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Crítica | A Vingança do Homem Invisível

por Iann Jeliel
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A Vingança do Homem Invisível

As continuações de O Homem Invisível, diferente dos demais monstros clássicos da Universal, não buscavam criar justificativas malucas para colocar seus astros em cena novamente, podendo ser classificadas como sucessivos remakes intitulados como continuações, ou spin-offs de histórias independentes com o personagem que podiam repetir vários elementos, mas de alguma forma, buscavam narrativas novas a contar. Sendo assim, este não é um final de trilogia, pelo contrário, se em A Volta do Homem Invisível ainda existia alguma conexão com o anterior para um senso de continuidade, agora em A Vingança do Homem Invisível não existe gancho algum, é uma história nova, com outro Griffin, outra origem e desdobramentos narrativos, por mais que estruturalmente seja ridiculamente familiar.

Contextualizando as diferenças, Griffin não é mais o cientista, e sim a cobaia de um que o encontra convenientemente enquanto foge da polícia após escapar de um manicômio. Já não muito certo da cabeça, ele aceita adquirir o poder da invisibilidade para buscar vingança contra antigos “amigos”, parceiros de uma expedição à África que traíram sua confiança, e tentar conquistar a filha de um casal deles. Percebam que há uma mistura das premissas dos outros dois, do primeiro na parte que tange a Griffin ser uma pessoa instável que revela sua verdadeira natureza ao se dispor do poder, e do segundo, pelo elemento do romance e fuga como motriz motivacional, inicialmente direcionado para a liberdade e depois corrompido para a vingança, infelizmente não só por influências naturais.

Apesar da loucura vim dele próprio, e a intenção de revanche ser arquitetada antes de ter a fórmula injetada em seu corpo, aquela funcionalidade científica anteriormente adicionada persistiu, aquela que diz que o soro afeta o cérebro do hospedeiro e o leva lentamente a uma maior insanidade. Ou seja, não adianta muito o gatilho motivacional se ele tem esse plural da fantasia, aliás fica até difícil saber até onde vai a influência de cada. Fora que já é genérico por si só dizer que o rapaz é louco porque ficou muito tempo preso, as mirabolâncias motivacionais da história só pioram quando vão revelando exatamente o que irá fazer o protagonista caçar cada uma de suas vítimas. Tão banais que poderiam transformar esse filme facilmente em um slasher, onde a forma da morte é o que renderia o entretenimento, mas o filme se leva mais a sério do que deveria.

E é difícil levar a sério alguns dos conceitos implementados aqui, especialmente o da transfusão de sangue como controle de invisibilidade, algo que não faz o menor sentido dentro do próprio universo do filme e chega a ser cômico quando usado para algumas situações. O efeito temporário faz com que a transformação sofra mutações ao longo do tempo, mutações instáveis que só se estabilizam através da matança (?!). Griffin está invisível, daqui a pouco não está mais, daqui a pouco fica transparente, ou com apenas o braço à mostra… Enfim, é uma bagunça completa. Fica parecendo apenas um show-off gratuito do poderio de efeitos visuais – nem preciso dizer que estão datados – que, pasmem, são inferiores aos do clássico de 1933, ou pelo menos, como não têm disfarce, fica ainda mais evidente de que se trata apenas de efeitos.

Nos vai e vens infinitos da história, a mistureba mencionada da psicopatia e o efeito do soro impede que o dilema do protagonista com seu par romântico inteiramente passivo seja comparável. A outra parte da moeda só tem o desenvolvimento até a conexão com essa personagem, então o marasmo entre os acontecimentos se torna extremamente claudicante. Não há tensão, nem criatividade nas mortes – a do final é inacreditável de tão absurda –, o ponto mais interessante mesmo é se divertir com a canastrice de John Hall quando está no papel do Homem Invisível, ainda mais caricatural e maquiavélico nas gesticulações, embora esteja muito abaixo dos ótimos trabalhos de Vincent Price e Claude Rains nas encarnações anteriores.

Esse filme demarca a última das sequências da era clássica do Homem Invisível na  Universal, considerando que em meados de 1945 seus monstros já não davam o mesmo retorno financeiro que o esperado. A Vingança do Homem Invisível, então, matou a possibilidade de outra sequência para o monstro e, sem dúvidas, é o mais fraco por ele “estrelado”, mas adequando a visão para algo menos sério – lembrando que o diretor Ford Beebe tem essa credibilidade no lado meio tosco com Flash Gordon (1940) e Besouro Verde (1940) – e considerando uma curiosidade para conhecer todas as suas encarnações, vale a conferida.

A Vingança do Homem Invisível (The Invisible Man’s Revenge / EUA, 1944)
Direção:
Ford Beebe
Roteiro: Bertram Millhauser (Baseado na obra literal de H.G Wells).
Elenco: John Hall, Leon Errol, John Carradine, Evelyn Ankers, Gale Sondergaard, Lester Matthews.
Duração: 79 minutos

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