovem Frankenstein, Alta Ansiedade ou mesmo S.O.S.: Tem Um Louco Solto no Espaço, que demorou a cair no gosto popular, ficando ali em um meio termo que é até simpático, mas que conta com um humor domado, básico e quase que completamente sem graça, com alguns momentos mais interessantes como Dom DeLuise parodiando Marlon Brando, em O Poderoso Chefão, ou o uso de caracterizações perfeitas como Roger Rees vivendo o Xerife de Rottingham na versão Alan Rickman do longa de Reynolds ou a ponta silenciosa de Joe Dimmick – igualzinho ao Clint Eastwood! – como Dirty Ezio, fusão de Harry Callahan com O Homem Sem Nome. É como se o cineasta tivesse perdido sua veia mais ferina, que aposta as fichas em comédia mais picante, ainda que ele passe longe da qualidade abissal de História do Mundo – Parte I.

Estruturalmente, o roteiro segue a linha do longa de Kevin Reynolds, lidando com o retorno de Robin de Loxley (Cary Elwes) à Inglaterra, onde primeiro faz amizade com Ahchoo (Dave Chappelle em seu primeiro filme), filho de Asneeze (Isaac Hayes), que ele conhece na prisão em Jerusalém, e, depois, descobre que perdeu tudo para os impostos determinados pelo Rei João (Richard Lewis) e recolhidos pelo xerife, reunindo, ato contínuo, um grupo de campesinos que ele treina para lutar contra a opressão. Ao basicamente refazer o longa de 1991, Brooks é feliz ao manter a coesão de seu próprio longa, sem permitir a fragmentação da história em uma sucessão de esquetes ou gags, evitando, com isso, repetições excessivas (há várias gags recorrentes, especialmente a do cinto de castidade de Lady Marion, vivida por Amy Yasbeck, mas elas tendem a não cansar) e uma gangorra narrativa que poderia muito facilmente desmontar o filme.

Por outro lado, Brooks e seus co-roteiristas Evan Chandler e J.D. Shapiro jogam seguro e, mesmo bebendo de fontes clássicas como As Aventuras de Robin Hood, com Errol Flynn, e até mesmo da animação da Disney de 1973, não arriscam mais do que o minimamente necessário para não transformar suas piadas em brincadeiras unicamente voltadas para o público infantil, quiçá juvenil. E esse nem seria o problema se a intenção fosse realmente privilegiar o público mais novo, mas fica evidente pelo flerte com nuanças mais risqué – como é o caso do cinto de castidade – que o objetivo era mesmo fazer comédia adulta.

Aliás, para provar meu ponto, apesar de não gostar de fazer comparações com outros filmes, eu a farei, pois a própria escalação de Cary Elwes como o personagem titular convida a crítica a enveredar por esse caminho, já que o ator, seis anos antes, encarnara Westley, em A Princesa Prometida, adaptação do livro de William Goldman (por ele mesmo, aliás), personagem obviamente inspirado tanto visual, quanto espiritualmente por Errol Flynn. Se puxarmos pela memória, lembraremos que A Princesa Prometida pode ser muito facilmente classificado como puro besteirol que mira no público mais jovem, mas, mesmo assim, ele consegue se livrar dessas amarras e se superar como uma comédia que é capaz de aninhar confortavelmente os espectadores de todas as idades, sem vergonha de se o que é. O longa de Mel Brooks, por seu turno, não parece ser nem uma coisa, nem outra, não mergulhando na pura bobagem e nem trabalhando humor de forma mais escaldante.

No entanto, A Louca! Louca História de Robin Hood, penúltimo filme da relativamente curta carreira de Mel Brooks como diretor, não desagrada. É apenas uma bobaginha inofensiva que levará a alguns sorrisos, quiçá a algumas breves gargalhadas e vários momentos “ahá” de detecção de referências mil, sem que, porém, deixe sua marca para além do momento em que os créditos começam a subir. Poderia ter sido mais, bem mais, só que Brooks parece ter mirado em alvos demais ao mesmo tempo, sem focar em um só, jamais acertando na mosca.

A Louca! Louca História de Robin Hood (Robin Hood: Men in Tights – EUA/França, 1993)
Direção: Mel Brooks
Roteiro: Mel Brooks, Evan Chandler, J.D. Shapiro
Elenco: Cary Elwes, Richard Lewis, Roger Rees, Amy Yasbeck, Dave Chappelle, Mark Blankfield, Eric Allan Kramer, Matthew Porretta, Isaac Hayes, Tracey Ullman, Patrick Stewart, Dom DeLuise, Steve Tancora, Joe Dimmick, Dick Van, Mel Brooks, Megan Cavanagh
Duração: 104 min.

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