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Crítica | A Morte Comanda o Cangaço

por Luiz Santiago
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Filme de 1960 dirigido por Carlos Coimbra, A Morte Comanda o Cangaço está na lista dos bons filmes brasileiros que retrabalharam a temática do faroeste americano, dentro do subgênero que alguns chamam de “nordestern“, mas que é mais conhecido (até onde “mais conhecido” pode ser aplicado a este termo) por feijoada western. Surfando na estrondosa popularidade de O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953), este longa da Aurora Duarte Produções Cinematográficas nos conta uma narrativa típica dos filmes e enredos ligados ao cangaço, vindo na trilha de uma série de outras produções nacionais do gênero em anos anteriores, como Da Terra Nasce o Ódio (1954), A Lei do Sertão (1956), Dioguinho (1957), A Sina do Aventureiro e Fronteiras do Inferno, ambos de 1958.

O roteiro de Carlos Coimbra, Walter Guimares Motta e Francisco Pereira da Silva começa com uma descrição do ambiente sertanejo, mesclando realidade com algumas distorções históricas, mas que servem bem ao propósito ficcional de explorar o funcionamento das comunidades no interior do Nordeste, pelo menos até quase o fim do Estado Novo. Na abertura, um narrador nos dá o contexto que precisamos: “1929. O Nordeste Brasileiro vive um de seus mais dramáticos momentos. […] Os desmandos do coronelismo, o banditismo assalariado, a imposição da vontade de poderosos chefes políticos pelo terror, criaram um clima de insegurança“.

Um dos grandes acertos do roteiro é que a grande motivação pode ser facilmente compreendida, pois se trata de legítima vingança contra um bando de cangaceiros, cujo líder é Silvério, personagem de Milton Ribeiro que mais uma vez interpreta um vilão opondo-se a um personagem vivido por Alberto Ruschel. A dinâmica entre os dois é excelente e o roteiro consegue sustentar o enredo guiado pelo mocinho e pelo bandido após o encontro inicial, mantendo-os afastados até o desfecho da fita, onde o reencontro traz o clímax do filme com uma excelente sequência de luta de facão e faca que me lembrou consideravelmente uma cena do vindouro Deus e o Diabo na Terra do Sol. É na jornada de sangue, laços, malfeitos e boas ações que o filme se desenvolve e, de maneira muito interessante, o texto não passa o tempo inteiro demonizado um lado e louvando outro, embora nunca haja uma real problematização moral para o que o bando de Silvério e o bando de Raimundo Vieira fazia.

Os excelentes figurinos aliados à fotografia de Tony Rabatoni, que destaca as paisagens da caatinga em toda a sua glória, são as maiores atrações da película, que pelo caráter de constante deslocamento, faz com que o espectador aproveite cada novidade geográfica mostrada na tela. Alguns desses lugares servem de parada para acampamento, festas, música e dança para os bandoleiros; já outros são apenas uma ameaça a ser vencida (como o espinhaço que esconde o covil de Silvério) ou um ambiente belo e desconhecido que serve de ligação entre os que buscam a justiça e aqueles que fogem dela. Mais para o final, o drama amoroso e algumas cenas com atuações bem questionáveis atrapalham um pouco a experiência, mas com a sequência final, voltamos aos trilhos e temos uma melancólica e esperançosa despedida, com mais uma bela cena de sertanejos cavalgando ao pôr do Sol. A reafirmação de uma sina para este tipo de personagem e um merecido momento de paz após uma intensa guerra.

A Morte Comanda o Cangaço (Brasil, 1960)
Direção: Carlos Coimbra
Roteiro: Carlos Coimbra, Walter Guimares Motta, Francisco Pereira da Silva
Elenco: Alberto Ruschel, Aurora Duarte, Milton Ribeiro, Maria Augusta Costa Leite, Gilberto Marques, Ruth de Souza, Lyris Castellani, Apolo Monteiro, Edson França, José Mercaldi, Leo de Avelar, Jean Lafront
Duração: 100 min.

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