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Crítica | A Volta dos Mortos-Vivos

por Leonardo Campos
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Dentro do campo de produção dos filmes de terror, os assassinos mascarados são o carro-chefe dos anos 1980. Todavia, cabe ressaltar que não foi apenas de antagonistas massacrando adolescentes bêbados, drogados e seminus que o terror caracterizou-se nesta época: houve também uma inovação dentro do gênero. Eram os filmes de zumbis. Se os condenados a trafegar pela sociedade em busca de carne humana não tinham uma origem explicita pelo roteiro na produção de George A. Romero, desta vez o problema é apresentado de maneira bem didática, cheio de novidades: desta vez, os mortos-vivos falam e estão cobertos de uma camada generosa de ironia.

O sarcasmo pode ser encontrado logo na abertura. Semelhante ao recurso utilizado em O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, o filme afirma ser a história baseada em fatos verídicos. Na trama, Frank (James Karen) e Freddy (Thom Mathews) estão trabalhando em um armazém de remédios na pacata Louisville, nos Estados Unidos. Neste local, circula um mercado de venda de cadáveres para as escolas de Medicina.

Ao mexer em um tambor tóxico repleto de 245Trioxina, acabam pondo toda a cidade em perigo. Um cadáver que estava em um dos tambores é cremado, mas a fumaça espalha-se. Para ficar pior, começa a chover. A chuva repleta de toxinas promove o “despertar dos mortos” das suas sepulturas. Está iniciado o apocalipse zumbi, desta vez, com doses generosas de acidez proveniente não apenas da chuva tóxica, mas dos diálogos e ações dos personagens do roteiro desta “obra-prima” do terror.

Paralelo aos acontecimentos, temos um grupo de amigos que aguardam Freddy sair da jornada de trabalho. Em busca de passatempo, os jovens decidem ir ao cemitério. Não dá outra: são atacados pelos mortos-vivos recém-saídos de suas supostas “eternas moradas”. Há até um solilóquio sórdido de uma personagem que deseja ser devorada pelos mortos. Interpretada pela musa dos filmes B dos anos 1980, Linnea Quigley, a moça passa boa parte do filme seminua. Neste breve arco narrativo, tudo é demasiadamente divertido e irônico, pois as preces da moça são atendidas com uma rapidez de fazer inveja às novenas católicas.

Há uma citação ao clássico de 1968. “Naquele filme usavam o cérebro como mira para matá-los, correto?”, dispara um personagem, mostrando que a mitologia em torno da obra de Romero cristalizou-se na cultura pop desde o seu lançamento. Para quem pensa que por causa da ironia e da leveza dramática o filme perde no quesito crítica social, engana-se: a chuva ácida que faz os mortos retornarem das suas covas soa como uma metáfora para os problemas ambientais, preocupação de alguns grupos políticos há anos.

Outro ponto crítico bastante interessante é a representação dos jovens rebeldes do filme. Eles são parte de um projeto maior: uma radiografia eficiente dos costumes e da sociedade estadunidense dos anos 1980, marcada por movimentos culturais como o punk, o rock e o fortalecimento da cultura do videoclipe. Caldeirão cultural da América do Norte, negros, brancos, mexicanos, latinos e outros grupos dialogam entre si, seja para se salvar ou para entrar em pequenos conflitos.

Ao longo dos seus 91 minutos de duração, A Volta dos Mortos-Vivos mostra-se um filme eficiente, pois consegue mesclar na medida certa, alguns elementos do terror e da paródia. O roteiro de John Daly e Derek Gibson consegue captar os pontos nevrálgicos do filme de 1968. Sendo assim, sob a direção eficiente de Dan O´Bannon, roteirista do visceral Alien, de 1979, os espectadores podem fluir de momentos genuínos de escatologia e humor, dando outra perspectiva para a mitologia “iniciada” por George A. Romero.

A Volta dos Mortos-Vivos (The Returned of The Living Dead, Estados Unidos – 1985)
Direção: Dan O’Bannon
Roteiro: Dan O’Bannon, John A. Russo, Russ Streiner
Elenco: Beverly Randolph, Clu Galager, Don Calfa, James Karen, Jewel Shepard, John Philbin, Miguel Nunes, Thom Mathews
Duração: 95 min

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