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Crítica | A Mulher na Janela, de A. J. Finn

por Kevin Rick
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A premissa do primeiro livro de A. J. Finn, sobre uma mulher reclusa que passa seus dias espionando os vizinhos e acaba vendo algo chocante, certamente lembrará a história do famoso filme Janela Indiscreta, ou então de A Garota no Trem, para dar um exemplo mais contemporâneo. Essas narrativas de suspense psicológico tiveram seu ápice ali nos anos 50 e 60, muito por causa de Alfred Hitchcock, e apesar de serem histórias interessantíssimas, especialmente pensando em tramas que acontecem em ambientes contidos, foi sendo um estilo de narrativa que se tornou batido, até esquecido.

Finn abraça todo esse classicismo para estruturar A Mulher na Janela. O livro é cheio de referências a filmes antigos, diretores clássicos e atores famosos do período, como o próprio James Stewart de Janela Indiscreta, que recebe várias menções na obra, numa espécie de piscadela do escritor. O autor entende sua fonte e não faz muita coisa diferente dentro das sua influências, entregando uma leitura engajante. Além disso, a abordagem de Finn está mais no lado humano do que na trama de mistério, dando enfoque mais as reações e a rotina de Anna do que no crime vizinho.

A prosa de A. J. Finn consegue tornar a experiência difícil de largar, pois sua escrita focaliza bastante em descrever o ordinário com muito cuidado, um detalhismo para objetos, diálogos habituais, caminhadas, bate-papos online, e por aí vai, construindo um curioso mistério através da rotina de uma mulher em constante sofrimento, seja por um trauma passado que desconhecemos, a doença que a restringe de sair de casa, a mistura do alcoolismo com as drogas e sua lenta perda de realidade. Nesse sentido, o fato dela realmente  ter visto um crime do outro lado da rua é apenas uma alegoria para trabalhar um drama intimista. O desenvolvimento de suspense no lado investigativo é super telegrafado, previsível de um jeito quase cômico, mas essa abordagem pessoal traz o suspense para a ótica da decadência mental de Anna.

A Mulher na Janela certamente tem seus problemas, principalmente pensando no desenvolvimento genérico do mistério em torno de seu passado e dos verdadeiros acontecimentos por trás do que aconteceu com seus vizinhos, diferindo de Janela Indiscreta – para manter o exemplo mais famoso -, no sentido de também sermos observadores, já que se desenrola de maneira mais introspectiva. Dito isso, esse foco na rotina e no estudo psicológico e emocional da protagonista transformam o romance em uma leitura intrigante de modo geral e extremamente difícil de colocar de lado, já que A. J. Finn se prova um ótimo escritor em manter nossa atenção através de ótimas descrições, boas reviravoltas e uma narrativa ágil.

A Mulher na Janela (The Woman in the Window) — EUA, 2018
Autor: A. J. Finn
Editora original: William Morrow
Edição lida para esta crítica:  Editora Arqueiro; 1ª edição (5 março 2018)
Tradução: Marcelo Mendes
352 páginas

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