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Crítica | A Última Noite (2021)

Um resultado aquém do seu potencial.

por Felipe Oliveira
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Filmes natalinos, aí vamos nós. Fim de ano tende a reservar muitas tradições festivas, e com ela, a reflexão do que foi feito durante o ano, enquanto nos despedimos do velho para abraçar a chegada de mais um ano que se inicia. Talvez a maior ironia de A Última Noite (Silent Night, 2021) seja em embalar em sua premissa a habitual reunião familiar com uma ceia, momento esse para a típica troca de farpas entre parentescos e amigos. Nesse ponto, é onde o longa se lança sobre a atmosfera mais leve de sua proposta antes de adentrar ao contexto do fim do mundo. Sendo menos desolador do que pretendia, Silent Night é um suspense dramático prendido em um laço frouxo demais para se sustentar em suas poucas inspirações.

Estreando como roteirista e diretora em um longa-metragem após um histórico com curtas, Camille Griffin realizou o seu debut com um elenco caprichado, daqueles que se faz chamativo e logo pontua como um dos principais fatores para valorizar a produção. Há um perigo iminente atingindo várias áreas, e a boa sacada aqui foi não definir uma origem para tal ameaça, mas usando desse inevitável fenômeno para falar de suas implicações e efeitos. E o arco estabelecido é esse: não tem como saber como cada pessoa tem reagido, e Griffin seleciona em sua história a maneira que uma família decidiu lidar numa conflituosa confraternização, que bem, como o título aponta, será a última.

Enquanto a ameaça não chega, mas está na entre linhas, aos poucos instaurando tensão, Silent Night aposta na comédia britânica para explorar seu humor ácido. Tal escolha serve para destrinchar as nuances dos personagens que mesmo em um possível último dia de suas vidas, na espera do fim, não prepararam mais nada para aproveitar o momento, apenas embarcaram na tipicidade da festa curtindo e odiando a si mesmos. Porém, ao mesmo tempo que esse uso do humor seja também um alívio narrativo antes da tempestade trazer a morte com um gás venenoso, é também o ponto mais fraco da história de Griffin, ao não ir além do óbvio.

Das poucos informações que a produção passa sobre a ameaça, é onde também Griffin insere alguns pontos de reflexão, ao cutucar se o gás age como uma resposta da natureza às nossas ações; ou seria uma arma usada pelos Russos ou numa era de propagação de fakes news, os personagens estão passando por uma manipulação das ideias, e por fim, inseridos nesse contexto da inevitabilidade. Nisso, ficarmos a par de uma “alternativa” do Governo para enfrentar o inevitável gás que está passando por todos os lugares, mas tal alternativa é algo que não favorece a pobres e imigrantes, deixando para perspectiva essa última reunião da classe alta, e nos seus privilégios, preparando a grande casa que estão alocados para o fim, sendo suas camas chiques como o leito de suas mortes.

De todos os ângulos que Griffin foi apontando, o impacto parece surgir a caminho do ato final do longa, que em meio ao fraco uso do humor ácido, se perdia a uma gama de superficialidade nas tentativas de provocar suspense, drama, tensão e desconforto em personagens desinteressantes em sua maioria, o que cabe aqui ao acerto dramático o papel de Roman Griffin Davis como Art, ao funcionar como catalisador das proporções que o medo e o desespero vão assumindo, e também. mesmo que sem muito apelo, Lily-Rose Depp e sua Sophie ter uma participação para o arco mais aproveitado do longa, sendo Art o grande responsável pelo filme conseguir alcançar alguma nota de comoção.

Em suma, A Última Noite parece um típico filme natalino, com uma ceia caótica sendo servida e um fim inevitável precedido. Das muitas interpretações que concedeu, voltou para um caminho fácil em seu desfecho depois de tentar deixar o impacto e a angústia como última degustação.

A Última Noite (Silent Night – Reino Unido, 2021)
Direção: Camille Griffin
Roteiro: Camille Griffin
Elenco: Keira Knightley, Matthew Goode, Roman Griffin Davis, Annabelle Wallis, Lily-Rose Depp, Sope Dirisu, Kirby Howell-Baptiste, Lucy Punch e Rufus Jones
Duração: 90 minutos

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