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Crítica | A Volta do Homem Invisível

por Iann Jeliel
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A Volta do Homem Invisível

Para quem reclama de continuações e criação de franquias intermináveis na história do cinema, saiba que essa “problemática” não é de hoje, ela já existia até mesmo na era de ouro hollywoodiana, considerada por muitos o berço da originalidade cinematográfica.

Pois bem, é só observar a grade dos hoje tidos como clássicos, mas que na época recebiam um rótulo parecido ao cinema blockbuster, dos monstros da Universal, que não iriam se contentar com a criação das figuras icônicas do terror, mas também tentar aproveitar ao máximo seu sucesso em diferentes continuidades, algo que viraria tendência nos movimentos posteriores populares do horror, tais como os slashers oitentistas (Sexta-Feira 13, Halloween), ou mais recentemente, as grandes franquias sobrenaturais (Atividade Paranormal, Invocaverso).

Tratando-se de O Homem Invisível, por mais que não tenha exatamente nenhuma continuação de qualidade à altura do primeiro filme (que em minha particular opinião é o melhor dentre os clássicos de monstros), nenhuma chega a ser exatamente descartável pelas possibilidades centradas em dilemas realistas que, de alguma forma, refletiam horizontes novos em cada continuidade, sem forçar conexões absurdas para justificar o andamento da franquia.

Tudo bem que em A Volta do Homem Invisível até existe o gancho vindo do universo do primeiro filme, onde Jack Griffin, o Homem Invisível original, tinha um irmão, Frank, que também era cientista e estava trabalhando na fórmula capaz de tornar a matéria invisível, mas a história em si não gira em torno dele, e sim de Geoffrey Radcliffe, um fugitivo de um crime que não cometeu que encontra na fórmula uma brecha para poder escapar, mesmo sabendo das consequências.

Quais consequências? Bem, aí estão localizados alguns dos problemas que fazem essa continuação perder a autenticidade maliciosa do primeiro filme, que sustentava a questão do horror no puro sadismo de Jack proporcionado pelo poder de estar invisível na sociedade, e assim ter liberdade para fazer o que quisesse para gerar o caos. Quando insere a informação de que a fórmula vai deteriorando a mente da cobaia e a levando à tendência violenta, perde-se bastante o impacto de exercício de gênero, tornando-o até meio genérico motivacionalmente falando: “cuidado, ele é louco”.

Por outro lado, dentro da proposta específica do filme, essa justificação da funcionalidade científica leva a outras questões dramáticas que acabam por ser eficientes. A quase protocolar inserção de um par romântico – pelo menos algo que está em meia dúzia desses filmes aleatórios da Hollywood clássica – dramatiza um amor impossível comprável, pela química do casal e pela situação de perseguição em que o protagonista se encontra. O mote dramático do filme irá se concentrar na genérica busca pela cura, motivação plausível para movimentar a narrativa, até ajuda Frank a não ser um mero deus ex machina na história, já que a consciência pesada da perda do irmão é um sustentáculo interessante de arco particular.

O deterioramento mental então serve como obstáculo para essa fuga romântica, um desvio que levará Geoffrey a despertar o nutrido sentimento de vingança contra aquele que falsamente o incriminou, e nessa parte, desenhada para os finalmentes, é quando o filme enfim encontra o lado vilanesco de seu homem invisível. É pouco, e com motivações morais bastante frágeis, mas graças à performance de Vincent Price – definitivamente a melhor coisa do filme –, as pontas amarradas no clímax garantem um estímulo similar à caótica maquiavélica de Claude Rains – intérprete do monstro no primeiro longa – , só que concentrada no núcleo de personagens apresentados, que por terem sido bem desenvolvidos, a tensão da finalíssima criada é bastante memorável.

Entre um desenvolvimento irregular e genérico com uma execução categórica, especialmente pela evolução considerável nos efeitos visuais, A Volta do Homem Invisível se classifica como a melhor continuação da franquia do monstro em sua fase clássica da Universal.

A Volta do Homem Invisível (The Invisible Man Returns / EUA, 1940)
Direção:
Joe May
Roteiro:
Joe May, Lester K. Cole, Curt Siodmak, Cedric Belfrage (Baseado na obra literal de H.G Wells). 
Elenco:
 Cedric Hardwicke, Vincent Price, Nan Grey, John Sutton, Cecil Kellaway, Alan Napier, Forrester Harvey
Duração:
81 min.

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