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Crítica | A Mansão da Meia-Noite (1983)

Quatro cavalheiros do horror unidos para uma brincadeira afetuosa com o gênero que os tornou famosos.

por Rafael Lima
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De tempos em tempos, quando determinado subgênero do terror está em decadência, surge uma obra que o celebra ao mesmo tempo em que zomba de suas convenções. Com essa descrição talvez alguns se lembrem de Pânico (1996), e o seu comentário sobre os filmes Slasher; ou A Hora Do Espanto (1985), que tratava da decadência do subgênero do vampiro gótico. É dentro dessa categoria de filmes, que podemos incluir A Mansão Da Meia Noite, um filme que celebra, mas também se diverte com os arquétipos dos Thrillers de mansões góticas, usando para isso um elenco estrelado de cavalheiros do horror.

Na trama, Kenneth Magee (Desi Arnaz Jr) é um jovem escritor que acredita que qualquer um pode escrever uma história de terror gótica, e acaba apostando com o seu editor Sam (Richard Todd), que pode escrever um livro do tipo em vinte quatro horas. Sam consegue uma mansão gótica emprestada com um amigo para que Kenneth tenha a atmosfera e o tempo que precisa para escrever a obra, mas logo que o escritor se instala na residência, estranhos visitantes começam a chegar na casa.

Dirigido por Pete Walker, e escrito por Michael Armstrong, a partir de um romance de Earl Derr Biggers, A Mansão Da Meia Noite já começa carregado pela metalinguagem ao nos entregar um protagonista que é um escritor ciente dos clichês do gênero dos thrillers góticos, e que não é muito paciente com eles. Com isso, Walker carrega o primeiro terço de seu filme de um humor ácido delicioso, já que Kenneth está mais interessado em terminar o livro do que em descobrir quem são os estranhos que continuam aparecendo na mansão, não se importando muito com o sinistro casal de caseiros sobre os quais não foi avisado, por exemplo.

Esse ar jocoso que o roteiro adota poderia ter feito o filme cair no ridículo, se a direção não confiasse na força de seu elenco veterano, sabendo utilizá-los com destreza para dar dignidade ao projeto. Walker entende a força cultural que figuras como John Carradine, Peter Cushing, Vincent Price, e Christopher Lee possuem na tela, e sabe explorar o simbolismo desses atores sem transformá-los em caricaturas. O texto constrói de forma elegante a relação entre os personagens, de modo a tornar coerente a óbvia revelação de que a maioria das pessoas presentes naquela casa não chegaram ali por acaso, passando a trabalhar então com segredos de família e paranoia típicas das tramas do gênero. Assim, a trama vai entregando novas reviravoltas, à medida que a história vai abandonando o ar mais jocoso que vinha adotando para aderir a uma atmosfera mais lúgubre e de maior suspense.

O que não significa que o filme abandona completamente a sua natureza metalinguística, vide o casal de mochileiros que o protagonista encontra no começo do filme, e que ressurgem na segunda metade; personagens que parecem propositalmente deslocados ao representarem o terror Slasher em alta na época, contrastando com o clássico horror gótico homenageado nesta película. Pete Walker transita com desenvoltura entre os diferentes tons da narrativa, indo da comédia satírica, até o thriller de mistério estilo Agatha Christie. A direção e o roteiro também usam as diversas homenagens narrativas e estéticas aos filmes de casa assombrada; como A Casa Sinistra (1932), A Casa Dos Maus Espíritos (1959), ou A Queda Da Casa de Usher (1960), de forma orgânica, sem que as referências soem gratuitas.

Reconhecendo os aspectos simbólicos de seus signos  e naturalmente de seu elenco, o longa posiciona o casal protagonista como visitantes nesse mundo gótico, o que torna as reviravoltas finais dos últimos dez minutos completamente coerentes, mesmo que gerem uma grande quebra de expectativa, que pode irritar algunsA Mansão Da Meia Noite é uma despretensiosa e afetuosa celebração ao subgênero de casas assombradas, e aos grandes cavalheiros do horror do cinema, em um exercício metalinguístico sardônico, mas ao mesmo tempo reverente. Além disso, qualquer filme que nos dá a chance de ver lendas como Christopher Lee e Vincent Price atuando juntos, e que reconhece a beleza macabra dessa interação, merece ser conferido.

A Mansão da Meia-Noite (House of The Long Shadows), Reino Unido, 1983
Direção: Pete Walker
Roteiro: Michael Armstrong (baseado em romance de Earl Deer Biggers)
Elenco: Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing, Desi Arnaz Jr, John Carradine, Sheila Keith, Julie Peasgood, Richard Todd, Louise English, Richard Hunter, Norman Rossington
Duração: 100 Minutos.

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