Home TVEpisódio Crítica | A Roda do Tempo – 1X04: O Dragão Renascido

Crítica | A Roda do Tempo – 1X04: O Dragão Renascido

Uma bela surpresa!

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Na crítica dos episódios passados, incluindo os comentários com os leitores, um dos principais tópicos foi o de ritmo. Os três primeiros episódios são acelerados, com eventos acontecendo um atrás do outro e reviravoltas pipocando na narrativa. Confesso que essa rapidez não me importunou como parece ter acontecido com vários espectadores. Muito pelo contrário, é uma rota que apreciei dado os personagens clichês e o enredo batido, já que injeta mais impulso aventureiro na trama habitual de amadurecimento em um contexto fantástico de bem vs mal. Juventude e maniqueísmo adoram andar de mãos dadas na fantasia, não é mesmo?

Bem, o quarto episódio vem como a antítese do frenesi. Um típico capítulo de calmaria para desenvolver personagens em momentos íntimos e de interação antes da ação voltar à cena, O Dragão Renascido novamente traz o ritmo como tópico principal à série, serenando nossos heróis para criar empatia com o público. Mesmo prezando pela aventura, também constato estas situações sossegadas como ótimos respiros narrativos para dar substância à história e aos personagens. Pulando entre os três blocos do nosso grupo principal separado, entre muita conversação e um desfecho cataclísmico nos 20 minutos finais, temos vislumbres de dilemas internos dos personagens, aprendemos mais sobre esse mundo e acompanhamos alguns desenvolvimentos da narrativa geral que mantém a roda girando – vão ter que se acostumar a esse trocadilho ruim em todas as críticas.

Gostaria de começar elogiando a montagem. É extremamente raro uma boa edição em séries de televisão com a narrativa fragmentada como A Roda do Tempo. Para ficar no mundo da fantasia, o suprassumo da montagem seria as primeiras temporadas de Game of Thrones, naquele absurdo jogo de subtramas que o show fazia, e o pior exemplo seria The Witcher, que envolve linha temporais em um mosaico confuso. A Roda do Tempo fica entre essas duas, com viés de alta, pois consegue intercalar muito bem entre a calmaria dos três núcleos com uma sensação de mobilidade e agilidade à experiência. Mesmo sendo um episódio mais, digamos, paciencioso, a cadência nunca soa arrastada. Temos um ritmo lento realmente gostoso de assistir. Minha única crítica seria em relação ao arco de Rand e companhia na fazenda que recebe menos tempo de tela e até soa deslocado no episódio como um todo, mas acho que é um problema da costura do roteiro e não tanto da edição.

Falando do texto, gostaria de continuar enaltecendo a construção de mundo. A série felizmente continua se abstendo de superexposição para apresentar mitologia, diluindo todos os elementos desse mundo com naturalidade e uma sensação de progresso, enquanto caminha a narrativa pelo mistério. A presença de Logain Ablar, interpretado por Álvaro Morte, o Professor da sofrível La Casa de Papel, tem função importante nesse capítulo para manter um suspense à espreita, enquanto a narrativa foca em desenvolvimento de personagem. Tenho, no entanto, receio com a aparente facilidade e descarte do desfecho rápido de Logain como ameaça na série, algo que veremos como será desenvolvido. Ademais, como eu disse, o episódio faz expansão com muita desenvoltura e sutileza dentro de seus clichês e arquétipos, nos mostrando mais sobre as Aes Sedai e seus guardiões, a filosofia daquele grupo cigano de pacifistas que não lembro o nome, e, claro, toda a trama macro sobre o Dragão, a Roda e o Tenebroso.

Tenho ressalvas em como esse lado introspectivo acaba desnudando e dando enfoque a problemas da série, como alguns personagens genéricos que não se destacam, desde a desinteressante Egwene até o grupinho enfadonho de Rand e companhia. Aliás, sendo honesto, todo aquele núcleo do trio indo ao Leste parece perdido na história, sem um aprofundamento ou importância para nossa experiência, inclusive estranhamente terminando de forma abrupta após um mini-clímax que não leva a nada. Em contrapartida, o espaço pessoal continua fazendo maravilhas ao sensacional drama de Perrin – que deveria ter aparecido mais! – e ao ótimo desenvolvimento da relação entre as Aes Sedai e seus guardiões, em especial o estoico Lan e aos indícios de atrito entre as diferentes vertentes das feiticeiras. Além disso, que baita desenvolvimento para Nynaeve, que foi de personagem intrigante para peça central com um arco dramático bem delineado.

Depois de 2/3 de calmaria, o terço final de O Dragão Renascido é pandemônio. Menos gore do que no trio de estreia, mas também com melhor direção. Como um leitor bem pontuou na crítica anterior, e eu não poderia concordar mais, há uma sensação de costume com a parte visual. Nada realmente encanta, mas tudo é bem… passável. A direção usa e esbanja de slow motion para enganar a coreografia ordinária, mas há mais inventividade dentro das limitações, inclusive com a sequência florestal usando melhor dos seus espaços e a câmera que pelo menos segura o foco. No mais, o quarto capítulo de A Roda do Tempo é uma bela surpresa. Dispondo de melhores diálogos, inclusive alguns até reflexivos no núcleo “circense”, uma montagem bem cadenciada e uma pegada mais pessoal, O Dragão Renascido faz um equilíbrio melhor entre ritmos e continua naturalmente nos inserindo nesse universo misterioso que, agora, soa mais intrigante dramaticamente.

A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 1X04: O Dragão Renascido (EUA, 25 de novembro de 2021)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Uta Briesewitz, Wayne Yip
Roteiro: Rafe Judkins, Amanda Shuman, The Clarkson Twins (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Barney Harris, Madeleine Madden, Daniel Henney, Helena Westerman, Michael McElhatton, Alexandre Willaume, Álvaro Morte
Duração: 175 min.

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