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Crítica | A Maldição da Floresta

por Guilherme Coral
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estrelas 4

O terror é um gênero que há muito caiu em um limbo existencial, no qual a grande maioria das produções acabam sendo, no máximo, divertidas, sem acrescentarem nada ou até mesmo permanecerem em nossas memórias por muito tempo. Dito isso, o ano de 2016, surpreendentemente, conseguiu nos trazer alguns bons filmes de horror, como Invocação do Mal 2, Águas Rasas e O Homem nas Trevas, três obras norte-americanas que conseguiram sair dessa mesmice. Vamos sair agora do continente e viajara para a Grã-Bretanha, focando em A Maldição da Floresta, um filme que, à priori, soa bastante clichê, mas que consegue nos oferecer alguns elementos interessantes.

O roteiro de Corin Hardy, Felipe Marino nos conta história de Adam (Joseph Mawle) e Clare (Bojana Novakovic), um casal que acaba se mudando para uma casa no meio de uma floresta da Irlanda junto com seu bebê, em virtude do trabalho do marido. A trama foge do comum e já nos traz a família já estabelecida ali há um mês e desde que se mudaram são acautelados pelo seu vizinho, Colm (Michael McElhatton, o Roose Bolton de Game of Thrones), dizendo que eles estão invadindo o território da floresta e correm perigo por isso. Pouco sabiam, contudo, que os avisos de Colm não eram ameaças e sim uma genuína forma de deixá-los cientes do que vive dentre as árvores.

Inicialmente a premissa não foge absolutamente em nada do que já vimos em centenas de filmes de terror. A velha história da família que se muda para uma casa evidentemente problemática já foi vista em centenas de obras por aí, o que diferencia A Maldição da Floresta, todavia, é a forma como utiliza a mitologia da região para construir as criaturas presentes na natureza ao redor do casal. Os hallows, como são chamados, são construídos de forma verdadeiramente aterradora, com um design que traz calafrios ao espectador. Evidente que, com a maior exposição deles em tela, o impacto acaba se perdendo – um dos defeitos dos trechos finais do filme, que poderiam utilizar mais a escuridão para manter o medo na audiência, ao invés de transformar a narrativa em algo mais fantasioso que de terror propriamente dito.

É interessante também como a obra consegue se manter em um ritmo adequadamente acelerado durante a maior parte da projeção, contornando muitos dos clichês presentes no gênero, como a recusa em se mudar da casa. Aqui, assim que as coisas começam a fugir do controle, eles já decidem sair dali: um genuíno sopro de sensatez nos personagens, geralmente, estúpidos do terror. Essa cadência, porém, acaba sendo prejudicada quando chegamos próximo ao fim do filme, que é desnecessariamente longo e, como dito antes, apenas desconstrói a atmosfera assustadora estabelecida anteriormente. Felizmente os dois atores principais conseguem sustentar a história, ainda que Bojana Novakovic grite de forma bastante estranha aqui e lá.

Outro ponto a ser notado na obra é a mistura de elementos “científicos” com os mitológicos. Mais especificamente o fungo phiocordyceps camponoti-rufipedis, que já aparecera anteriormente no mundo do entretenimento através de The Last of Us. Assim, todo o lado fantástico da história acaba ganhando um pé na realidade – não que a fantasia vá embora totalmente, mas ela passa a pedir menos de nossa suspensão de descrença. Além disso, é muito mais assustador quando paramos para pensar que o fungo existe de verdade e consegue controlar o cérebro de uma espécie específica de formigas.

Contribuindo para a criação desse clima de forma essencial, temos a direção do estreante Corin Hardy. Neste seu primeiro longa-metragem ele aposta fortemente na antecipação, não tem medo de manter uma câmera estática e realizar inúmeros closes a fim de amplificar a tensão. Os inserts de close-ups no olho de Adam ou nas células sofrendo mutação criam um nítido desconforto no espectador, nos deixando na ponta da cadeira em quase todo o filme. A montagem, ao utilizar planos mais longos intercalados pontualmente por alguns bastante curtos, consegue sustentar todo o suspense, garantindo, portanto, nossa imersão.

A Maldição da Floresta é um terror, portanto, que somente erra em seu final super-expositivo, mas isso não é razão para não guardarmos essa obra em nossas memórias de forma bastante positiva. 2016 nos entrega mais um ótimo filme de terror, que consegue se diferenciar das massas pelo seu apoio na mitologia irlandesa. O gênero ganha mais um sopro de vida através de um filme simples, mas, em sua maior parte, muito bem executado.

A Maldição da Floresta (The Hallow) – Reino Unido/ EUA/ Irlanda, 2015
Direção:
 Corin Hardy
Roteiro: Corin Hardy, Felipe Marino
Elenco: Joseph Mawle, Bojana Novakovic, Michael McElhatton, Michael Smiley, Gary Lydon
Duração: 97 min.

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