Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Adam Wild – Vol. 1: Os Escravos de Zanzibar

Crítica | Adam Wild – Vol. 1: Os Escravos de Zanzibar

por Luiz Santiago
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Os animais não são pets. São feras selvagens. Defendem o seu território, e se forem perturbados, atacam. A natureza é maravilhosa, mas também é inimiga. Quer você a respeite ou não, ela pode te eliminar da mesma maneira.

Recém saído de duas grandes sagas com forte caráter histórico e de ampla abordagem geográfica (Face OcultaShanghai Devil), Gianfranco Manfredi embarcou, com o título Adam Wild, em mais uma saga com as mesmas caraterísticas de suas criações entre 2007 e 2013, agora focando na África negra, ao fim do século XIX. Em um diálogo deste Os Escravos de Zanzibar, primeira edição da série publicada em outubro de 2014, o próprio protagonista diz que o mercado de escravos na região fora oficialmente abolido em 1873, o que certamente nos faz colocar essa trama após tal proibição — que claramente era ignorada pela polícia local (de Zanzibar e dos portos da Tanzânia) e mantida por baixo dos panos pelos traficantes árabes.

Nosso herói é do tipo que cativa já nos primeiros quadros. Um escocês membro da Real Sociedade Geográfica (Royal Geographical Society) de Londres, Adam Wild luta veementemente contra escravistas e qualquer tipo de maus tratos a pessoas e animais. Ao falar sobre a concepção do personagem, Manfredi disse que queria fazer aqui um herói com poucos conflitos psicológicos, mas com a desenvoltura, charme e disposição para aventuras como se estivesse se divertindo o tempo inteiro, tal qual alguns interpretados por Errol Flynn, Clark Gable e Douglas Fairbanks (daí já podemos ver a origem do bigodinho). Para compor a aparência e coroar a personalidade, o artista Alessandro Nespolino utilizou a imagem de Sean Connery quando jovem, fazendo do personagem alguém que o leitor imagina conhecer e que passa a admirar rapidamente, à medida que contempla os seus atos de humanidade.

Nesta primeira aventura, estamos diante de uma apresentação muitíssimo bem pensada. Vemos a chegada do Conde italiano Narciso Molfetta, que vai a Zanzibar em procura do “lendário” Adam Wild com o objetivo mais maluco possível: seguir os passos de David Livingstone, missionário e explorador britânico famoso por ter sido um dos primeiros europeus a explorar o interior da África. Dos costumes locais à marcação firme da moral e ética do protagonista, conhecemos também alguns personagens que se tornarão recorrentes na série: Amina, uma princesa Bantu prestes a ser vendida para um circo americano e que é libertada numa operação cheia de suspense nessa história; Makibu, ex-escravo comprado e libertado por Wild, sempre com seu manto branco e fez na cabeça; e Sam, um afro-americano que se redime de um trabalho questionável e tem como característica a sua touca de lã e seu suéter.

A complexidade política, econômica e social ligadas ao tráfico de escravos na África é colocada aqui, mesmo em uma ficção histórica, de uma maneira aplaudível. O autor consegue nos mostrar de modo rápido e não didático (nem negacionista) todo o ciclo dessa prática, numa aventura que é, a bem da verdade, a introdução para uma grande expedição a ser trabalhada nos álbuns posteriores. Os pequenos incômodos no fechamento de blocos com diferentes personagens acabam não tendo grande peso para o todo da história. O resultado desta estreia de Adam Wild na Sergio Bonelli Editore é instigante e viciante. Mais um grande acerto de Gianfranco Manfredi.

Adam Wild #1: Gli Schiavi di Zanzibar (Itália, outubro de 2014)
Editora original:
Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora Saicã (Adam Wild n°1, março de 2021)
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Alessandro Nespolino
Capa: Darko Perović
100 páginas

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