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Crítica | A Morte do Demônio: A Ascensão

Terror, gore e uma motosserra.

por Felipe Oliveira
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Não precisa de muitos exemplos para falar que a tendência é que tudo está voltando. Seja em formato de série ou filme, o fio condutor tem sido por meio da emoção da nostalgia. O que justifica esse caminho é a segurança de fazer a autorreferência, embalar propostas inéditas e ainda assim, respeitar o legado dos predecessores. A primeira impressão que surge no início de A Morte do Demônio: A Ascensão, é que o roteirista e diretor Lee Cronin cogita reinventar a roda para o que se conhece da mitologia criada por Sam Raimi, mas fazendo isso da forma mais básica, como um filme qualquer de possessão — sendo a característica tomada com a câmera que se arrasta sinalizando a presença da entidade pelo recinto, o que mais nos remete ao exercício Raimi no longa original. Porém, o que Cronin precisava era de um pouco de paciência para mostrar suas reais intenções ao retornar, dez anos depois, com um novo olhar para o conceito de possessão apresentado por Raimi.

Entre fazer um novo remake ou aproveitar a métrica dos requels, é animador que Cronin opte por simplesmente fazer uma sequência para a franquia Evil Dead. E é verdade que há um pouco de tudo aqui: remake, reboot e requel, mas em nenhum momento temos um filme que se assume como alguma das formas de reimaginar a saga — a começar quando o único elemento que se encaixaria para o forro da sequência-legado seria o Necronomicon, mas que é um fator chave para a mitologia. Então, o que Cronin propõe é manter o mesmo espírito, o conceito-base trazido por Raimi e levá-lo para um novo lugar, se desafiando a deixar florestas e cabanas de lado e explorar outros meios de instaurar o caos com o terror. A julgar pela abertura do filme e como ele termina, percebe-se a semente plantada pelo cineasta para seguir com a franquia sem depender de nostalgia, mas apenas do que impulsiona a história: o Livro dos Mortos.

Vindo do terror independente, Cronin foi inteligente ao chegar com uma premissa pronta para dar seguimento a uma saga popular com boas cartas na manga. O que pode deixar sua visão um pouco duvidosa inicialmente, é a “longa introdução” que parte de uma demonstração ao terror aguardado para a inserção da família que terá que lutar contra o mal. É uma entrada que não soa interessante, no entanto, quer causar empatia com a dinâmica entre a matriarca Ellie (Alyssa Sutherland) — que logo será possuída — com seus filhos e a chegada da irmã, Beth (Lily Sullivan). A Morte do Demônio: A Ascensão passa a acertar quando a tentativa de desenvolvimento dos personagens, um subterfúgio entre o terror e drama, é esquecida e Cronin se desprende para executar sua ideia com mais entusiasmo, isto é, que diferentes pessoas podem ser arrasadas por um mal que busca o caos?

A escolha é uma família alocada em um prédio condenado em Los Angeles, até o mal ser despertado. Ter essa ambientação e como Cronin consegue se restringir nesse espaço e criar uma atmosfera claustrofóbica, é quando a sua direção começa a ganhar a forma (não semelhante a casa no original, em que cada canto Raimi fazia ser temido com sua câmera habilidosa) e explorar os meios de ser assustador, sanguinolento e criativo. Mesmo não sendo um requel, o diretor não deixa de distribuir acenos aos movimentos de câmera de Raimi, e faz isso manipulando as expectativas com planos detalhes trêmulos e rápidos ou quando passa a tornar o apartamento um lugar sufocante, senão pelo ritmo, são pelas cenas enquadradas no olho mágico — um artifício muito bem aproveitado — ou pelos planos com split-diopter. Porém, isso não coloca Evil Dead Rise na linha de comparação já que Cronin descobre formas de entregar o gore conhecido e mutilação com o Deadite, o que soma momentos agonizantes, sempre buscando formas de causar desconforto com a limitação da cenografia.

Quando a A Ascensão supera o início instável e embora tenham-se tributos a Raimi, não há dúvidas que Lee Cronin está fazendo sua versão de Evil Dead e animado em dar continuidade com novos capítulos. Por exemplo, o cineasta investe mais na violência gráfica e no humor extraído com muita autenticidade pela pequena Nell Fisher do que faz escolhas que vincule o filme como um trash, e consequentemente, ao estilo de Raimi. Dessa forma, é como há demonstrações de que Cronin sabe utilizar elementos ainda que óbvios — como a referência a O Iluminado — mas também trabalhar seu argumento de maneira sólida com aspectos reconhecíveis de Evil Dead (litros de sangue na cara, citações de falas do Deadite, os planos, a motosserra) contudo, sem soar repetitivo.

Depois que engrena, é fácil como o caos e violência vai ganhando ainda mais força para um terceiro ato brutal e voltado a explorar mais da mitologia, e também, com uma ponte deixada entre se conectar mais diretamente à primeira trilogia ou seguir com novos argumentos. É interessante que, mesmo concebendo o filme por uma ótica modernizada — não só na ambientação, mas como o mal é despertado — e brinca com ideias que emulam recursos cânones da franquia, Cronin consegue relembrar o que tornou Evil Dead um clássico além do gore: a engenhosa direção de Raimi. E são nesses momentos que é válido perceber como ele executa sua premissa, cria cenas memoráveis e com bons personagens, mas acima de tudo, conhece a receita para usar e subverter o molde e por fim, ainda agradar aos fãs da franquia, ou ao menos aos que não esperavam a versão 2.0 do remake de Fede Alvarez.

A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise – EUA, 2023)
Direção: Lee Cronin
Roteiro: Lee Cronin
Elenco: Alyssa Sutherland, Lily Sullivan, Nell Fisher, Gabrielle Echols, Morgan Davies, Anna-Maree Thomas
Duração: 96 min

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