Home TVEpisódio Crítica | A Roda do Tempo – 1X07: As Trevas nos Caminhos

Crítica | A Roda do Tempo – 1X07: As Trevas nos Caminhos

Romance medieval juvenil.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Essa série tem um sentimento de aventura tão falso. Esse episódio termina de maneira extremamente similar ao anterior, com os personagens de frente a um caminho obscuro como um cliffhanger barato para o próximo capítulo. Me pergunto se o episódio final da temporada irá seguir a mesma “aventura” deste, nos oferecendo 10 minutinhos de ação mal dirigida e com fotografia escura ao ponto de tela preta, para, então, usar o restante do episódio para falar sobre breguice romântica. Para ser honesto, não acho que irá (ou pelo menos fico na esperança), pois é o season finale. Aposto que o roteiro guardou algumas reviravoltas e correrias para o desfecho da temporada. Mas, no atual estado narrativo, eu não poderia me importar menos com o futuro de A Roda do Tempo. Somente um feitiço das Aes Sedai para salvar a qualidade do primeiro ano da adaptação…

As Trevas nos Caminhos até começa promissor. Confesso que uma mulher grávida gladiando com lanças contra espadas de soldados em uma montanha invernal está entre as sequências de ação mais interessantes que assisti este ano. A fotografia gélida e limpa é visualmente estonteante, e as coreografias são prazerosas de assistir, inclusive com ótimo uso de slow-motion, normalmente um artifício técnico manuseado de maneira insatisfatória – a série já havia usado a câmera lenta com qualidade na trinca inicial e em O Dragão RenascidoEntão é difícil de entender a completa falta de habilidade da direção na sequência nos “Caminhos”. É complicado captar os acontecimentos por causa da fotografia escura – não é porque o ambiente é sombrio que a cena tenha que ficar tão visualmente inacessível. E o cineasta Ciaran Dolley mantém um tom extremamente genérico na situação, sem criar suspense, sem senso de geografia ou qualquer tipo de rigor visual; inflando o momento com close-ups e a típica explosão de luz que já se tornou anticlimática pelo seu uso repetitivo na série.

O tempo que a sequência ganha também é extremamente estranho. O episódio anterior termina enaltecendo o portal e dando indício de uma jornada, mas aí a trajetória termina em poucos minutos superficiais? É uma falta de recompensa narrativa de dar nos nervos. Também é interessante pontuar como a cena dos “Caminhos” apresenta a péssima construção dramatúrgica dos candidatos à Dragão, conforme aquela parte dos “sussurros” do vento não tem qualquer tipo de impacto dramático considerando que os últimos episódios não dão qualquer base de conflito para os jovens – com exceção, talvez, do drama de Perrin, mas que ficou esquecido e jogado no roteiro. Dessa forma, não há identificação, empatia ou qualquer tipo de conexão emocional com as adversidades do grupo. O fato de que se fosse Lan, ou até mesmo Stepin, recebendo os ruídos do mal traria mais abalo afetivo, é o exemplo da má narrativa da série. Sem foco ou qualquer direção para seus indivíduos principais.

Mas até aí, “tudo bem”. Porque eu estava notando problemas, mas a série pelo menos estava se movimentando em alguma direção aventureira. Após saírem do portal, Moiraine e companhia fazem uma parada na cidade de Fal Dara em direção ao Olho do Mundo. Gosto do começo do núcleo na cidade fortificada. Jornadas precisam de conflitos, interrupções e apresentação de novas partes desse mundo fantástico. O design de produção estava bacana e a série continua se resolvendo bem em paisagens naturais, como nos curtos momentos desérticos. O que se desenrola na Terra das Fronteiras, no entanto, é de um péssimo mal gosto narrativo. Como se tentando compensar a falta de desenvolvimento dos jovens, Rafe Judkins teceu um episódio inteiro focado em conversações e mais conversações dos dramalhões piegas e superficiais de Rand e companhia.

A Roda do Tempo é conceitualmente um épico de fantasia, mas sua adaptação parece um romance medieval adolescente. No penúltimo episódio da temporada, termos uma sucessão de momentos cafonas e diálogos bregas dessas paixões aguadas entre Rand e Egwene, e Nynaeve e Lan – até mais intrigante porque o guardião é um baita personagem -, não faz o menor sentido dramático, narrativo, de gênero ou de fechamento de temporada. O episódio é tão morno com seus dramas de cabeceira de cama pós-sexo que ao final fica uma sensação de retorno à estaca zero do episódio anterior, como citei no início da crítica. A única diferença é que o grupo está separado após a anticlimática revelação de Rand.

Era para a audiência ligar para o “sacrifício” do ruivinho? Para o desespero de Egwene? Ou então para a separação do grupo? Só posso rir dessa dramaturgia horrivelmente costurada por Judkins. Não há um senso de continuidade narrativa, de construção de aventura do gênero ou de relevância mitológica – notem como a construção de mundo está estagnada desde a montagem do quarto episódio. E o pior, devemos nos importar com esse tal “Tenebroso” que ficou na sugestão branda a temporada toda agora que nos aproximamos do clímax? Eu não me importo. Para mim, essa roda emperrada de série só parece caminhar na indiferença.

A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 1X07: As Trevas nos Caminhos (EUA, 17 de dezembro de 2021)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Ciaran Dolley
Roteiro: Rafe Judkins, Celine Song, The Clarkson Twins, Justine Juel Gillmer (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Barney Harris, Madeleine Madden, Daniel Henney, Helena Westerman, Michael McElhatton, Alexandre Willaume, Álvaro Morte, Peter Franzén, Clare Perkins, Hammed Animashaun
Duração: 62 min.

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