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Crítica | A Ópera-Mouffe

por Luiz Santiago
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Uma mulher grávida é um pequeno mundo em transformação e ressignificação. Esta é a ideia que a diretora Agnès Varda nos passa neste seu filme ainda do início da carreira, propondo um olhar para o mundo a partir de uma realizadora grávida. A introdução do filme deixa isso bem claro, para que o espectador não se perca e nem tenha dúvidas a respeito do recorte de observação pretendido pela artista: “Caderno de notas filmadas na Rua Mouffetard, em Paris, por uma mulher grávida, em 1958“. Uma crônica cinematográfica (o que explica o ar documental da obra) com um olhar previamente especificado.

Com essa perspectiva, a diretora sugere uma visão das coisas do mundo flertando com a possibilidade de legado, de herança daquela realidade toda para uma nova vida que deve chegar em breve. Mas mais do que isso. O filme é um poema da existência, passando por diferentes ciclos ou ações da vida adulta e o tempo inteiro dialogando com a concepção, seja na comparação entre novo e velho, seja nas metáforas que ocorrem desde as cenas iniciais, a primeira delas, o plano de uma barriga grávida passando para o de uma abóbora sendo partida.

As coisas mais ordinárias são observadas pela lente desta futura mãe e vemos nela um interessante princípio de cuidado, de ternura. Ela olha para o sexo, para os velhos na feira e para as condições de vida das pessoas à sua volta a partir de uma postura objetiva, próxima e de classe, o que deixa o filme nesse ambiente curioso de uma abordagem feminista, sensorial, poética e também crítica. Os contrastes etários e as “realizações de uma vida” que a diretora elenca aqui são ingredientes da memória que fariam parte de toda a sua carreira, e não fosse o finalzinho, com uma cena reticente e destoante do restante da obra, teríamos um filme sem problemas.

A Ópera-Mouffe (L’opéra-mouffe) – França, 1958
Direção:
Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Elenco: Dorothée Blanck, Antoine Bourseiller, André Rousselet, Jean Tasso, José Varela, Monika Weber
Duração: 16 min.

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