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Crítica | A Origem do Capitão Marvel (Shazam) – 1940

por Luiz Santiago
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Sabem aquelas pessoas que dizem “ah, mas eu odeio o Capitão Marvel/Shazam!“? Então. Se afastem delas. Provavelmente são clones de cera proto-sencientes criados pelo Doutor Silvana para gelarem os corações do mundo. Porque de outra forma… como alguém odiaria esse Grande Garoto? Hoje propriedade da DC Comics, o Capitão Marvel (Captain Marvel/William “Billy” Batson) surgiu nas páginas da segunda edição da Whiz Comics Vol.1, com data de capa de fevereiro de 1940, criado por Bill Parker (roteiro, cores, editoria) e C.C. Beck (arte, finalização, capa). O herói veio na esteira de concepções editoriais frente à fórmula que deu fama ao Superman (personagem da então National Comics, futura DC), processo nada alheio aos anos imediatamente após a criação do Azulão, com muitos outros “Supers” aparecendo em diversas editoras e revistas, todos tentando trazer para si um pouco do dinheiro que o refugiado de Krypton na Terra dava à NC.

Ocorre que o Capitão Marvel não é o tal “plágio descarado” — como o processo judicial da NC contra a Fawcett Publications destacaria –, do Superman. Eles são personagens que se baseiam exatamente no mesmo princípio de potencialidade ‘divina’ (ambos bebem em fontes mitológicas), mas o Superman dava imediatamente a noção de protetor da Terra, com uma postura mais adulta e sisuda no tratamento dos roteiros, sendo marcado pela questão básica de estarmos falando de um alienígena que tem seus poderes desenvolvidos porque seu organismo responde de forma inesperada a um Sol amarelo. Já o Capitão Marvel não olha para a maturidade, para o compromisso adulto, para a vida mais organizada e definida que veremos se desenvolver nas páginas da Action Comics Vol.1 e Superman Vol.1, isso só para falar das publicações mais famosas do cuequinha de SiegelShuster na Era de Ouro. O Grande Garoto foi concebido através de um outro critério.

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As duas primeiras páginas da revista. Simplicidade e elegância.

Ao criar o Capitão Marvel, Bill Parker retirou o elemento mais sério e imediatamente imbatível que era a base do Superman e fez um personagem mais ligado à fantasia e à mitologia do que qualquer outra coisa. Com efeito, nós temos em pouco tempo a presença do Mago (aqui, ele é o Mago Shazam/The Wizard, também chamado de The Champion ou Shazamo), que faz uma rápida mas muitíssimo eficaz apresentação dos poderes e condições de usos para o pequeno Billy, a quem nos afeiçoamos imediatamente.

Notem que estamos diante de uma criança pobre, abandonada pelo avarento tio Ebenezer Batson, e que precisa vender jornais até tarde da noite para sobreviver (respirem fundo, eram os anos 40!). Em uma noite, o menino é levado até uma caverna mágica, por um trem mágico, e conhece um Mago que lhe transmite uma porção de poderes, bastando que o garoto grite “SHAZAM!“. Ao fazer isso, o menino é transformado em um musculoso super-herói adulto, com um belo uniforme vermelho, branco e amarelo, e que tem, ao dizer essa palavra mágica, a junção de diversos poderes neste novo corpo, os poderes de seis grandes personagens mitológicos ou semi-mitológicos, a saber: Salomão (sabedoria), Hércules (força), Atlas (resistência), Zeus (poder), Aquiles (coragem) e Mercúrio (velocidade). Juntam-se aqui fatores sociais, linhas mitológicas literalmente trabalhadas no roteiro e noções de fantasia que o Superman não tem (ele é vulnerável à magia, por sinal).

E mesmo assim, a NC moveu um processo contra a Fawcett, alegando plágio do Superman. O processo se desenrolou por anos e acabou minguando as finanças da Fawcett que, em 1953, parou de publicar as histórias do Capitão Marvel. Em 1973, a DC Comics comprou a falida inimiga e, no melhor estilo de “a vontade de rir é grande, mas a de chorar é maior“, herdou o Capitão Marvel para as suas fileiras (em 2012, mudariam oficialmente o nome dele para Shazam, por conta de OUTRO Capitão Mavel, o da editora concorrente). E segundo as boas línguas, a DC herdou também a Maldição Marveliana, pois o personagem jamais alcançou a fama que teve nas mãos da Fawcett, isso porque ele foi “só” o herói mais popular, em termos de vendas, daquela primeira leva de criações super-heroicas nos EUA (sim, superando o então blockbuster Superman), real motivo pelo qual a NC resolveu processar a concorrente; para ver se barrava a águia de chumbo que devorava a sua galinha dos ovos de ouro…

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A Pedra da Eternidade, os Os Sete Inimigos Mortais do Homem e o Dr. Silvana.

Posteriormente ficou estabelecido que essas aventuras se passaram na Terra-S, em Nova York. Nessa realidade, o pequeno Billy deve, já em sua primeira noite após receber os poderes do Mago, enfrentar um cientista maluco chamado Doutor Silvana (Dr. Thaddeus Bodog Sivana, no original), que acabaria sendo um dos seus inimigos mais icônicos. Se antes ainda não havia ficado muito claro a forma de pensar desse garotinho, é no enfrentamento a Silvana que temos uma noção clara de quem é Billy Batson.

A persistência, a quebra pontualíssima das regras para fazer o bem, a força de vontade para se provar digno de obter algo — aqui, de conseguir um emprego (ele faz um acordo com Sterling Morris, o administrador da WHIZ Radio, para se tornar radialista, caso conseguisse barrar quem estava boicotando as transmissões) –, somados ao respeito do artista C.C. Beck aos limites do corpo infantil e a colocação do momento certo para a transformação, com o roteiro jamais subvertendo a essência do herói transformado — afinal, ele ainda é uma criança, só que no corpo de um homem mega-poderoso –, tudo isso faz dessa edição de estreia do Capitão Marvel uma pequena pérola dos quadrinhos da Era de Ouro. As poucas travadas na história, majoritariamente quando Silvana entra em cena, pesam bem pouco no resultado final. Introducing Captain Marvel é a grande estreia deste que está na lista dos mais queridos heróis da História dos quadrinhos.

Whiz Comics #2: Introducing Captain Marvel! (EUA, fevereiro de 1940)
Publicação original: Fawcett Publications
No Brasil: Fanzine (2008) e Panini (2010)
Roteiro: Bill Parker
Arte: C.C. Beck
Arte-final: C.C. Beck
Cores: Bill Parker
Capa: C.C. Beck
Editoria: Bill Parker
13 páginas

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