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Crítica | A Profecia (2006)

por Leonardo Campos
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A refilmagem do clássico A Profecia, lançada em 06 de junho de 2006, uma data cabalística bastante interessante para fins lucrativos na dinâmica de produção hollywoodiana, não é uma produção ruim. O filme é relativamente bom. O seu problema? Ser uma refilmagem, como nas palavras da crítica na época, burocrática, certinha, que segue praticamente passo a passo o filme ponto de partida, a obra-prima de 1976, sem ousar em quase nada. Não chega uma “cópia fiel”, tal como Psicose, de Gus Van Sant, mas chega quase perto.

O esquema é o mesmo. Um diplomata (Liev Schrieber) e a sua esposa (Julia Stiles) perdem o filho recém-nascido ainda na sala de parto. A moça ainda não sabe, mas o marido recebe a má notícia do lado de fora. Uma solução imediata surge em cena: uma criança, nascida no mesmo momento, está disponível, haja vista a morte da sua mãe durante supostas complicações no parto. Atarantado, ele decide levar o bebê, sem que ninguém além dele e do padre saiba do trato.

Nós, espectadores, como acompanhamos o tendencioso prólogo, sabemos que os problemas estão apenas começando. Primeiro, os poderosos do Vaticano, durante uma reunião, interpretam que catástrofes como os ataques aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 (e os tsunamis na região asiática) sejam sinais do toque das trombetas citado no Apocalipse, parte macabra das sagradas escrituras que anuncia o “começo do fim”. Para quem conhece o filme anterior, sabe que coisa boa não vem em seguida.

Tudo parece tranquilo na família Thorn, até que no quinto aniversário de Damien, interpretado pelo ótimo Seamus Davey-Fitzpatrick, a babá da criança se suicida, sendo este o acontecimento que precede todos os conflitos na vida do diplomata e da sua esposa. A cena, por sinal, é infinitamente inferior ao clima do clássico. Na versão de 1976, menos se torna muito mais. O close-up no rosto dos personagens e o som-off nos permitia uma surpresa no momento do suicídio. Na versão anos 2000, o diretor decide dialogar com o gosto de uma suposta plateia que prefere a explicitude ao invés do poderoso recurso da sugestão.

Damien, como um eficiente representante das “forças infernais”, vai atrair tudo de ruim, inclusive uma nova babá, a sua protetora, Mrs. Baylock, interpretada por Mia Farrow, atriz conhecida por diversos papeis em filmes de Woody Allen, além do casamento com o famoso cineasta, mas que entretanto, ganhará notoriedade no filme pela ironia no papel protecionista interpretado, afinal, nos anos 1960, a mesma marcou a história do cinema como a apavorada mãe do anticristo em O Bebê de Rosemary.

Assim como no “original”, não é surpresa que o mal triunfa no final. Todos que tentaram tirar o menino do seu posto foram dizimados em mortes tenebrosas. Por falar nas mortes, as sequências são as mesmas. Quem assistiu ao primeiro filme fica sabendo exatamente cada vítima da lista infernal. O que muda é a forma como elas são concebidas. O fotógrafo que tem a sua cabeça decepada por uma placa metálica desta vez é atingido por outro objeto. O padre apunhalado por lanças que caem do alto de uma igreja durante uma tempestade morre de forma semelhante, tendo apenas a diferença na forma como alguns enquadramentos e movimentos de câmera, juntamente com os recursos da ótima direção de fotografia de Jonathan Sela, atuam. A única sequência que se diferencia e até resolve pequenos furos do roteiro do “original” é a morte da Sra. Thorn, reproduzida de maneira mais convincente nesta refilmagem.

Ao longo de 108 minutos de duração, A Profecia, como dito anteriormente, não é um filme ruim, mas sofre apenas pelo seu histórico. É a refilmagem de um filme poderoso e carregado de “aura”. A produção, provavelmente na esteira das refilmagens de filmes de terror asiáticos, traz alguns elementos, tais como pesadelos e visões macabras que dialogam diretamente com o universo de O Grito e O Chamado.

Ao decalcar o filme que lhe serve de referência, falta-lhe ousadia e irreverência. Como não houve continuação, provavelmente a produção ganhe um novo olhar com a série televisiva lançada recentemente. Imaginar o Anticristo no bojo das redes sociais é algo interessante, basta saber se os elementos da linguagem televisiva conseguirão dar conta. Isso, entretanto, é papo para a nossa próxima crítica.

A Profecia (The Omen) – EUA, 2006.
Direção:  John Moore.
Roteiro: David Seltzer.
Elenco: Liev Schrieber, Julia Stiles, Seamus David-Fitzpatrick, Mia Farrow, Marshall Cup, Tomas Wooler, Rafael Salas.
Duração: 108 min.

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