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Crítica | “A Moon Shaped Pool” – Radiohead

por Pedro Borg
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Falar de Radiohead pós-Ok Computer é uma tarefa das mais difíceis. Desde o álbum de 1997, Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway oxigenaram a música pop, conseguindo levar ao mainstream um nível de experimentação e de elementos eletrônicos que antes de Radiohead nunca era cogitado como algo passível de sucesso.

Pois bem, a banda se tornou referência de música do século XXI, sendo alçada ao status de megabanda, porém nunca se comportando como uma. Sempre em busca de novos sons, cada álbum é uma nova experiência. Kid A  é uma viagem em sons sintetizados, enquanto Hail To The Thief traz um carga política junto de uma volta as raízes do rock.

Como era de se esperar, o nono e novo trabalho da banda A Moon Shaped Pool traz elementos novos ao seu leque sonoro, que aprendeu com os erros de The King Of The Limbs e trouxe ao novo trabalho experimentações musicais de trabalhos solos dos integrantes da banda feitos durante o hiato de cinco anos.

Visceral como sempre, a banda sempre espelha em seu som os dilemas pessoais vividos, mais especificamente seu líder, Thom Yorke. Em A Moon Shaped Pool, o vocalista havia terminado uma relação de 23 anos com a mãe de seus dois filhos, e Thom Yorke sendo Thom Yorke usou de sua melancolia para trazer uma dimensão nunca antes vista ao longo da carreira da banda. Se antes o Radiohead trazia um som triste e introspectivo para suas músicas, agora a melancolia é aberta, e pura. Thom Yorke, com suas letras e os ótimos arranjos de Jonny Greenwood trazem uma banda triste como sempre, mas diferente da paranoia orwelliana de antes, agora o Radiohead parece apenas ter desistido do mundo, proporcionando visão niilista como nos versos de daydreaming, uma das melhores faixas do álbum: “This goes beyond me and you (…) We’re just happy to serve you”.

Como havia dito antes, AMSP traz muitos elementos dos trabalhos solos dos integrantes da banda, e talvez a mais importante adição tenha sido o trabalho de Jonny Greenwood com a London Contemporary Orquestra. Fundada em 2008, a orquestra tem como objetivo trazer compositores modernos ao grande público, e trabalhou com Greenwood na trilha sonora de O Mestre (filme de Paul Thomas Anderson, que também dirigiu novo clipe da banda, da faixa

Daydreaming). A parceria continuou na novo álbum em uma junção que trouxe nova dimensão sonora ao Radiohead. Em Burn The Witch, faixa de abertura, o arranjo da orquestra na parte final da música dá o tom do caos e paranoia da letra que versa sobre a atual crise de imigrantes no mundo. O naipe de cordas da orquestra também dá as caras em Glass Eyes, formando um som duplamente melancólico fazendo par com  voz de Thom Yorke, que não canta, mas sim solta palavras em um tom que lembra o choro de uma criança.

Com o uso da orquestra, o Radiohead recua um pouco nas experimentações eletrônicas e aposta em um som analógico em AMSP.  Abandonando os loops infinitos de King Of The Limbs e abraçando arranjos mais complexos, a banda acerta em cheio, mesmo caminhando por terrenos fáceis de cair na obviedade e longe do “campo de ação” que normalmente segue. A faixa Present Tense surpreendentemente começa com uma levada latina, quase bossa nova, com uma “caixa de fósforo” guiando a música. É fácil escutar bandas sem afinidade com o gênero se aventurando e criando músicas insossas e formulaicas com o pretexto de estar explorando novos sons, e o Radiohead sabe disso. Para fugir do problema, a banda deixou a parte “latina” da música para a cozinha: enquanto a bateria e percussão caminham pelo groove, o resto da banda mantém a sonoridade clássica, com um coro muito bem encaixado, resultado em uma das melhores músicas do CD.

É de se admirar o trabalho de Jonny Greenwood no álbum. Além da ótima adição com a London Contemporary Orquestra, o guitarrista faz seu mais inspirado álbum desde In Rainbows. Com a diminuição de elementos eletrônicos nas músicas, os instrumentos voltam a ter maior importância nos arranjos das músicas. O violão folk de Desert Island Disk dá vivacidade incrível para a faixa, enquanto os acordes soltos e as frases tocadas com distorção em Identikit casam perfeitamente com o duo baixo e bateria que guiam a música, essa a melhor do CD.

True Love Awaits, faixa que encerra o álbum, já existia a anos, tendo figurado em diversos shows, inclusive na coletânea de ao vivos I Might Be Wrong, porém sempre com arranjos distintos. Em AMSP, a musica foi gravada em estúdio pela primeira vez, e em um arranjo intimista e sincero que, junto com sua letra, mostra Thom Yorke longe de sua faceta blasé, o apresentando pela primeira vez de maneira aberta e sincera. Yorke é conhecido por expelir seus demonios em sua música, mas em True Love Awaits o cantor vai além, realizando uma de suas mais lindas gravações. Mais um ponto para esse álbum incrível, que marca o melhor trabalho da banda desde In Rainbows.

Aumenta: Indentikit
Diminui: Glass Eyes

A Moon Shaped Pool
Artista: Radiohead
País: Inglaterra
Lançamento: 8 de maio de 2016
Gravadora: XL
Estilo: Art rock, eletrônica

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