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Crítica | A Roda do Tempo – 3X08: Aquele Que Vem Com a Aurora

Preparativos para a última batalha.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Depois de Olhos-Dourados lidar integralmente com Dois Rios, penso que a grande quantidade de tramas e pontas soltas a serem resolvidas era o grande receio coletivo com o final da terceira temporada. Infelizmente, muitos dos problemas esperados se concretizam, como falarei mais à frente, mas de maneira geral, até que o texto de Justine Juel Gillmer tem uma costura relativamente orgânica e organizada, pendendo mais para o lado de varrer muita coisa para debaixo do tapete da próxima temporada – se for renovada, né?! – do que necessariamente concluindo alguns arcos e situações, o que de certa forma ajuda a narrativa a parecer menos corrida, se ainda bem atrapalhada e com poucas resoluções. Uma coisa, porém, é fato: essa escolha da produção em sempre deixar quase tudo para última hora, depois de episódios e episódios com bastante enrolação, é bem enervante, principalmente pela forma como tenta dar clímax para vários blocos ao mesmo tempo, perdendo força em sua falta de recompensa dramática para a audiência.

Isso fica claro no núcleo de Mat e companhia. Existem vários elementos curiosos nesse lado da história: os braceletes e o colar a serem usados no Dragão Renascido; uma nova arma chamada balefire (esqueci o termo traduzido) que parece ser perigosa, caindo nas mãos de Elayne; uma aliança forjada entre Moghedien e Liandrin para derrotarem os outros Abandonados/Amaldiçoados; e, mais inesperado do que tudo isso, Mat tendo um encontro com uma criatura de outra dimensão após pisar em um ter’angreal. São momentos interessantes colados em uma narrativa atropelada, que não sabe como dar espaço para suas revelações, tampouco tempo para destacar certos elementos. Por exemplo, o encontro de Mat acaba tão rápido quanto começa, soando quase deslocado. E os outros eventos aqui são mal resolvidos, com Elayne e Min derrotando duas Aes Sedai com uma facilidade quase boba, enquanto Nynaeve segue com suas caras e bocas inúteis, sempre usando seus poderes na hora errada – a forma como os roteiristas usam a “canalizadora mais forte em mil anos” é um negócio horrendo, indo para quase duas temporadas desse morde e assopra da personagem com seus poderes, negando-a um palco e um impacto na trama.

É nítido como a mitologia rica parece escorrer por roteiros frágeis e mal estruturados, que não fazem uso completo da construção de mundo de Robert Jordan. Isso é exemplificado em outro núcleo, envolvendo os acontecimentos na Torre Branca. O que era a trama mais interessante na minha visão, se torna um fast-forward para matar Siuan. Depois de vários episódios sem pisar na torre, o roteiro simplesmente coloca Elaida no trono com uma velocidade esquisita, apresentando um golpe que em nenhum momento soa orgânico, ainda mais depois da última vez que vimos as personagens, quando Siuan parecia estar em vantagem estratégica. O golpe e, por consequência, a sentença de morte são momentos em si interessantes, com um discurso bonito de Siuan e um flashback que mostra como o ressentimento cresceu em Elaida, mas não são situações bem construídas, meio jogadas para que tenhamos a morte da personagem o mais rápido possível para convergir com Moiraine.

Felizmente, o núcleo de Rand continua funcionando – não à toa, porque é a linha narrativa que teve melhor desenvolvimento prévio. Sigo surpreso com a evolução do Dragão, cada vez mais tênue e com uma personalidade clara em suas decisões divisivas (Egwene que o diga!), puxando um ar de Paul Atreides em sua tomada de poder – ambos inspirados em elementos messiânicos, de Jesus, obviamente, que tinha um caráter revolucionário e que trouxe mudança para um mundo de tradições, doutrinas e fundamentalismo. O enfrentamento de Rand e seu agradecimento à Moiraine são os pontos altos dramaticamente falando, apesar de que, mais uma vez, sinto que o roteiro é corrido, sem dar um tempo para conhecermos e entendermos a cultura e a reação desse povo – não me venham falar de tempo, porque os filmes de Duna condensaram temas similares muito bem em menor duração; falta tato e foco.

As melhores dinâmicas do episódio também estão nesse núcleo, com destaque para a participação de Lanfear, que precisa começar a traçar respostas e contra-ataques depois da traição de Rand. Por mais maniqueísta que ela possa ser, com poucas camadas ali de latitude dramática (muitas delas envolvendo ciúmes), a vilã tem presença e carisma, trazendo algum nível de urgência para um episódio de certa forma letárgico em sua falta de grandes antagonistas. A batalha com Moiraine tem bons efeitos especiais e é bem dirigida – aliás, que episódio lindão em sua fotografia do deserto -, a despeito de mais conveniências, como o fato de Moiraine sobreviver e contra-atacar com uma espada atravessada pelo estômago ou então como Lanfear subitamente fica fraca. São bons momentos que, também, são mais preparativos, toada de todo o episódio, que se reserva a jogar muita coisa com a barriga, e mesmo assim soa corrida, para a gente ver a quantidade de coisa acumulada, fruto de uma temporada cheia de buracos narrativos. Penso que o texto até faz um milagre, deixando Aquele Que Vem Com a Aurora ser relativamente funcional, estabelecendo bastante coisa para uma nova temporada que, a contrário da opinião pública, quero sim que aconteça, mas desde que a equipe criativa passe a explorar melhor esse mundo, sua mitologia e seus personagens conceitualmente fascinantes. Fica a expectativa.

A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 3X08: Aquele Que Vem Com a Aurora (He Who Comes with the Dawn) – EUA, 17 de abril de 2025
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Ciaran Donnelly
Roteiro: Justine Juel Gillmer (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Natasha O’Keeffe, Laia Costa
Duração: 68 min.

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