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Crítica | A Maldição da Casa Winchester

por Gabriel Carvalho
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A gigantesca filmografia de Robert De Niro é invejável. O Poderoso Chefão: Parte II já era suficiente para o seu currículo manter-se relevante pelas décadas que viriam. Contudo, De Niro, por muito tempo, foi um ator que não se contentava com o passado, imortalizando-se também em obras como Era Uma Vez na América e Os Bons Companheiros. Todavia, mesmo sendo o ilustre protagonista de clássicos como Taxi Driver e Touro Indomável, as escolhas profissionais do ator nos últimos anos são, no mínimo, curiosas. A busca por papéis menos exigentes é a única explicação plausível para De Niro estrelar a comédia – bastante problemática – Tirando o Atraso. O futuro irá dizer com mais clareza se esse também é o caso de Helen Mirren. Uma dama, literalmente, que arranca, com A Maldição da Casa Winchester, um dos seus piores trabalhos. Será possível que um filme desse tenha conseguido ser ao menos divertido para a talentosíssima atriz? A nossa dama Helen Mirren até que tenta, arduamente, se sobressair em suas falas, mas o texto dos Irmãos Spierig e de Tom Vaughan não oferece nada à atriz que não seja uma completa burrice narrativa. Em muitos momentos, é imensa a sensação de que a atriz está lendo as suas linhas de diálogo, as quais, na maioria das vezes, não dizem nada suficiente para que o espectador seja transportado a outro lugar ou sentimento inédito.

A principiar demais instâncias críticas sobre a fita, também encontramos um terror enormemente tradicional, preenchido de sustos incessantes, que nos convida a entrar em uma casa mal-assombrada, diferente na teoria, mas genérica na prática. O filme consegue tornar o impossível possível. O lar dos Winchester, aliás, realmente existiu, com seus inúmeros quartos, corredores infinitos para o nada e entradas secretas enigmáticas, sendo parte do dia-a-dia de construção dos homens que trabalhavam para Sarah Winchester, a viúva de um famoso produtor de armas, a qual, no presente momento do enredo, tem aparentes ligações ao que chamamos de sobrenatural. No caso, até essa estética impressionante da casa, expressionista, torna-se subvalorizada, apesar de ter de ser notado, para enxergarmos a análise positivamente na medida do possível, um design de produção melhor acabado do que o tratamento geral propriamente dito. A Maldição da Casa Winchester, diferente de filmes de terror mais descerebrados, ousa trazer uma crítica forte à indústria das armas, com as presenças que rodeiam os personagens sendo frutos de sangue tirado por rifles Winchester. A mensagem é bastante difusa, ainda mais dada a convencionalidade de todo o produto, que, em seu cerne, não se permitiria ir além.

A história, porém, não é contada sob o ponto de vista de Sarah, mas o de Eric Price (Jason Clarke), médico contratado para fazer uma avaliação psiquiátrica na milionária, em razão de homens mais gananciosos que ele acreditarem na senhora como incapaz de permanecer no cargo da tal companhia, produtora de armas. Com esse protagonista, mesmo que perceba-se uma interpretação boa de Jason Clarke, temos a confirmação da pobreza criativa intrínseca a essa produção. Eric Price, no final das contas, é um personagem que atende todos os clichês possíveis para uma narrativa de terror. O doutor vai a lugares que não deveria ir, enfaticamente proibidos, e se orienta por sons e situações macabras que deveriam estar assustando-o e não despertando a sua curiosidade. Mais importante que tudo isso, o paranormal deveria afetar gradualmente a sua mudança de percepção à realidade quando, o que ocorre, é o completo contrário. Embora seja dito, através da própria Sarah, que ela se permite passar por constantes experiências espirituais, o personagem de Clarke continua insistindo que tudo não passa de devaneios causados pelo uso de drogas, provocando a ira do espectador – Eric Price, exclusive, presencia diversas ocasiões “apavorantes”, demoníacas, mas continua a se render a suas justificativas iniciais, operantes no começo, mas cegas adiante.

Ademais, como qualquer filme de terror que se preze a ser clichê, a criança da trama é, novamente, a personagem possuída por demônios. O background existe, nem que seja expositivo, para sustentar a dor de Marian Marriott (Sarah Snook); Snook se sai consideravelmente bem. As regras de “universo”, no entanto, são criadas à medida que soluções surgem em pauta, não dando espaço para o filme respirar em momento algum, prejudicando o o seu ritmo – que tem um terceiro ato muito esticado. Outrossim, há segmentos que abusam do protagonismo, como nas tentativas de um personagem armado tentar matar um outro, convenientemente fracassando, apesar de estar extremamente perto do alvo. Para finalizar, é inegável a existência de uma história interessante em Winchester – Eric Price tem um envolvimento instigante com as amarras envoltas de Sarah -, mas também é inevitável o senso de que faltou uma mão de terror mais experiente, que soubesse trabalhar os elementos do gênero com sagacidade. A obra, sem isso, vira um desfile de clichês, costurados uns aos outros sobre um tecido promissor, tanto narrativamente quanto esteticamente, mesmo distante da originalidade que Corra!, por exemplo, trouxe ano passado. Mormente, A Maldição da Casa Winchester é um filme preso a costuras de gênero ultrapassadas.

A Maldição da Casa Winchester (Winchester) – EUA/Austrália, 2018
Direção: Michael Spierig, Peter Spierig,
Roteiro: Michael Spierig, Peter Spierig, Tom Vaughan
Elenco: Helen Mirren, Jason Clarke, Sarah Snook, Angus Sampson, Finn Scicluna-O’Prey, Laura Brent, Tyler Coppin, Eamon Farren
Duração: 99 min.

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