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Crítica | Agarrando a Vida

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Filmes com crianças e adolescentes são sempre obras interessantes para serem vistas porque abordam, mesmo que seja com as características culturais e especificidades de cada caso ou família, um sinal do tempos, algo que marca aquela geração, um ingrediente do mundo em que aquelas personagens vivem.

Podemos observar abordagens que trazem a inocência novamente à mesa, como no caso de O Pequeno Nicolau; a maldade ou algum tipo de organização social em obras completamente distintas como Aniki Bóbó e O Senhor das Moscas; um tipo de vida “disfuncional” de um grupo de adolescentes como em Os Gigantes; ou mesmo a descoberta da sexualidade e o primeiro amor em Moonrise Kingdom. Agarrando a Vida, filme do cineasta Justin Simms, traz para o espectador a jornada de dois primos em fuga de uma figura paterna rígida e castradora, um caminho de dificuldades que dará início a uma grande amizade e os colocará no caminho do amadurecimento mais rápido do que faria o curso natural das coisas, especialmente para o “primo da cidade”.

O filme se passa na ilha de Terra Nova, no Canadá, e a história de abertura é bastante simples. Os pais de Michael morrem em um acidente de carro e ele passa a morar com sua tia e seu tio Ted. As coisas não saem como previstas para o garoto na nova cidade, e ele lida de maneira nada passiva com a abordagem pendendo para o bullying dos alunos mais antigos de sua sala, o que lhe rende uma suspensão e uma discussão com o autoritário tio. Resoluto a fugir, o garoto é inesperadamente acompanhado pelo primo Curtis, que também não suportava mais as imposições autoritária de seu pai. Os garotos então irão fazer uma longa jornada de importância sentimental, e que trará, ao seu fim, resultados muito distintos para cada um deles.

Por trabalhar com atores de pouca idade e marinheiros de primeira viagem no cinema, Justin Simms não obtém um bom resultado com a expressão de sentimentos das personagens e com a força que o roteiro teria se fosse interpretado por profissionais mais experientes. Algumas frases parecem bobas no decorrer do filme ao serem ditas sem força dramática, e perdem a cara que o roteirista quis dar àquele momento da obra. Mas há momentos em que a dupla de atores consegue ótimas cenas, com destaque para os momentos cômicos da história, onde se destaca a ação física da dupla e vem à tona a ótima química entre eles.

Abordando em três ambientes geográficos distintos (o litoral, a cidade e a floresta) o filme consegue uma satisfatória passagem de um ambiente para outro, até porque há o desaparecimento dos garotos do mundo familiar, logo, é possível ver essa repercussão nos dois ambientes de seus familiares enquanto eles caminham pela floresta rumo a uma formação rochosa numa praia distante. As belas paisagens ajudam a criar a atmosfera de desbravamento empreendida pela dupla, e são muito bem fotografadas por Catherine Luthes, que optou por não utilizar grandes contrastes de cor entre os espaços de ação da película, mas destacou bem o ambiente geográfico dos locais, alterando os tipos de plano de maior uso para cada um desses espaços.

O filme tem uma veia cômica bem dosada e a despeito da inexperiência dos atores adolescentes, consegue um resultado geral que não faz o público sentir ter perdido tempo. Com a ajuda da trilha sonora (composta por canções realmente muito boas e bem utilizadas no decorrer do filme) nos identificamos com a caminhada da dupla e nos sentimos parte desse aprendizado. Só por essa experiência, o filme merece uma chance.

Não podemos dizer que o final da história seja algo de plena reflexão, mas não é um término ruim. Ao vencer seus medos, aprender o significado de muitas coisas essenciais da vida e estreitar uma amizade que no início não se esperava acontecer, os protagonistas se deparam com o amadurecimento pessoal, tanto que o voto de Michael em frente ao túmulo dos pais é de “nunca mais fugir”, e disso podemos entender o tipo de lição que ele aprendeu no curto espaço de tempo entre a tragédia da morte e as descobertas obtidas na “longa jornada”, como costumava chamar. Não é assim também com todos nós?

Agarrando a Vida (Hold Fast) – Canadá, 2013
Direção: Justin Simms
Roteiro: Rosemary House
Elenco: Molly Parker, Aiden Flynn, Avery Ash, Geraldine Hollett, Jane Dingle, Liam Dawson, Des Walsh, Tim Myles, Andy Jones, Douglas Sullivan
Duração: 93 min.

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