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Crítica | A Rainha dos Condenados

por Leonardo Campos
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Sensual, intrigante, mas falho em diversos aspectos narrativos, A Rainha dos Condenados foi um pomposo fracasso cinematográfico de 2002. As criaturas da noite eram uma febre razoável na época, marcada pelos lançamentos de Vampiros de John Carpenter, Vampiros do Deserto, Drácula 2000, dentre outros, além dessa continuação do erótico e esteticamente sofisticado Entrevista Com o Vampiro, um marco dos anos 1990. Também baseado num romance escrito por Anne Rice, presente no roteiro construído numa parceria com Scott Abbott, esta inserção no âmbito das Crônicas Vampirescas foi coproduzida com o sistema de cinema australiano, sob a direção de Michael Rymer. Para contar a sua histórica macabra e pop, ele contou com a direção de fotografia de Ian Baker, o design de produção de Graham Walker, além dos necessários efeitos visuais da equipe de Gregory L. McCurry e maquiagem de Bob McCarron, setores que funcionam bem, todos consonantes com a temática do filme acometido por problemas de ordem dramática.

Na trama, o vampiro Lestat, agora interpretado por Stuart Townsend, narra o seu drama pessoal sobre o surgimento da “maldição” vampiresca em sua trajetória, do dia que foi mordido aos tempos atuais, marcados por sua presença na cultura do espetáculo, como um astro do rock. Largamente conhecido nas mídias, Lestat não cumpre a sua missão de se manter nas sombras, postura que resulta na ira e projeto de aniquilação de sua figura por parte dos opositores. Na abertura, compreendemos as estratégias narrativas cheias de referenciais ao longo de todo o filme, certeiro em seu preâmbulo com retomada de toques do cinema expressionista. Certo dia, ele fica sabendo da existência de Akasha (Aaliyah), uma poderosa vampira dos tempos egípcios que foi transformada em estátua, tirana conhecida por seus sangrentos atos de crueldade. Ao desperta-la para a era contemporânea, Lestat ganha força para lutar contra seus opositores, mas também terá que lidar com a desmedida postura da “monstra” que acordou de um longo sono para retomar o seu projeto de dominação mundial. Tudo parece equilibrado para uma luta de titãs, não é mesmo?

Sim. E não. Lestat vai entrar em conflito ao perceber que os planos de Akasha envolvem não apenas domínio planetário, mas a presença firme de seu responsável pelo despertar. E agora? A aliança com a rainha traz poder. Há, no desenvolvimento da história, a inclusão de um elemento que muda os rumos de seus interesses. A paixão por Jesse Reeves (Marguerite Moreau), uma estudiosa da cultura vampírica que estabelece uma amizade com Lestat e amplia os seus horizontes práticos diante do assunto que até então lhe era apenas parte teórica de sua vida. Ao adentrar na história e se aproximar do vampiro, a moça se torna alvo da fúria dos opositores de Lestat, uma estratégia para atingi-lo. O passado da jovem e algumas linhas tangenciais com o tema vampírico são correlacionados para entendermos a sua fascinação pelo assunto e temos ainda a presença de Marius (Vincent Perez), o responsável por transformar Lestat, em 1778, num vampiro.

Considerado exagerado, A Rainha dos Condenados é sim uma trama irregular, mas visto com o distanciamento de quase duas décadas, possui alguns pontos interessantes que não foram devidamente compreendidos. A vida de Lestat encontra-se na sociedade mediada pela imagem, pelos excessos mitológicos na construção de tipos inatingíveis pela cultura dos fãs. Ele é uma estrela do rock que faz shows sempre esfuziantes ao olhar, com música imersiva e efeitos visuais altamente pirotécnicos para impressionar, com canções ao estilo gótico, sombrias, voltadas ao obscurantismo das relações sociais que envolvem a presença dos vampiros em nossas sociedades contemporâneas. O show no Vale da Morte, palco para o surgimento de seus opositores e espaço para Akasha passar rapidamente e deixar um rastro de morte é a metonímia do clima deste filme que deixa de lado as sutilezas e sofisticação filosófica de Entrevista Com O Vampiro para ser uma trama mais agressiva, tal como o estilo do rock tocado constantemente na narrativa.

Além da violência excessiva e do afrouxamento dramático dos diálogos, A Rainha dos Condenados encontrou em Akasha alguns problemas. Trajada pelos modelitos egípcios sensuais de Angus Strathie, a personagem é caricata demais. Aaliyah transmite toda a sensualidade desejável pelos realizadores, mas o desempenho parece mais videoclipe que cinema. Ela não anda, mas desliza como uma cantora pop pelos espaços, como se estivesse constantemente num palco para a performance de seus números musicais. O ponto de partida literário de Anne Rice já não tinha a mesma força que a interação entre os vampiros Lestat e Louis do antecessor e aqui, encontra na transformação em filme um desafio com resultados apenas razoáveis. Nada memorável. Em seu despertar com projeto de domínio, a vampira protagoniza uma cena peculiar de ataque num reduto de criaturas da noite com direito ao arrancar de um coração para ser devorado em primeiro plano.

Os vampiros de Anne Rice mereciam uma continuação melhor, mas seja paciente e curta os poucos bons momentos do filme, combinado?  Aproveite a soturna trilha sonora de Jonathan Davis, um dos atrativos até mesmo para quem não é consumidor de rock, como quem vos escreve, mas que ficou atraído pela sonoridade agressiva e gótica deste filme sobre pulsões e paixões.

A Rainha dos Condenados (Queen of the Damned, EUA/Austrália – 2002)
Direção: Michael Rymer
Roteiro: Anne Rice, Scott Abbott, Michael Petroni
Elenco: Aaliyah, Stuart Townsend, Marguerite Moreau, Vincent Perez, Paul McGann, Lena Olin, Claudia Black, Bruce Spence, Matthew Newton
Duração: 131 min.

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