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Crítica | A Menina Que Matou os Pais

por Leonardo Campos
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A versão cinematográfica de um dos crimes mais hediondos do Brasil não era para chegar sem estar envolto em polêmicas. Assim é A Menina Que Matou os Pais, narrativa que conta a história de Suzane von Richthofen, a jovem que em 31 de outubro de 2002, participou do assassinato de seus pais, mortos pelo namorado Daniel Cravinhos e seu irmão, Christian, dupla que deu cabo do plano estabelecido pela garota interessada em dar fim aos seus progenitores, considerados como obstáculos em sua trajetória. Adiada por causa dos desdobramentos da pandemia, a versão cinematográfica dos fatos foi esperada com muita ansiedade e curiosidade por parte do público e da crítica, pois o material promocional e as informações de bastidores prometiam uma história misteriosa e avassaladora, algo que ficou apenas na promessa. Dirigido por Maurício Eça, cineasta embasado pelo roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes, o filme não é uma experiência de entretenimento e arte ruim, mas peca por ser convencional, isto é, nada ousado.

Ao longo de seus 80 minutos, A Menina Que Matou os Pais cumpre os requisitos dramáticos e estéticos de uma trama básica sobre o planejamento de um crime hediondo, baseado em dados da realidade, mas se apresenta como apenas bom, quando tinha potencial para ser excepcional, ou seja, um conteúdo com potencial desperdiçado pela obviedade adotada pelo texto e sua concepção, em suma, um grande desperdício de oportunidades. É como se os envolvidos não compreendessem o potencial cinematográfico do material e preferissem ficar apenas com um produto televisivo para o formato Profissão Repórter, Globo Repórter ou o famoso Linha Direta, conhecido por trazer casos num tom sensacionalista e assustador semanalmente. Em seus atributos estéticos, a produção consegue alguns momentos inspirados, em especial, pela direção de fotografia de Jacob Solitrenick e seus enquadramentos e movimentos, mas é só.

Em linhas gerais, um filme básico e sufocado pelos próprios convencionalismos narrativos. Assim é A Menina Que Matou os Pais, narrativa sobre Suzane von Richthofen, interpretada por Carla Diaz num trabalho com bastante entrega e qualidade de atuação, garota que mora com os pais, Marísia von Richthofen (Vera Zimmerman) e Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros), além de seu irmão, Andreas von Richthofen (Kauan Ceglio). Pela ótica adotada no roteiro, esse espaço familiar oferta muito conforto e bem-estar nos quesitos materiais, mas é um terreno minado por relacionamentos intoxicados pelo consumo de álcool excessivo do pai, um homem agressivo que de acordo com os relatos da garota, tinha uma queda por abuso sexual e perversidade psicológica. Ademais, a toxicidade também parecia vir da matriarca, uma mulher que não aceitava a paixão da filha pelo namorado sem grandes pretensões intelectuais e financeiras.

Diante do exposto, com suas escolhas técnicas padronizadas, nenhuma ousadia narrativa e ritmo morno que parece um filme qualquer sobre desafios de adolescentes que querem consumar a relação amorosa, A Menina Que Matou os Pais segue o ponto de vista de Daniel Cravinhos, devidamente interpretado por Leonardo Bittencourt, também dedicado e inspirado em seu trabalho diante das telas. Ele é o jovem que ajuda a namorada a ceifar a vida dos pais implicantes e aparentemente abusivos, preocupados com o futuro da filha, face ao relacionamento da jovem com um rapaz sem grandes perspectivas. Para ajudar no crime, eles contam com o apoio de Christian Cravinhos (Allan Souza Lima), figura que reluta, mas acaba aceitando a empreitada que demarcou para sempre a sua vida. Para compreender a proposta, torna-se necessário o espectador conferir O Menino Que Matou Meus Pais. São filmes que dialogam entre si, com mesma equipe técnica e proposta dramática e estética. Ambos semelhantes em tudo, inclusive no desenvolvimento pouco ousado para uma abordagem temática tão polêmica.

A Menina Que Matou os Pais (Brasil, 24 de setembro de 2021)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy,  Raphael Montes
Elenco: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Leonardo Medeiros, Kauan Ceglio, Vera Zimmerman, Allan Souza Lima, Kauan Ceglio
Duração: 80 min.

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