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Crítica | A Vida Sexual das Universitárias – 1ª Temporada

Com o selo de qualidade cômica de Mindy Kaling, série flerta com Sex and The City, numa versão juvenil e com temas contemporâneos.

por Leonardo Campos
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Como já mencionado por aqui em análises de outras narrativas seriadas que versam sobre o universo feminino, muitas das produções atuais neste segmento são herdeiras do legado e do impacto cultural exercido por Sex and The City. As histórias sobre as amigas nova-iorquinas que dividem as suas experiências pessoais e profissionais cotidianamente inspiraram e ainda continuam inspirando muitos realizadores na expansão de tramas ficcionais que dialogam com essa estrutura, mas possuem um direcionamento próprio. Esse é o caso de A Vida Sexual das Universitárias, criada por Mindy Kaling e Justin Noble, um programa que tal como Run The World, Harlem, dentre outras similares, retratam as experiências sexuais e os dilemas sentimentais de um grupo de personagens oriundos de existências contrastantes, mas que se unificam para tornar as suas respectivas caminhadas compartilhadas com sororidade e empatia. Aqui, em episódios com média de 27 minutos, acompanhamos a jornada de quatro jovens rumo ao ambiente universitário, todas motivadas pela travessia de uma nova fase da vida. Com muito charme e situações cômicas, mas que por detrás do riso, expõem debates pertinentes ao comportamento humano na contemporaneidade, a série diverte, mas também se posiciona. Kaling, experiente como atriz e escritora, sabe exatamente em quais pontos tocar para versar sobre a interseccionalidade feminina e seus relacionamentos interpessoais.

No quarteto principal, temos Leighton (Reneé Rapp), uma das mais privilegiadas do grupo. Ela vem de família rica, mas nem por isso deixa de passar por dilemas. A jovem acredita que as suas experiências sexuais não sejam coisas para se compartilhar com amigos e, por isso, vivencia vários conflitos internos ao esconder o seu interesse por mulheres. O pai, em especial, antigo estudante da instituição onde a trama se passa, tem um carinho enorme pela filha, algo que a faz temer uma saída do armário, haja vista a perda do tom estabelecido no relacionamento de ambos. Em camadas, a série vai demonstrando as descobertas da jovem, bem como o seu amadurecimento diante dessas questões. Kimberly (Pauline Chamalet) é o oposto no quesito status social. Diferente da colega de quarto, ela tenta ser a estudiosa do grupo, pois é oriunda de uma criação mais humilde e, por isso, luta para se adaptar à nova realidade da universidade. Para conseguir uma manutenção melhor, ela arruma um emprego na cafeteria do local, espaço cênico onde dois coadjuvantes interessantíssimos a ajudarão a nos entregar momentos muito divertidos. É um emprego que, por sua vez, vai lhe atrapalhar bastante nos estudos e gerar conflitos ao longo dos episódios dessa e da próxima temporada.

Bela (Amrit Kaur) é a terceira integrante do grupo que apresento por aqui. Ela é a oportunidade para Mindy Kaling deitar e rolar com as peripécias de uma mulher indiana que enfrenta a pressão cultural e familiar, explorando sua identidade enquanto se adapta à vida universitária. Para quem não a conhece, Kaling também é indiana e traz para a cena, elementos bastante pessoais de sua própria jornada. Muito engraçada e cheia de vida, ela é a amiga que muitas vezes dá um toque leve às situações tensas. Ao se esforçar para equilibrar suas tradições culturais com a liberdade conquistada em sua jornada acadêmica distante do olhar controlador da família, ela usa do humor para lidar com suas tensões, em especial, por almejar uma carreira como comediante. Por fim, temos Whitney (Alyah Chanelle Scott), jovem que assim como Leighton, possui alguns privilégios sociais não presentes na vida de todas as que dividem o mesmo quarto. Ela é uma atleta talentosa, se destaca por sua força e disciplina, mas enfrenta pressões tanto esportivas quanto sociais, o que a leva a questionar sua identidade além do esporte. Apesar de sua imagem constantemente forte, Whitney também lida com vulnerabilidades internas, o que a torna uma personagem complexa e interessante, principalmente pelas cobranças por ser a filha de uma proeminente senadora, o que a deixa diante do olhar crítico de todos ao seu redor.

Expostas as personagens principais, o que tenho a refirmar sobre A Vida Sexual das Universitárias, disponível na plataforma de streaming HBO Max, é o seu frescor ao tratar de temas bastante abordados na mídia desde Sex and The City. Aqui, temos um olhar muito peculiar, com situações que mesclam momentos cômicos e dramáticos dentro de um panorama de episódios equilibrados. A tensão e o humor se distribuem ao longo das situações expostas durante a temporada, não apenas entretendo, mas também provocando reflexões sobre temas relevantes que permeiam a adolescência e a transição para a vida adulta. O exercício da sexualidade é uma palavra-chave em destaque na série, mas o programa consegue também debater outros pontos sobre essa fase na vida de qualquer estudante diante dessa transição. As protagonistas, diferentes em suas origens e vivências, lidam com a descoberta de suas identidades sexuais em um ambiente que é, muitas vezes, repleto de pressão social e expectativas. A série trata de maneira honesta as experiências de cada personagem, seja através de relacionamentos casuais, romances mais sérios ou a simples busca por autoconhecimento. Kaling utiliza o humor e a leveza para discutir tópicos delicados, incentivando uma conversa aberta sobre sexualidade em um contexto que ainda é considerado tabu em muitas culturas.

Na esfera estética, A Vida Sexual das Universitárias não apresenta momentos espetaculares. A sua equipe de realizadores cumpre exatamente o esperado de uma produção com perspectiva juvenil, estruturada por uma sala de roteiristas que, por sinal, é diversa e democrática. Na direção de fotografia, Rick Page, David J. Miller e Chuck Ozeas assinam a maioria dos episódios, entregando cenas que em sua maioria, são diurnas, e exploram bastante os espaços universitários de arquitetura grandiosa e muitas áreas verdes livres, por onde circundam os personagens principais e coadjuvantes. No design de produção, também embasado na animosidade juvenil das protagonistas, temos os espaços cuidadosamente erguidos pela equipe supervisionada por Angelique Clark e Susie Mancini, além dos figurinos de Phoenix Mellow, assertivos ao trajar cada uma das moças do grupo, todas com esperanças de vida similares, mas com perfis sociais, físicos e psicológicos completamente diferentes. Na condução sonora, Jose Stephens também cumpre bem o seu papel de colocar em cena, uma musicalidade que reflete o frescor de um ambiente atravessado por muitas figuras ficcionais jovens em processo formativo, cheias de planos, expectativas, dentre outros sentimentos próprios ao período.

Em linhas gerais, um programa divertido e interessante, que amplifica os conflitos dramáticos de suas protagonistas ao longo da também eficiente segunda temporada.

A Vida Sexual das Universitárias – 1ª Temporada (The Sex Lives of College Girls/EUA, 2021)
Criação: Mindy Kaling, Justin Noble
Direção: Lila Neugebauer, Kabir Akhtar, Zoe R. Cassavetes, Tazbah Chavez, Daniella Eisman
Roteiro: Mindy Kaling, Justin Noble,Vanessa Baden, Sheridan Watson
Elenco: Pauline Chalamet, Amrit Kaur, Reneé Rapp, Alyah Chanelle Scott, Ilia Isorelys Paulino, Christopher Meyer, Renika Williams, Mekki Leeper, Sierra Katow, Midori Francis
Duração: 300 min. (10 episódios)

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