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Crítica | A Princesa Prometida

por Ritter Fan
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Quem assistiu A Princesa Prometida sabe que o filme todo pode ser resumido no poderosamente brega significado da frase “Como desejar” ou As You Wish, que o rapaz da fazenda (Cary Elwes) diz repetidas vezes para Buttercup (Robin Wright, em seu primeiro papel no cinema). O amor verdadeiro é sim a “moral da história” aqui e ele funciona em dois níveis, na fábula medieval em si e no enquadramento do avô (o saudoso Peter Falk) contando-a a seu neto enfermo (Fred Savage, então com 11 anos) que abre, serve de breves interlúdios (interrupções, na verdade) e encerra o filme. E é principalmente por essa razão que essa joia de Rob Reiner é uma inesquecível e encantadora obra atemporal capaz de alegrar até mesmo os corações mais duros.

A história contada pelo avô é a da jovem Buttercup e do camponês Westley (Elwes) que, em uma idílica fazenda, apaixonam-se perdidamente. Mas o destino força que Westley viaje para tentar ganhar a vida, sendo dado como morto depois que o navio onde está é atacado pelo sanguinário pirata Roberts. Desolada, Buttercup passa a viver uma vida vazia até que, cinco anos depois, é levada a casar-se com o vilanesco Príncipe Humperdinck (Chris Sarandon), do reino de Florin, que tem um plano diabólico para causar uma guerra com o reino vizinho. Próximo da data do casamento, a futura princesa é capturada por três bandidos que a querem vender justamente para o reino rival e que passam a ser perseguidos por um misterioso homem de preto e mascarado que, não demora, é relevado como sendo – surpresa, surpresa – Westley finalmente de volta depois de assumir o manto do próprio pirata que atacara seu navio.

A fábula é narrada em tom de paródia e sátira de outras fábulas, com personagens que são praticamente arquétipos daqueles que povoam incontáveis obras dessa natureza. Westley é o herói completo, Buttercup a belíssima dama sempre em perigo e Humperdinck é o vilão 100% vilanesco, com direito a um vizir sádico de seis dedos (Conde Rugen, vivido por Christopher Guest), responsável pela invenção de uma máquina de tortura que literalmente suga anos de vida de sua vítima. Além deles, há os três bandidos, todos  eles inesquecíveis de sua própria e particular maneira: o inteligentíssimo siciliano Vizzini (Wallace Shawn), líder do grupo, o esgrimista espanhol sem par Inigo Montoya (Mandy Patinkin, o Saul Berenson, de Homeland), que deseja acima de tudo vingar a morte de seu pai por um homem de seis dedos que ele nunca conseguiu achar (seria o Conde Rugen???) e o dócil e enganosamente esperto gigante groenlandês Fezzik (André the Giant).

Usando uma fotografia onírica, Adrian Biddle (egresso de Aliens – O Restage, seu primeiro e já excelente e bem diferente trabalho, no ano anterior) evoca perfeitamente o tom cômico, positivo e brincalhão imposto pela direção de Reiner, com cores fortemente contrastantes e significativas, filtros que saturam o branco para emprestar aquela aura amorosa entre os protagonistas e um belo uso de profundidade de campo que ajuda a dar um caráter quase épico à jornada de Westley para salvar sua amada princesa. Além disso, há muito uso de pinturas de fundo como no Penhasco da Insanidade, na entrada do Pântano de Fogo e nas tomadas em planos gerais que, mesmo sendo característica da época pré-CGI, aqui são propositalmente pouco realistas para borrar a linha entre uma história série e uma comédia quase nonsense, com direito a ratos gigantes, areia movediça e um hilário Westley paralisado depois de uma das melhores sequências do filme com Billy Crystal irreconhecível debaixo de próteses como Max Milagroso.

Cada situação da aventura rocambolesca escrita por William Goldman com base em seu próprio livro homônimo parece ser cirurgicamente imaginada para agradar igualmente adultos e crianças, mas em níveis diferentes, como nas melhores animações da Pixar. Se as crianças adorarão a tensão causada pelo sinistro Pântano de Fogo, os adultos rirão da forma como Westley salva Buttercup das erupções e dos ratões (ou homens vestidos de rato, claro). Se o sangrento duelo entre Inigo Montoya e o Conde Rugen fará as crianças esconderem o rosto de aflição, os adultos saberão apreciar o exagero e o histrionismo teatral do momento. Se as crianças farão cara feia – como o neto para quem o avô lê o livro – nos momentos com “beijos”, os adultos certamente rirão da cafonice e doçura exacerbadas e propositais.

E tudo isso vem ainda embalado por uma inspirada trilha sonora composta por Mark Knopfler, ex-vocalista do Dire Straits, que usa sua característica guitarra melosa para pontuar a aventura romântica com a música-tema “Once Upon a Time…Storybook Love”, que ganha, nos créditos finais, uma versão cantada por Willy DeVille, além da jocosamente tensa “The Cliffs of Insanity” e a brincalhona “The Swordfight”, que marca a hilária luta entre Westley e Inigo Montoya. Mal comparando, o trabalho de Knopfler, aqui, tem ecos anacrônicos da trilha de Andrew Powell para O Feitiço de Áquila, de apenas dois anos antes, ainda que, em A Princesa Prometida, Reiner tenha optado por uma sincronização bem menos intrusiva, mantendo as composições em um segundo plano sonoro na maioria das vezes.

Encantadora e cativante, a paródia de fábula de Rob Reiner é uma pequena pérola cinematográfica que agrada crianças e adultos igualmente e que sobreviveu muito bem ao teste do tempo. É simplesmente inconcebível não apaixonar-se perdidamente por A Princesa Prometida.

A Princesa Prometida (The Princess Bride, EUA – 1987)
Direção: Rob Reiner
Roteiro: William Goldman (baseado em seu próprio romance infantil)
Elenco: Cary Elwes, Mandy Patinkin, Robin Wright, Chris Sarandon, Christopher Guest, Wallace Shawn, André the Giant, Fred Savage, Peter Falk, Peter Cook, Mel Smith, Carol Kane, Billy Crystal, Anne Dyson, Margery Mason, Malcolm Storry, Willoughby Gray
Duração: 98 min.

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