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Crítica | A Música da Minha Vida

Filme de amadurecimento que valoriza mais as pontes que as mudanças.

por Davi Lima
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música

Se o coming of age é um subgênero do cinema sobre transição – jovem para adulto, de maneira geral – A Música da Minha Vida se conclui na ponte dessa mudança. Numa ilustração metafórica, a história do protagonista Javed (Viveik Kalra), jovem paquistanês na cidade de Luton, é um ziguezague bastante pessoal que estaciona no equilíbrio da maturidade e não no caminho de aprendizado para ser maduro. A narrativa baseada em fatos se diferencia em sua conclusão ainda mais por se entrelaçar com os picos emocionais que indicam um cenário clássico de desenvolvimento, mas a base de inspiração para as epifanias durante o filme também indicam um despertencimento.

Essa inspiração se relaciona como uma grande homenagem a Bruce Springsteen, cantor que em 1987 – quando se passa a história – já era datado para a geração jovem do contexto de Javed, além de ser um americano em um filme que parte do conflito entre a cultura paquistanesa e a britânica. A função dele na obra vale mais como uma iluminação cultural semi-realista numa romantização musical. O empolgante do filme é a crença inabalável do personagem em como as músicas de Bruce falam sobre a vida dele, independente de quem acredita ou não. A princípio, o que vale é esse acreditar romântico, mas a obra nunca abre mão do realismo, do quanto isso é prático e traz consequências ao imergir seus personagens por completo numa inspiração musical.

Existe, ainda assim, uma harmonia em como esse semi-realismo não é apenas desenvolvido no cinema da diretora Gurinder Gudha, mas também na escolha pelo discurso de Bruce ao repensar a realidade do protagonista. Mesmo quando as letras das canções são literalmente grafadas nas paredes de maneira sobrenatural, não se perde no romantismo pelo conteúdo que o compositor traça em sua arte. Independente do que realmente Bruce quis dizer, ou como o protagonista corre e canta sem olhar a quem, a temporalidade do filme existe, é factual e agrega as letras ao drama do protagonista em seu local, vide a racial existente na vida sofrida dos paquistaneses vivendo na Inglaterra . 

Quanto mais essa realidade se torna  dramatizada; quanto mais há um zoom meio documental no plano aberto proposto pela diretora, a concorrência vai se tornando implausível de se acertar. O filme entra num impasse anti-clichê, mas sem saída. Daí a escolha pela média, como se o filme tivesse dois finais que parecem apenas cinematográficos. A Música da Minha Vida diz que é baseado em fatos, mas a dinâmica de fantasia musical contra o realismo social familiar é tão destacada  pela diretora, que a inspiração lírica se desloca para o impossível drama que, no final, é real mesmo. Soa assustadoramente libertador em como a cineasta encena um coming of age e como entrega o clássico filme baseado em fatos, tentando fazer pontes entre gerações, não uma transição do emocional do protagonista através de um coming of age comum.

A resolução, ao fim, é a diversidade de pensamento nos locais em que menos se pensa, quando o sonho e a tradição se encontram, algo como um “progressismo minimamente conservador”. A transição clássica de narrativa da juventude cria o drama para frear a liberdade de um roteiro fácil. Já a ponte para a maturidade mantém a ideia realista de que o jovem, para crescer, precisa dialogar com a realidade e não passar apenas de fase, porque então isso seria apenas um videogame dos anos 80.

A Música da Minha Vida (Blinded by the Light) – Reino Unido, EUA, França, 2019
Direção: Gurinder Chadha
Roteiro: Sarfraz Manzoor, Gurinder Chadha, Paul Mayeda Berges
Elenco: Viveik Kalra, Dean-Charles Chapman, Kit Reeve, David Hayman, Kulvinder Ghir, Nikita Mehta, Rob Brydon, Meera Ganatra, Lorraine Ashbourne, Tara Divina, Jeff Mirza, Frankie Fox, Nell Williams, Aaron Phagura, Hayley Atwell
Duração: 118 minutos

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