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Crítica | Acima das Nuvens

por Gisele Santos
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Já no início de Acima das Nuvens nos damos conta que estamos diante de um filme de mulheres. O filme tem poucos personagens masculinos e a figura da mulher é explorada nas suas mais diferentes facetas. A começar pela protagonista Maria, interpretada com maestria pela excelente Juliette Binoche, uma mulher com quase 40 anos que ainda se vê como uma jovem de 18. Em meio a um processo de divórcio que está tirando seu sono, Maria precisa revisitar seu passado quando decide participar de uma nova encenação da peça que lhe tronou famosa.

A diferença é que agora ela irá interpretar a personagem mais velha, que se envolve com uma jovem de 18 anos que acaba levando-a a cometer suicídio. A personagem mais jovem, que já foi vivida por Maria anos antes, ganha o rosto da famosa estrela de Hollywood Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz). No meio desse turbilhão, Maria precisa ainda superar a morte de seu mentor, autor da peça em questão.

Para lhe ajudar nesta tarefa, a veterana atriz conta com a ajuda de Valentine (Kristen Stewart, impecável), sua assistente pessoal que faz as vezes de confidente e quase não consegue esconder que a relação das duas já foi além do plano profissional, se é que me entendem.

Olivier Assayas (Carlos e Depois de Maio) dirige as três atrizes de forma perfeita, usando poucos recursos cênicos e abusando dos longos diálogos e planos fechados. Realidade e ficção se misturam no longa, principalmente nas cenas em que Maria e Valentine, reclusas em um chalé nos alpes suíços, repassam os textos da peça. Em alguns momentos é possível sentir latente que os diálogos ensaiados refletem também alguma espécie de romance vivido entre as duas tempos atrás. Isso torna o filme ainda mais interessante para quem o assiste.

Assayas também discute o tempo e de que forma as pessoas lutam desesperadamente para manter a sua juventude. A relutância de Maria em dar vida à personagem mais velha da peça, quando já esteve do outro lado, mostra bem isso. O diretor ainda retrata o papel do ator/atriz e a tênue linha entre a sua vida pessoal e a profissional. E mais, como a mídia representa essas pessoas, que são alvo de “fofocas de celebridades” e vêem sua vida invadida diariamente nas capas de jornais e revistas.

Vendo por este ponto de vista, Kristen Stewart foi imensamente corajosa a interpretar Valentine, já que o diretor não poupa satirizar e ridicularizar famosos que fazem filmes de gosto duvidoso e estampam revistas com fofocas do tipo “atriz é vista com homem casado”. Qualquer semelhança aqui não é mesmo mera coincidência. Ainda falando de Stewart, a atriz realmente deu adeus (graças a Deus) à chata e insossa Bella da saga Crepúsculo e aponta que sim, é uma grande atriz que pode trilhar uma grande carreira. Ela toma conta das cenas em que participa com uma personalidade única e uma sensualidade sutil.

Acima das Nuvens levanta discussões interessantes para o mundo frenético de hoje e ainda nos presenteia com três interpretações simplesmente sensacionais (os diálogos, os movimentos, tudo aqui funciona de uma forma única). Quem diria que um dia eu falaria isso, mas foi o filme que me mostrou que sim, mesmo fazendo péssimas escolhas na vida e tentando desesperadamente ser uma péssima atriz, Kristen Stewart tem um talento que merece ser visto e explorado, mesmo que ela mesma às vezes não acredite nisso.

Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria – França, Suíça e Alemanha – 2014)
Direção: Oliver Assayas
Roteiro: Oliver Assayas
Elenco: Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chloë Grace Moretz, Lars Eidinger, Johnny Flynn, Angela Winkler, Hanns Zischler, Nora von Waldstätten, Brady Corbet
Duração: 124 minutos

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