Home FilmesCríticasCatálogosCrítica | Adeus, Emmanuelle (1977)

Crítica | Adeus, Emmanuelle (1977)

Melodrama quente.

por Luiz Santiago
321 views

Pensando nos rumos que a série Emmanuelle tomaria em suas próximas 4 produções oficiais, podemos dizer que Adeus, Emmanuelle fecha o arco de histórias construídas a trancos e barrancos em torno da protagonista vivida por Sylvia Kristel (pausa para dizer que o penteado da personagem, aqui, não colaborou em nada com ela) e sua busca insaciável pelos prazeres da carne. Nesta terceira trama, filmada em Seychelles e com direito a condenáveis piscadelas neocoloniais, encontramos o proverbial “problema no paraíso”, onde Jean (Umberto Orsini) cai no mesmo buraco que Daniel Sarky caiu no primeiro filme: estraga um acordo que funcionava muitíssimo bem para as duas partes por conta de ciúmes… ou talvez por um medo inexplicável do poder que o personagem de Jean-Pierre Bouvier (Grégory) começava a exercer sobre Emmanuelle.   

O filme abre com a canção-título, na voz de Serge Gainsbourg, enquanto vemos o sobrevoo por Seychelles e a captura de sua beleza natural. Este é o ponto de vista da chegada de Grégory, que em pouco tempo abalará a relação do casal principal e será o responsável por fazer com que a trama deste filme tenha um tratamento completamente diferente para o erotismo — é o menos luxurioso dos três — e introduza algo impensável para um filme de Emmanuelle e que certamente não caiu bem à proposta geral e à atmosfera da obra: o melodrama. Existe, sim, um ponto de partida familiar, já que a insaciável mulher correu atrás de pessoas que a resistiram ou não a quiseram. Mas aqui é diferente: essa busca se transforma em ansiedade, depois em neurose e, por fim, reconfigura Emmanuelle, que prefere “se entregar a outro tipo de tirano” (ela diz isso!) do que viver longe dele. 

A primeira coisa que me chamou a atenção nesta obra foi a estonteante casa onde o casal protagonista mora. É verdade que elogiei a direção de arte dos dois filmes anteriores, mas aqui, o trabalho de François de Lamothe (que também fez o desenho de produção da película anterior) é de cair o queixo. Todas as casas são muito bonitas, mas a dos protagonistas tem uma identidade tão aconchegante e, ao mesmo tempo, tão elegante que a gente quer mais cenas no interior para apreciarmos cada cantinho. E é neste local esteticamente perfeito que vemos o andamento tranquilo do relacionamento, já no primeiro bloco, dar lugar à demonstração de ciúmes em seu grau mais mesquinho, no ato final. Até a maneira como a fotografia ilumina o lugar muda, de uma composição de luzes convidativa para a sensação de lugar mal-assombrado. Tecnicamente falando, este é um filme bastante caprichado, principalmente em sua primeira metade, a partir da qual mostra sinais de cansaço.

Existe uma discussão bem rasa, no texto, sobre a vida sexual aparentemente sem regras de Emmanuelle e Jean; uma discussão que não chega a lugar nenhum, mas pelo menos não tem cara de ensinamento de guru execrável, como vimos anteriormente na série. Essa discussão tenta, de alguma forma, dar a justificativa “ideológica” para a partida da protagonista, que encerra o longa decidindo ir atrás de uma paixão perdida (?), contrariando tudo o que vimos da personagem até então. Ela mudou? Bem, não há nenhum indício claro disso. Talvez ela não tenha aproveitado tanto quanto queria de Grégory, mas o filme não nos permite falar em mudança, apenas em impulso apaixonado. Conceitualmente, o roteiro até levanta a bola da “liberdade do amor” a partir de concessões limitadas, considerando cultura, idade, classe e temperamento dos envolvidos, uma mistura de caminhos que não chega a lugar algum, porque não se desenvolve. O que se mostra real, porém, é que mesmo experimentando os corpos que quer (embora em menor quantidade, neste filme), Emmanuelle não está satisfeita. Talvez, para ela, chegou a hora de embarcar num relacionamento monogâmico. Será isso possível?

Eu realmente não esperava que este terceiro filme seguisse pelo lado da paixão aterradora, dos ciúmes descontrolados e do caldo melodramático que sempre envolve um triângulo amoroso. A despeito da estranheza disso num softcore, Adeus, Emmanuelle não é um filme ruim. Há muita coisa legal para aproveitar aqui, das cenas mais quentes, aos papos de isopor na praia e às belas filmagens nas paisagens de Seychelles. A febre da paixão arrasadora finalmente chegou para Emmanuelle, e o resultado é tão aleatório quanto compreensível, mudando definitivamente os rumos da franquia.

Adeus, Emmanuelle (Goodbye Emmanuelle) — França, 1977
Direção: François Leterrier
Roteiro: Monique Lange, François Leterrier (baseado na personagem de Emmanuelle Arsan)
Elenco: Sylvia Kristel, Umberto Orsini, Jean-Pierre Bouvier, Alexandra Stewart, Olga Georges-Picot, Charlotte Alexandra, Caroline Laurence, Sylvie Fennec, Radiah Frye, Jacques Doniol-Valcroze, Erik Colin, Jack Allen, Bob Asklöf, Greg Germain, Patrick Victor
Duração: 98 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais