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Crítica | A Vida de Dug – 1ª Temporada

por Iann Jeliel
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A Vida de Dug

A Vida de Dug faz parte de uma série de projetos animados envolvendo os personagens da Pixar, para preencher catálogo do Disney Plus com conteúdo original. Não chegam a ser conteúdos feitos a toque de caixa, é só perceber pelo nível de qualidade dos traços animados. Tampouco, possuem qualquer ambição semelhante as animações que originaram. Nesse caso específico para os cinco curtinhas protagonizados pelo cachorrinho alívio cômico de Up: Altas Aventuras, isso foi até bom.

Particularmente, sou um dos únicos a não gostar de Up – o Ritter que me perdoe –, justamente por ele não corresponder suas ambições no lado lúdico da aventura. A tentativa de fazer um drama “realista” sobre velhice no primeiro ato, a meu ver, é diminuído pelo caráter genérico do restante, que se acha especial pelo pouco – mas efetivo – apelo dramático dado no início. Em A Vida de Dug, há de se pensar uma preposição semelhante. A ideia de imaginar situações realistas que acontecem com qualquer pai de pet e seus “duginhos”, só que no imaginário do cachorro falante carismático do filme animado, é um terreno propicio para fazer narrativas de fácil apelo emocional. Afinal, cães são bichinhos fofinhos por natureza. Dug, é fofinho por natureza. Todos os curtas são basicamente, Dug fazendo coisas fofas da natureza dele e de cachorros em geral. Além de convenhamos, coisas envolvendo cachorros no audiovisual geralmente ficam nesse bonitinho choroso superficial.

Felizmente, a minissérie se encaixa em uma exceção do caso, pelo inesperado tratamento sensível humorístico de seu criador e dublador original do personagem, Bob Peterson. Responsável pelo recente Garfinho, Pergunta, e diferente dele, os curtas aqui parecem utilizar a comédia do personagem de maneira mais espontânea ao tom de didatismo das minis histórias, promovendo as situações, aquela boa e velha, lição de moral, muito efetiva ao infantil quando transparecida por Dug. O tipo de humor de contraste a fisicalidade boba do animal com a fala serena e robotizada de um humano não muda muito, mas o encaixe parece muito mais adequado a essa proposta cotidiana descompromissada. O primeiro curta, intitulado Squirrel!, acompanhando ele perseguindo um esquilo roubando as comidas da casinha da pássaros que Carl (Ed Asner) construiu, é o mais significativo a este tipo de comédia, logo, também o menos divertido para mim, apesar de ter um senso crescente de caótica ala Tom & Jerry bem estimulante.

O curta seguinte, denominado Puppies, já possui uma comédia mais inventiva, utilizando o contraste no próprio senso de fofura dos filhotinhos que Dug precisa cuidar temporariamente, vendendo-a como perigosa, afinal quem já teve cachorro com ninhada, sabe o quanto eles são “capetinhas” que destroem tudo ao seu redor. Ver Dug fugindo deles e/ou tentando esconder seus brinquedos das suas patinhas, é deliciosamente tenso. O terceiro nomeado Flowers, meu segundo favorito, tem também um senso de suspense interessante, direcionado a um mistério, sobre um cheiro não identificado pelo personagem, o qual na construção imagética apurada do episódio, através de recursos didáticos de montagem, com desenhos onomatopeias, emulam o seu ponto de vista como farejador, criando em nós como público mesmo senso de curiosidade.

O quarto chamado Smell é o mais simples e curto, centrado somente numa piada sobre o medo dos cachorros com fogos de artificio. Assim como o anterior, há um tratamento perspectivo da imagem, em tentar emular o porquê que eles soam tão assustadores aos animais, quando colocados sobre o seu ponto de vista. Novamente, funciona muito bem, principalmente para dar o respaldo a reativa da piada. Contudo, o curta não depende só do fazer rir dela, para funcionar. Tanto que há um segmento psicodélico a parte, em sua outra metade, devidamente engraçado por motivos isolados. Por fim, o último episódio, Science, coloca Dug para conversar com outros animais, mais especificamente o esquilo do primeiro episódio e um outro passarinho, disputando um resto de comida. Esse é meu favorito de todos, não exatamente pela participação especial de Russell (Jordan Nagai) como provedor de coleiras que fizeram esses animais falarem, mas sim pela virada, de como aquela situação se converte numa reflexão promíscua acerca da domesticidade de um animal. O final desse curta, consegue ser bem mais genuinamente emocionante, que o longa-metragem de origem.

Farpas a parte, como podem perceber, A Vida de Dug é uma coletânea de levantar o astral até para chatos como eu, que geralmente não gosta de filmes de cachorro ou definitivamente não curte o para muitos, o melhor filme da Pixar. É aquela típica coisa boa de se assistir para salvar um dia turbulento, aquecer o coração e dar um beijo no seu bichinho após uma minimaratona.

A Vida de Dug (Dug Days | EUA, 2021)
Criação: Bob Peterson
Direção: Bob Peterson
Roteiro: Bob Peterson
Elenco: Ed Asner, Bob Peterson, Neketia Henry, Jordan Nagai, Simon Helberg, Jeff Pidgeon, Sarayu Blue, Heather Eisner, Moon Choe
Duração: 5 episódios – 10 minutos cada episódio

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