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Crítica | A Última Coisa Que Ele Queria

por Iann Jeliel
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A Última Coisa Que Ele Queria

O jornalismo tem como fundamento mais básico a capacidade de passar uma informação ao interlocutor. Tratando-se de um filme na temática, o mínimo que se espera dele é o mesmo princípio, mas A Última Coisa Que Ele Queria não consegue nem dizer sobre o que é, quem dirá a que veio. Algo assustador, não só pesando na proposta teoricamente informativa, mas principalmente quando pensamos na galera talentosa envolvida no projeto. Não só o elenco estelar, como também a diretora, que assina o roteiro, Dee Rees, responsável pelo ótimo Mudbound, perdeu completamente a mão em ritmo, montagem e estágios dramáticos ou temáticos, se é que existe algum.

São centenas de propostas que não possuem uma linha de direcionamento, jogadas e desorganizadas em blocos desconexos e irrelevantes, ou pelo menos tratadas de modo irrelevante. Parece que o filme atira para todos os lados intencionalmente, mas nem sabe exatamente em que está atirando. Não é nem aqueles casos que tentam falar de tudo e acabam não falando nada, mas sim, literalmente um filme que quer falar de tudo e desiste de falar sobre cada coisa que tenta. É uma descomunhão completa de elementos narrativos, estilísticos e substâncias. Algo provavelmente deve ter dado errado na produção ou o material fonte deve ser tão mal escrito quanto, porque há uma filmagem consciente da diretora, mas que incrivelmente não consegue comunicar nada, já que não há sincronia unitária com quaisquer outras características ou movimentos de trama.

A Última Coisa Que Ele Queria é um filme confuso no sentido mais negativo da palavra, que não instiga, pelo contrário, mergulha o espectador no marasmo da pescaria de nenhum peixe por perto, os que têm até beliscam a isca na superfície, mas logo vão embora. Me arrisco a dizer que o grande causador disso é a montagem, que nunca deixa claro suas temporalidades ao mesmo tempo que didatiza os acontecimentos de forma dentro delas de forma ofensivamente óbvia. Sim, é um paradoxo estrutural, geralmente ocasionado pela falta de comunicação mesmo entre os setores de produção, o que nos faz desconfiar sobre como está o andamento dessas parcerias da Netflix com esse grandes que ela chama e até onde seus princípios de autoria são realmente correspondidos pela produtora.

Tiro como exemplo a última cena, que talvez seja a única no filme todo que realmente tente fechar um raciocínio plantado. Com ela fica muito claro que a narrativa fragmentada era a ideia de Rees para organizar um tabuleiro de acontecimentos a convergir nessa última cena que representaria o centro narrativo. É uma característica da diretora que não é respeitada pela montagem por que tenta esclarecer coisas que propositalmente poderiam ser confusas com consciência e dão a impressão de que não são porque a interferência de algum outro setor da produção queria deixar o filme mais mastigado para os padrões do streaming, criando uma bola gigantesca de falta de coesão.

Acaba que essas duas unidades se conflitando geram um filme praticamente sem unidade estilística e narrativa. Se não fosse o comprometimento de Anne Hathaway, a única que se esforça em tamanha bagunça apresentada o filme não seria sequer assistível, é através dos seus olhares e gesticulações que é possível imaginar o que Rees queria, mas querendo ou não, falhou miseravelmente, entregando um dos piores originais Netflix já feitos até o momento.

A Última Coisa Que Ele Queria (The Last Thing He Wanted | EUA, 2020)
Direção:
Dee Rees
Roteiro:
Dee Rees, Joan Didion, Marco Villalobos
Elenco:
Anne Hathaway, Ben Affleck, Rosie Perez, Willem Dafoe, Edi Gathegi, Mel Rodriguez, Onata Aprile, Toby Jones, Carlos Leal, Ben Chase
Duração:
115 minutos

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