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Crítica | Acapulco – 1ª Temporada

O sonho mexicano.

por Ritter Fan
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Acapulco é uma descompromissada, mas gostosa, divertida e inteligente série cômica bilíngue – em inglês e espanhol – que aborda dois momentos temporais distintos, o presente, com o multimilionário Maximo Gallardo Ramos (Eugenio Derbez), em sua mansão costeira na Califórnia, contando ao seu sobrinho Hugo (Raphael Alejandro) sua história pessoal a partir de 1984, quando ele, vivido por Enrique Arrizon, começou a trabalhar no admirado e cobiçado resort Las Colinas, na famosa cidade mexicana que dá título à série. É, portanto, uma história que começa pelo seu fim, digamos assim, mas que sabe muito bem “esconder” seus mistérios para justificar seu desenvolvimento na base contos – sempre em continuidade – a partir da visão exclusiva do Maximo mais velho que funciona como um narrador não completamente confiável, algo que acrescenta uma camada extra interessante à progressão da história.

O destaque fica mesmo com a estrutura narrativa, pois mantém fluidez nas duas pontas, ou seja, as ações, no presente, não são apenas artifícios de enquadramento para o que é mostrado no passado. Há, efetivamente, duas histórias sendo contadas, com o filé mignon, claro, sendo o que ocorre na década de 80, já que é nessa época que a série investe em cenários espalhafatosos – o rosa berrante do hotel chega a fazer os olhos lacrimejarem! -, músicas pop americanas cantadas em espanhol e uma constelação de personagens cativantes, começando por Maximo jovem, que desde pequeno deseja mais do que qualquer coisa trabalhar no Las Colinas, seu melhor amigo Memo (Fernando Carsa), que também passa a trabalhar lá, sua mãe religiosa Nora (Vanessa Bauche) que sofre de problema na visão e odeia o resort e sua irmã mais nova Sara (Regina Reynoso), que começa a descobrir sua sexualidade. E isso sem contar com as pessoas que Maximo conhece no hotel, especialmente seu mentor Don Pablo (Damián Alcázar), seu interesse romântico Julia (Camila Perez), o americano filho da dona do resort Chad (Chord Overstreet, que tem uma semelhança natural assustadora com o Coringa), namorado de Julia e Diane (Jessica Collins), ex-atriz que vive basicamente de sua glória passada e mãe de Chad.

Apesar de, em linhas gerais, a história em si ser uma sucessão de clichês e tropos narrativos, com aquela pegada de comédia romântica que se espera da premissa, o que realmente importa é que tudo é eficientemente usado, com um capricho do desenho de produção casando muito bem com o elenco e com a trilha sonora em uma espaço essencialmente único, o hotel (com um pouco da casa de Maximo), mas ricamente composto e variado. O humor é simpático, daqueles de deixar sorrisos no rosto de qualquer um, mas sem efetivamente tirar gargalhadas, pois nem é esse o objetivo dos roteiros. Em termos dramáticos, o destaque fica mesmo com Enrique Arrizon, que tem uma presença cativante e um sorriso solar, e com Fernando Carsa, genuinamente engraçado mesmo quando não fala nada. Mas todo o elenco é harmônico e muito bem selecionado, mesmo quando a caracterização é propositalmente caricata, como é o caso de Regina Orozco, que vive a sempre emburrada Lupe, chefe direta de Memo.

No entanto, mesmo considerando o cuidado da produção em respeitar a cultura mexicana e, principalmente, em pintar outra percepção do pais (ainda que a caracterização de um país violento que vemos em diversas produções americanas não seja nada longe da realidade, muito ao contrário…), o que fica evidente com o uso do espanhol em regime de divisão equânime com o inglês e com a recusa de se usar os elementos turísticos comuns do lugar, há um problema de repetição temática que os 10 episódios, por mais rápidos que sejam, não resolvem. Há, no frigir dos ovos, poucos assuntos para serem abordados e, por vezes, a narrativa rateia e se sobrepõe. Além disso, o último episódio é apressado em fechar as pontas e para criar não exatamente o cliffhanger, pois ele não existe, mas sim a promessa de que a estrutura do próximo ano – se houver – será diferente. Essa variedade pode ser essencial, pois a manutenção do mesmo ritmo e da mesma estrutura pode enjoar rapidamente.

Acapulco é, sem dúvida, uma daquelas séries para relaxar, para acomodar-se no sofá e assistir algo visual e narrativamente muito agradável, sem esperar grandes reviravoltas ou maiores complexidades. É perceptível o cuidado com os detalhes da produção nos mais variados quesitos e isso só acrescenta à experiência muito simpática e a vontade de saber mais sobre a ascensão social e econômica de Maximo Gallardo.

Acapulco – 1ª Temporada (EUA – 08 de outubro a 03 de dezembro de 2021)
Criação: Austin Winsberg, Eduardo Cisneros, Jason Shuman
Showrunner: Austin Winsberg, Chris Harris
Direção: Richard Shepard, Jay Karas, Roberto Sneider, Dean Holland, Tristram Shapeero
Roteiro: Austin Winsberg, Eduardo Cisneros, Jason Shuman, Michael Lisbe, Nate Reger, Michael Colton, John Aboud, Becky Mann, Audra Sielaff, Mara Vargas Jackson, Tamara Yajia, Eddie Quintana, Joe Cristalli, Chris Harris
Elenco: Eugenio Derbez, Enrique Arrizon, Erick Saldaña, Fernando Carsa, Damián Alcázar, Camila Perez, Chord Overstreet, Vanessa Bauche, Regina Reynoso, Bianca Marroquín, Raphael Alejandro, Jessica Collins, Rafael Cebrián, Carlos Corona, Regina Orozco
Duração: 300 min. (10 episódios)

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