Home QuadrinhosMinissérie Crítica | A Torre Negra: O Pistoleiro – A Jornada Começa

Crítica | A Torre Negra: O Pistoleiro – A Jornada Começa

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

A segunda maxissérie em quadrinhos baseada na saga A Torre Negra, de Stephen King, tinha um problema bem complicado para lidar: enquanto o primeiro arco da primeira série adaptou o flashback para o passado contido em Mago e Vidro, o quarto livro, e os quatro arcos seguintes foram expansões de elementos da mitologia mencionados em maior ou menor grau por seu autor, a não ser que Robin Furth e Peter David mergulhassem diretamente nas adaptações dos demais livros, não havia material base para ser usado. Essa característica, então, serviu ao mesmo tempo como uma alforria e uma âncora ao primeiro arco de O Pistoleiro, que é o subtítulo usado ao longo dos cinco arcos, cada um composto de cinco edições.

A escolha foi clara: continuar a saga de Roland Deschain de forma a fazer a ponte entre A Batalha da Colina de Jericó, o último arco da maxissérie anterior e os eventos descortinados em O Pistoleiro, o primeiro livro do épico de King. Sem qualquer base literária, Furth então voltou ao básico, começando sua história com o encontro de Roland com Brown, morador do deserto Mohaine, no início do referido livro. Usando a mesma estrutura que Stephen King, ela, então, cria um história em flashback que vai aos momentos seguintes da batalha final dos pistoleiros remanescentes contra o exército de John Farson, com Roland dado como morto e prestes a ser queimado em piras com os corpos de seus amigos.

Mas, claro, ele não está morto e consegue se levantar, sendo surpreendido ao descobrir que Aileen também está viva, ainda que apenas por um fio. Seguindo o desejo da única pistoleira da história do Mundo Médio, Roland à leva de volta à Gilead, para que ela seja enterrada ali. Esse trajeto, o que o pistoleiro encontra em sua cidade-natal, as memórias que isso traz e uma espécie de epílogo na cidadezinha fortificada de Kingstown (pegaram a referência?), então, formam a estrutura fragmentada da trama proposta por Furth e roteirizada por Peter David.

A narrativa é episódica e claudicante, quase como se cada um dos três primeiros números contasse uma história diferente, mas interconectada com a seguinte e os últimos dois fechassem a narrativa com o encontro de Roland com uma jovem muito parecida com Susan Delgado que, sim, se chama Susan também e que é sequestrada por não-homens. Há pouca ação no conjunto geral, com muito da história sendo dedicada ao último Pistoleiro remoendo seu passado em Gilead, especialmente os eventos que levaram à descoberta por ele e Cuthbert, ainda crianças, que o cozinheiro Hax era um traidor e seu enforcamento subsequente.

Roland, "Trapalhões" e Vagos Mutantes nas ruínas de Gilead.

Roland, “Trapalhões” e Vagos Mutantes nas ruínas de Gilead.

O que a história como um todo marca com clareza é o drama da vida de Roland e o quanto, de uma maneira ou de outra, qualquer um que se aproxima dele está fadado a morrer. Com flashbacks dentro de flashbacks, percebemos de maneira funcional todo esse histórico de violência ao redor do protagonista que, apesar de sua valentia inegável, não consegue lutar contra seu destino ou mesmo desviar-se por um milímetro que seja do que está preordenado para ele. Roland é uma figura trágica cuja vida poderia ser paralelizada com a de messias de textos religiosos variados. Ele carrega a culpa do mundo nos ombros e segue seu caminho em linha reta, ocasionalmente fazendo o bem, mas normalmente apenas dando um passo na frente do outro e lidando com o que aparece na sua frente, na medida em que ele avança.

Também de certa forma, o roteiro funciona como um ponto de entrada para leitores novos que não tenham lido o livro e nem mesmo a primeira maxissérie. E a estratégia funciona até certo ponto, pois, ainda que a história que é descortinada no arco não dependa de conhecimento prévio, alguns personagens e elementos certamente parecerão perdidos e aleatórios, como a súbita aparição de Marten Broadcloack, o Homem de Preto, ou o que Susan Delgado efetivamente significou em sua vida. Em outras palavras, desconhecer o passado imediato de Roland tira completamente o peso da história, mesmo que não a invalide completamente.

Outra característica dessa segunda maxissérie da Marvel Comics no universo da Torre Negra é a rotação da equipe artística. O grande Jae Lee é carta fora do baralho aqui, mas Richard Isanove continua com seu trabalho de cores. No lugar de Lee, entra Sean Philips e o choque estilístico para quem estava acostumado com a dupla anterior é bastante grande, notadamente na aparência de Roland Deschain. O estilo mais sombrio que marcava o trabalho anterior é suavizado aqui, com uma aparência mais jovial ao protagonista, sem aquelas sombras pesadas no rosto. O mero fato de vermos mais de Roland já é uma sensível diferença, mas que não é negativa por si mesma. São, apenas, traços bem diferentes e os de Philips, depois que o leitor se acostuma, funcionam muito bem na progressão narrativa e nas sequências de ação, mas não tão bem nos detalhes dos rostos que são bem mais genéricos e comuns.

A Jornada Começa não tem a gravidade e a urgência dos arcos anteriores, mas serve de ponto de entrada para leitores novos e, também, como uma ponte entre a proposta anterior e a nova, quase que como um período de transição. Faltou um pouco de coesão narrativa, mas a falta de material base pode ter sido a causa, algo que já é curado logo no segundo arco.

A Torre Negra: O Pistoleiro – A Jornada Começa (The Dark Tower: The Gunslinger – The Journey Begins, EUA – 2010)
Conteúdo: A Torre Negra: O Pistoleiro – A Jornada Começa #1 a 5
Roteiro: Peter David, Robin Furth (baseado em romance de Stephen King)
Arte: Sean Philips, Richard Isanove
Letras: Russ Wooton
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: julho a novembro de 2010
Editora no Brasil: não publicado no Brasil na data de publicação da presente crítica
Páginas: 111 (encadernado americano)

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