Narrativas que se desenvolvem em espaços cenográficos limitados apresentam uma série de desafios únicos que exigem dos escritores e diretores um domínio refinado da arte de contar histórias. Ao restringir o ambiente físico, os criadores precisam encontrar maneiras inovadoras para manter a tensão e o interesse do público, mesmo diante de um elenco reduzido e uma paleta de situações dramáticas, muitas vezes, escassa. Neste contexto, a economia narrativa torna-se uma ferramenta poderosa, capaz de transformar simples interações em momentos carregados de significado. Um dos principais desafios enfrentados por narrativas em cenários limitados é a construção do espaço psicológico. Em vez de contar com uma variedade de locais para desenvolver a ação, o autor deve explorar as dinâmicas interpessoais entre personagens. O diálogo se torna um elemento crucial, sendo necessário que as trocas verbais sejam não apenas informativas, mas também carregadas de subtexto e emoção. No caso do oriental A Piscina, o que temos disposto em cena é um homem que conheceremos ao passo que a narrativa avança, preso em um lugar que começa a se tornar inóspito quando percebe que é cerceado por um dos predadores mais temidos do mundo animal: um enorme e sedento crocodilo.
Como lidar? Explorarei mais adiante. Outro aspecto importante nesse tipo de trama é o uso da temporalidade. O tempo em uma narrativa limitada pode se tornar um recurso dramático significativo. A manipulação do ritmo, por meio de flashbacks ou longas sequências de diálogo, pode intensificar a tensão. Em espaços reduzidos, cada segundo conta e cada pausa tem o peso da expectativa. O autor pode optar por prolongar o tempo em momentos de conflito emocional, criando um suspense que, muitas vezes, se revela mais eficaz do que a ação física. Ademais, além da estrutura narrativa, outra questão crucial é a caracterização dos personagens. Em cenários limitados, os poucos personagens precisam ser suficientemente complexos para suportar a carga emocional da narrativa. A profundidade psicológica deles pode ser explorada através de monólogos internos e revelações súbitas que desafiam as percepções iniciais do público. Além disso, o espaço físico deve ser usado de maneira criativa, para que cada elemento do ambiente contribua para a narrativa. O cenário deve se tornar um personagem por si só, influenciando as ações e as decisões dos protagonistas, algo que os realizadores deste horror ecológico ameno conseguem estabelecer, entregando um filme, no mínimo, intrigante.
Em A Piscina, seguimos a angustiante jornada de um jovem que acorda ferido e em pânico, encontrando um enorme crocodilo mordendo sua perna enquanto está preso em uma piscina vazia. A narrativa, que começa em um momento de desespero, retrocede no tempo para mostrar como o protagonista chegou a essa situação. Ele, que trabalhava como assistente em um comercial, aproveitou o final das filmagens para relaxar em uma boia na piscina de 6 metros de profundidade. No entanto, enquanto ele cochilava, seu amigo deixou o sugador ligado e saiu, resultando em uma piscina parcialmente vazia e em sua incapacidade de sair. A situação se torna ainda mais perigosa quando, devido a enchentes recentes, um crocodilo escapa e invade a piscina. Para complicar as coisas, a namorada desatenta do protagonista se aproxima sem perceber o estado da piscina e acaba se machucando ao tentar mergulhar. Agora, o casal precisa lutar pela sobrevivência, enfrentando não apenas o crocodilo, mas também as adversidades climáticas enquanto buscam uma maneira de escapar. A narrativa não linear mantém o espectador intrigado sobre como o protagonista chegou àquele ponto crítico, embora o filme sofra com efeitos visuais insatisfatórios do predador, que parecem claramente computadorizados.
Contudo, esses problemas estéticos não ofuscam o potencial do filme, que pode não ser um primoroso exercício da linguagem cinematográfica, mas como entretenimento, apresenta uma história satisfatória. Dirigido por Ping Lumpraploeng e “estrelado” por Theeradej Wongpuapan e Ratnamon Ratchiratham, A Piscina é um filme de 2018 que apresenta uma narrativa envolvente, daquelas situadas em apenas um espaço, mas com tensão suficiente para dar conta dos seus 90 minutos de trama que, talvez, pudessem ser somente um pouquinho menor, pois depois de determinados acontecimentos, embora instigante, enfrenta alguns problemas de ritmo, o que é até compreensível, afinal, os realizadores estabelecem tudo ao redor de poucos personagens e um único conflito dramático. A direção de fotografia de Artit Kenchompoo contribui para a construção do clima de tensão, enquanto a trilha sonora de Chapavich Temnitikul, apesar de discreta, sabe quando intensificar os momentos críticos do enredo. O filme utiliza o crocodilo, uma das criaturas mais temidas em histórias de terror, como um elemento central da trama, criando um ambiente de terror psicológico e físico. Apesar das mencionadas oscilações no ritmo, a produção se destaca por sua premissa simples, mas eficaz, que explora o medo e a vulnerabilidade dos personagens em um espaço confinado, mantendo o espectador envolvido até seu desfecho. Poderia ser ótimo, mas já é suficiente sendo bom.
A Piscina (The Pool, Tailândia – 2018)
Direção: Ping Lumpraploeng
Roteiro: Ping Lumpraploeng
Elenco: Theeradej Wongpuapan, Ratnamon Ratchiratham
Duração: 90 min
