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Crítica | A Maldição das Aranhas (1977)

por Leonardo Campos
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Aranhas são seres com extenso legado na cultura popular, criaturas que provocam repulsa em muitas pessoas que sequer conseguem imaginar uma interação com mínima distância. Em A Maldição das Aranhas, lançado em 1977, as tarântulas mais uma vez ocupam o espaço de antagonistas da trama. Tal como a reincidência da cascavel, constantemente atuante nos filmes de serpentes assassinas, a espécie aracnídea aqui é a mais cotada para os filmes de terror, haja vista o seu visual assustador. Sob a direção de John B. Cardos, cineasta guiado pelo roteiro de Richard Robinson e Alan Caillou, acompanhamos a investigação de uma misteriosa sequência de mortes de animais numa fazenda, aniquilados de maneira agressiva, consumidos por algo que parece ter devorado suas partes. Logo mais, os personagens descobrirão que a região corre perigo, haja vista a chegada de uma horda de tarântulas migratórias, sedentas por destruição. Produzido para o circuito de exibição televisiva, a produção também ganhou distribuição em vídeo.

Quem assume o protagonismo em A Maldição das Aranhas é o veterinário Rack (William Shatner), um homem bondoso, arquétipo do herói certinho, sem imperfeições. Ele trabalha, cuida da irmã viúva e de sua sobrinha, agora ainda mais, depois que essa cidade situada no interior do Arizona, precisa enfrentar os terríveis problemas ocasionados por estes aracnídeos devastadores. Sem mudança genética ou influências alienígenas, as tarântulas do filme atacam dentro de seus padrões normais, isto é, não crescem vertiginosamente ou agem de maneira burlesca, como geralmente acontece nos filmes do subgênero horror ecológico. A produção é tomada pela licença poética dos realizadores, a nos pedir constantemente a suspensão da descrença, haja vista os hábitos originais desta espécie, totalmente contrários ao que contemplamos no filme. Canibais, elas dificilmente estariam unificadas, tampouco destinada ao enfrentamento dos humanos.

As tarântulas “não curtem” interação com a humanidade e sempre que há alguma oportunidade, deslocam-se para evitar a mesma “via”. Incidentes geralmente envolvem os seus pelos, responsáveis por causar irritação na pela dos seus possíveis predadores. Mas é só. No entanto, como sabemos, essa é uma experiência fílmica, mergulhada nas entranhas da ficção desconectada com qualquer preocupação realista. E se não adentramos nestes pormenores, A Maldição das Aranhas funciona bem como filme de horror. Os bichos atacam constantemente, há um rastro de horror e situações humana igualmente apavorantes, numa narrativa focada na ação e em colocar os seus personagens em perigo. Em seus ataques, as tarântulas envolvem as vítimas numa profusão de teia que lembra um casulo, estabelecendo um padrão que movimenta a história e dinamiza as sequências de horror, sem deixar apenas os mortos aleatórios sem uma “assinatura”.

Na direção de fotografia, John Arthur Morrill se responsabiliza por criar planos que transformem as aranhas numa ameaça grandiosa, seja nos enquadramentos mais abertos, porém limitados, ora a contemplar os corpos de animais e seres humanos atacados pelos “monstros”, ora a fechar o quadro numa tarântula e deixa-la dominar todo a cena. O design de som de James Dehr reforça a presença dos bichos em cena e amplia a sensação de horror dos espectadores diante das mortes, sonoramente mais delineadas. Os efeitos especiais da equipe de Greg Auer e Jeffrey S. Farley cuidam os impactos de explosões, batidas, dentre outros desastres ocasionados pelas aranhas reais, pisoteadas aqui, para a revolta dos movimentos ativistas em defesa da natureza, perplexos com a falta de consciência ecológica dos realizadores. Sem CGI, afinal, estávamos em outra era de produção audiovisual, sem os efeitos visuais substitutivos, para o azar das tarântulas ceifadas, impedidas de contratação de dublê ou uso de miniaturas de borracha.

Ao longo de seus 97 minutos, uma mulher atira na própria mão, desesperada por causa de uma tarântula presa em seu membro superior. Sim, ela prefere explodir a mão ao tentar expelir o aracnídeo. Esta é, no entanto, uma de tantas situações que justificam a leitura psicanalítica sobre a falta de lógica dos nossos medos diante destes bichos. Noutro momento, um homem perde o controle de seu carro e despenca num penhasco depois que percebe que há, em sua caminhonete, uma aranha que decide lhe fazer alguns “afagos”. Um piloto perde o controle e choca a aeronave que comanda contra um prédio, numa situação similar ao motorista. As tarântulas realizam algumas “festas da carne”, assinando s mortes por assassinato, mas os monstros de A Maldição das Aranhas estão mais para catalisadoras de situações trágicas, tomada pela desesperança do desfecho pessimista, indicativo de abandono pelas autoridades desinteressadas na resolução dos conflitos, apontado como um incidente isolado no interior do país.

A Maldição das Aranhas (Kingdom of Spiders) — Estados Unidos, 1977
Direção: John B. Cardos
Roteiro: Richard Robinson, Alan Cailou, Jeffrey M. Sneller, Stephen Lodge
Elenco: William Shatner, Tiffany Bolling, Woody Strode, Lieux Dressler, David McLean, Natasha Ryan
Duração: 97 min.

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