Home QuadrinhosArco Crítica | A Volta do Pato Zampata e Outras Histórias

Crítica | A Volta do Pato Zampata e Outras Histórias

Uma grande variedade de conflitos.

por Luiz Santiago
424 views

O Grande Almanaque Disney (da Editora Culturama) é a primeira revista herdeira do icônico e querido Almanaque Disney (da Editora Abril), que fez a sua estreia em dezembro de 1970. Uma revista que, no passado, publicou histórias icônicas e inesquecíveis como as aventuras do Superpato, a série Pateta Faz História e a saga História e Glória da Dinastia Pato, além de dar espaço para personagens como Havita, Lobão, Zé Grandão, Tambor, Zorro e muitos outros.

Neste compilado, trago para vocês as críticas para as histórias da edição número 1 de O Grande Almanaque Disney, lançado no Brasil pela editora Culturama em abril de 2019 [Importante: por ser uma crítica grande, a aventura Tudo Isto Aconteceu Amanhã recebeu uma postagem separada, e você pode lê-la clicando no link anterior]. Além disso, trago aqui também duas histórias de outro momento editorial no Brasil, aventuras que foram publicas na Revista Mickey, pela Editora Abril. Você já leu alguma dessas histórias? Qual a sua aventura favorita desse compilado? E qual foi a que você menos gostou? Leia as críticas abaixo e deixe o seu comentário ao final da postagem!

.

Tio Patinhas e o Inversor Gravitacional

Vocês já tentaram viajar com alguém viciado em trabalho? É um inferno! A pessoa até pode se esforçar para se livrar do trabalho, mas a cabeça dela é tão loucamente voltada para esse ramo da vida, que não consegue relaxar, não consegue se esquecer das ocupações por um dia sequer. Tudo o que ela vê, vira um objetivo de trabalho. E isso é basicamente o que ocorre com o Tio Patinhas, que só consegue pensar em ganhar (muito) dinheiro, mesmo quando está numa viagem de férias com os sobrinhos, em pleno Parque Nacional de Patostone. Eu fiquei impressionado com a guinada que Francesco Guerrini (roteirista e desenhista da aventura) dá nessa narrativa, porque a trama começa muito tranquila e despreocupada, com momentos de descontração entre os homens da família, uma noite em contato com a natureza, direito a música em volta da fogueira e panquecas deliciosas feitas pelo Donald. A gente fica esperando algo trágico acontecer de repente, mas o roteiro, nesse caso, é bastante sutil.

Algo realmente acontece, é verdade. Mas o texto nos permite saborear um pouco cada parte, antes de fazer com que escalem imensamente e nos levem para um outro cenário. Juntando a postura workaholic de Patinhas e o aparecimento de esmeraldas no teto de uma caverna que eles encontram no Parque, a grande virada começa a se erguer. O roteiro explora a ânsia do quaquilionário em aumentar o seu patrimônio, indo direto até o Professor Pardal para que crie os inversores gravitacionais que temos no título. Mesmo nesse ponto da história, eu não esperava que tudo fosse sair tão grandiosamente do controle. A entrada dos Irmãos Metralha para mim foi uma surpresa, e fez todo sentido aqui, além de mostrar esses personagens de forma interessante, não apenas como bandidos atrapalhados como muitas vezes são. Dá até para dizer que a segunda parte da trama é épica, porque a escala das coisas sobe às alturas. E acaba descendo para terminar com Donald fazendo — de novo! — o que não deveria fazer. Eu ri bastante com esse final, e me solidarizei com o coitado do pato, claro.

Tio Patinhas e o Inversor Gravitacional (Zio Paperone e l’inversore gravitazionale)  — Itália, 22 de agosto de 1995
Código da História: I TL 2073-4
Publicação original:
 Topolino (Libretto) #2073
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: O Grande Almanaque Disney #1 (Culturama, abril de 2019)
Roteiro: Francesco Guerrini
Arte: Francesco Guerrini
Capa original: Marco Ghiglione
49 páginas

.

A Volta do Pato Zampata

A Volta do Pato Zampata é uma verdadeira balada nos moldes de um tipo específico de faroeste, o chamado “Zapata Western“. Como abordei em detalhes no meu primeiro artigo sobre esses subgêneros, os “Zapata Westerns” são geograficamente ambientados no México, mais especificamente durante Revolução Mexicana e têm, claro, Emiliano Zapata como um dos ícones recorrentes — o que dá um caráter político a todas essas histórias. Filmes como Viva Zapata! (1952), Os Violentos Vão Para o Inferno (1968), A Revolta dos Sete Homens (1969), Meu Ódio Será Sua Herança (1969) e Quando Explode a Vingança (1971) são exemplos desse tipo de abordagem no cinema dentro e fora da Itália, e que o roteirista Marco Rota trouxe para a presente saga, onde o Pato Donald vive esse herói revolucionário que se isola nas montanhas, vira lenda popular e desencanta (na verdade… perturba) as pessoas e os animais com seu zero talento musical.

Gosto muito das cenas de perseguição/fuga no deserto, que por conta da comédia e da paleta de cores utilizada, me lembrou Lucky Luke, e da brincadeira com a “divisão de amores” que o nosso herói carrega: uma das mulheres de sua vida é a “mulher do coração“, a pessoa com quem ele dança, com quem ele quer casar-se. Já a outra, é a sua “mulher do estômago“, uma amiga que cozinha perfeitamente e cuja lembrança dos pratos o forçou a sair de seu exílio. Um bang-bang delicioso de se ler e com uma recorrente piadinha de “péssimo músico” para o protagonista que me fez rir durante toda a leitura.

The Return Of Zampata Duck / Balladen om Zampata  — Dinamarca, 22 de agosto de 1995
Código da História: D 2002-210
Publicação original:
Jumbobog nº 295
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: O Grande Almanaque Disney #1 (Culturama, abril de 2019)
Roteiro: Marco Rota
Arte: Marco Rota
Capa original: Massimo Fecchi (arte) e Fecchi Studio (arte-final)
35 páginas

.

Maga Patalójika: Duelo Descabelado

Paul Halas coloca a Maga Patalójika em uma situação bem difícil nessa pequena história, fazendo-a conhecer a bruxa Ellen Feitiça, de quem toma uma surra de encantamentos ao final da aventura. Lendo os primeiros quadros, a gente não tem indicação nenhuma de que a trama caminhará para um encontro entre feiticeiras ou para um posterior duelo, porque a Maga começa entrando em um sebo de livros de bruxaria, fala com Magus a respeito de obras importantes, rejeita um volume intitulado Feitiços Ancestrais e simplesmente resolve “tomar uma poção no Caldeirão Borbulhante“. Sim, é um salto simplista dado pelo roteiro e traz uma quebra abrupta em um ritmo inicialmente mais interessante, porém, não há remédio quanto a isso: o autor precisava de um espaço onde o encontro entre as mulheres pudesse acontecer e onde a chamada para a briga pudesse ocorrer.

O desenvolvimento do enredo, desse ponto em diante, não se diferencia muito do que o escritor demonstrou após quebrar a trama, na página inicial. É bacana ver a Maga preparado uma poção ancestral e achando que vai ganhar o duelo contra sua nova inimiga, quando, na verdade, está prestes a ser vencida por algo inesperado. É uma boa virada de chave logo no desfecho — e justifica perfeitamente a vitória de Ellen Feitiça –, mas não é um ponto final glorioso para o texto, assim como não foi o desenvolvimento da história.

Magica De Spell: Ready to Rumble / Hexia de Trick: Duellen  — Dinamarca, 31 de outubro de 2013
Código da História: D 2008-127
Publicação original:
Anders And & Co. nº 2013-44
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: O Grande Almanaque Disney #1 (Culturama, abril de 2019)
Roteiro: Paul Halas
Arte: Marco Rota
Capa original: Francisco Rodriguez Peinado
6 páginas

..

Uma Noite Daquelas!

Em Uma Noite Daquelas! a roteirista Maya Åstrup faz uma homenagem ao gênero noir, contando como o Mickey, numa noite qualquer, saiu para passear porque estava com insônia e acabou se metendo em uma situação que envolvia uma femme fatale e um bando de mafiosos determinados a conseguir informações (e um aparentemente valiosíssimo colar de pérolas). Toda a estrutura do roteiro flerta com obras do gênero noir, elencando o detetive desalentado e mais ou menos desatento, a bela garota audaciosa que está envolvida com pessoas perigosas e a maneira como essas duas personagens tão diferentes se encontram e acabam tendo que ajudar um ao outro. Para o Mickey, trata-se inicialmente de uma questão de sobrevivência. Depois, como sempre, a ajuda vira preocupação e um misto de sentimento inesperado também surge pela garota, além do gosto inconsciente pela aventura, que vem à tona.

A primeira parte do enredo, que trata exclusivamente desse envolvimento do rato com os bandidos, é muito boa. O texto é quase cinematográfico, a colocação do personagem no cenário + a atmosfera que a arte de Joaquín Cañizares Sanchez cria passa a sensação de um indivíduo entediado que, por acaso, entra numa situação em que é confundido com um ladrão ou ajudante de uma ladra. A fuga que começa a partir de então e o joguinho de birra entre Mickey e a mulher fatal é impagável. Os problemas da história começam a aparecer na segunda parte, que narrativamente é inferior à primeira e onde se concentram o maior número de conveniências, algo que sempre diminui a graça de um texto. A maneira como a autora resolveu terminar a narrativa, contudo, volta ao bom estilo que ela adotou no início, com uma base cinematográfica e, como estamos falando de Disney, com um ingrediente moral para fechar a conta.

Uma Noite Daquelas! (Oh, What A Night! / Sikke en nat)  — Dinamarca, 29 de janeiro de 2010
Código da História: D 2008-374
Publicação original:
Anders And & Co. nº 2010-09
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: Mickey #884 (Editora Abril, março de 2016)
Roteiro: Maya Åstrup
Arte: Joaquín Cañizares Sanchez
Capa original: Arild Midthun (ideia), Francisco Rodriguez Peinado (arte)
16 páginas

.

O Que Realmente Importa

Maya Åstrup conseguiu fazer aqui uma história simples, repleta de sentimentos e de coisas para que o espectador pense a respeito de suas relações humanas, especialmente com crianças. Chiquinho e Francisquinho estão passando um período de férias com o tio Mickey, e uma das coisas que Minnie propõe para o parceiro pensar é “se as crianças estão felizes ali no quintal, apenas jogando bola“. Quais são as “necessidades” de uma criança? Qualquer pessoa que conviva com um pequeno ou uma pequena sabe o quanto eles valorizam a coisa mais simples; o quanto as singelezas do mundo fazem com que estejam radiantes e considerem um dia que, para um adulto, pode ter sido “o mais simples possível“, como sendo o melhor de suas vidas. Quando Minnie propõe um programa totalmente fora de casa para as crianças, ela acaba colocando Mickey em uma “paranoia de entretenimento”, onde ele força os meninos a participarem de um número imenso de atividades, sem terem tempo para respirar ou ficar com o tio… tudo em nome do “fazer alguma coisa diferente“.

A conversa aqui, a gente já sabe para que rumo vai: o problema do exagero. E é nesse ponto que acredito que o roteiro de Maya Åstrup encontra a sua alma. Evitar os exageros e, principalmente, estar presente na vida das pessoas que nos amam e que a gente ama é o real motivador de crescimento da alegria, da criação de excelentes memórias em conjunto, de uma vida compartilhada. Nessa aventura, não temos apenas uma reflexão sobre essas situações todas, mas também uma caminhada poética sobre a simplicidade da vida, algo que as crianças estão o tempo inteiro nos mostrando e que a gente dificilmente consegue enxergar de cara. Confesso que não esperava nada dessa história, mas saí dela quase com os olhos marejados. Coisinha linda mesmo, falando, verdadeiramente, sobre o que importa.

O Que Realmente Importa (What Really Matters / Det vigtigste i livet)  — Dinamarca, 17 de julho de 2014
Código da História: D 2013-021
Publicação original:
Anders And & Co. nº 2014-29
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: Mickey #883 (Editora Abril, março de 2016)
Roteiro: Maya Åstrup
Arte: Fabrizio Petrossi
Capa original: Angel Rodriguez
7 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais