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Crítica | Agents of S.H.I.E.L.D. – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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estrelas 3

É difícil começar a escrever sobre uma série que você quer muito gostar, mas que desaponta em tantos níveis que só seu lado fanboy consegue extrair alguma coisa de boa dela. Agents of S.H.I.E.L.D., primeira série de televisão da Marvel e, como tudo que ela faz, inserida em seu universo coeso de super-heróis, foi uma aposta arriscada, com resultado muito irregular que, porém, deixa entrever o potencial do que ela poderia ter sido.

Estrelada por Clark Gregg, o simpático Agente Phil Coulson, que morre em Os Vingadores (mas, no Universo Marvel, a morte sempre é relativa, com exceção, até agora, da do tio Ben), a série reúne um grupo de jovens agentes da S.H.I.E.L.D. e a veterana Melinda May (Ming-Na Wen) em uma base móvel em um avião Hércules C-130 modificado. Logo no primeiro episódio, que tem ligação direta com Homem de Ferro 3, eles enfrentam Mike Peterson (J. August Richards), um homem que é alterado pelo soro Extremis. No meio da confusão, eles recrutam Skye (Chloe Bennet) uma hacker ativista que é literalmente contra tudo que a agência de espiões representa. Mas ela é um rostinho bonitinho e uma excelente razão para tudo ser explicado em detalhes para ela (e para nós). No entanto, apesar de tudo, o episódio piloto marca um começo promissor, com uma enorme quantidade de referências aos filmes da Marvel e, também, ao universo editorial, mas sem que isso impeça a diversão pelos não iniciados.

Mas é só isso mesmo. Uma promessa. O que vemos nos oito episódios seguintes, é um desfile de “vilão da semana” ou melhor “caso da semana” em uma estrutura sem serialização que torna a experiência de assistir à série bastante dolorosa. Além disso, toda a equipe, formada por personagens tão tridimensionais quanto um recorte em cartolina, é um desfile de clichês: Coulson é o chefe durão, mas de bom coração; May é a agente durona e fria; Skye é o rostinho bonito que sempre resolve os problemas. Temos ainda o Agente Grant Ward (Brett Dalton), o protótipo do 007, mas sem o mesmo charme ou inteligência e os cientistas Fitz (Iain De Caestecker) e Simmons (Elizabeth Henstridge), que são coletivamente conhecidos como Fitz-Simmons e trabalham como se fossem irmãos gêmeos siameses, um completando a frase do outro e servindo de alívio cômico (ou pelo menos uma tentativa disso).

Calma, calma, meus caros fanboys que devem já estar me odiando. A série tem seus altos a partir do episódio 1X10, The Bridge, que, como o nome diz, começa a fazer a ponte entre os diversos personagens a que somos apresentados nos episódios anteriores. Na verdade, a série sobe substancialmente de qualidade, passando, finalmente, a ser serializada, contando uma narrativa apenas com diversas sub-tramas, exatamente como deveria ter sido mais claramente exposto desde seu começo.

Um dos maiores erros de Joss Whedon, o showrunner da série e o grande responsável pelo sucesso do filme Os Vingadores, foi ter dado ares de episódios independentes a todos os nove primeiros, abrindo espaço para uma narrativa desleixada, muito cheia de personagens novos e, aparentemente, sem consequências para o futuro da equipe. Mas é claro que, em sendo uma série mais, digamos, voltada para “jovens adultos” e de uma televisão aberta americana (ABC), com a exigência de 22 episódios em uma temporada, não havia muita saída para Whedon. Era isso ou sua história acabaria muito mais cedo.

E aí vem o segundo grande problema da série, que é justamente a estrutura gigante das temporadas. A televisão americana precisa entender de uma vez por todas que, a não ser em casos de sitcoms, que não seguem estrutura rígida de continuidade e, via de regra, têm episódios de curta duração, a era de temporadas de 22 ou 23 episódios acabou. Ninguém mais aguenta ver a trama ser diluída ao ponto da insignificância pela obrigação de se colocar no ar algo como 990 minutos de série por ano, para contar uma história que poderia ser facilmente contada com menos da metade da minutagem. Com isso, podemos facilmente perceber que basicamente metade de Agents of S.H.I.E.L.D. só está lá para cumprir essa meta.

Mas com a coesão que The Bridge dá à série, Whedon passa, finalmente, a mostrar seu plano de fechamento da temporada, literalmente emendando um episódio atrás do outro, sem parar, até seu explosivo final. E, de maneira inédita na televisão, a Marvel consegue não só fazer uma série que funciona de maneira independente, como de forma intercalar em relação ao seu universo de filmes, ampliando, e muito, sua importância, mas, exatamente como o braço editorial do estúdio faz, permitindo que os dois lados sejam vistos e apreciados separadamente. Há complementação, tangenciamento, mas não sobreposição. Assim, um vive sem o outro de maneira suficientemente estanque para não exigir, de forma absoluta, a conferência de todos os filmes.

No entanto, essa coesão total de universos tem suas desvantagens, como, por exemplo, a rigidez da estrutura narrativa, que é guiada pelos lançamentos de cinema (com maior e menor influência dentro da série, como no patético episódio 1X08 – The Well – que força a conexão com Thor 2: O Mundo Sombrio) e a espera frustrada de que personagens de um “universo” cruzem para o outro. Não que isso não aconteça – Nick Fury (Samuel L. Jackson), Maria Hill (Cobie Smulders) e até Lady Sif (Jaimie Alexander) dão as caras em Agents of S.H.I.E.L.D. como uma espécie de reiteração de que tudo é uma coisa só – mas não é algo constante ou mesmo que influencie de verdade no caminho tomado pela temporada. Whedon sabe separar bem o material e sacrifica muita coisa no processo.

Ao mesmo tempo, porém, Whedon, ao unificar os dois grandes mistérios da temporada – como Coulson sobreviveu e de onde veio Skye – consegue aumentar o interesse pela mitologia da própria série, criando episódios fantásticos como o 1X14 e o 1X16 (T.A.H.I.T.I. e End of the Beginning). Aliás, é em End of the Beginning que a série sofre uma gigantesca alteração em seu status quo, em razão dos acontecimentos em Capitão América 2: O Soldado Invernal. Tudo o que sabíamos deixa de ser e Whedon passa então literalmente a usar seis episódios – até o final da temporada – lidando com as consequências do que vimos no cinema e como isso afeta a equipe (mas, é bom reiterar: assistir Capitão 2 não é algo realmente essencial, pois as informações que precisamos para entender a narrativa do arco de Whedon estão todas na série).

E se Agents of S.H.I.E.L.D., apesar de seus personagens inicialmente rasos, tivesse demonstrado um semblante da coragem que demonstra em sua reta final, com mudanças de alianças (como no caso do chocante episódio 1X17 – Turn, Turn, Turn), introdução de novos e intrigantes personagens (o melhor deles, de longe, sendo o agente John Garrett, vivido de forma muito divertida por Bill Paxton) e uma linha narrativa coesa e muito interessante, mesmo para quem não acompanha os quadrinhos ou até os filmes, o resultado final teria sido muito melhor e talvez a audiência tivesse respondido de acordo. Como ficou, a série é apenas ok, tendo sido renovada, suspeito, única e exclusivamente pela necessidade da Marvel de não jogar a toalha e declarar derrota com apenas uma temporada.

Voltando a falar brevemente para os fanboys, esses – assim como o que escreve a presente crítica – terão muito material para se divertir e, provavelmente, gostar mais da temporada do que ela realmente merece sob o ponto de vista técnico. Afinal de contas, se Whedon já carrega na menção ao Universo Marvel (cinematográfico ou não) no primeiro episódio, ele não se faz de rogado ao longo de toda a temporada e escava os recônditos mais escondidos dos quadrinhos para trazer menções (bem, mais do que só menções, na verdade) a vilões como Graviton (Ian Hart) e Nevasca (Dylan Minnette). O uso de Lorelei (Elena Satine) como vilã em um episódio todo só para ela (episódio 1X15 – Yes Men – aliás, ruim e completamente fora da continuidade então estabelecida), a introdução de Victoria Hand (Saffron Burrows) como figurona da S.H.I.E.L.D. e, claro, a introdução do ciborgue Deathlok (não vou dizer o nome do ator, para não dar nenhum spoiler) como personagem recorrente, ainda que ele, como um todo, seja extremamente mal feito.

E tem mais, muito mais. Listei apenas os mais evidentes, mas Whedon insere menções marvelianas em cada esquina de Agents of S.H.I.E.L.D. dando a entender, também, a futura presença de determinados personagens (e raças inteiras deles, diria) no Universo Cinematográfico Marvel, como acontece com a impressionante – mas mantida em mistério para atiçar as especulações – revelação no final de T.A.H.I.T.I. (momento nerd total, que quase explodiu meu cérebro com as possibilidades).

Acontece que, se mesmo os fanboys olharem a temporada com o devido distanciamento – sei que é difícil! – perceberão suas enormes fraquezas, apesar de toda a boa vontade de Whedon. Até mesmo Bear McCreary, autor das excelentes trilhas sonoras de Battlestar Galactica e de O Exterminador do Futuro: Crônicas de Sarah Connor, apresenta um trabalho apenas passável, sem nenhum arroubo de criatividade, quase que como se tivesse ficado estagnado pela primeira e fraquíssima metade da temporada.

Se Agents of S.H.I.E.L.D. tem realmente futuro, é muito difícil dizer. Em uma estrutura mais enxuta e objetiva, com episódios relevantes do começo ao fim, minha resposta seria um retumbante e firme sim. Há material para isso e Whedon já provou que sabe fazer séries de TV (Firefly em especial). No entanto, a característica híbrida entre serialização e episódios soltos ao longo de temporadas diluídas e enfraquecidas pode ser realmente o fim da S.H.I.E.L.D. sem precisar de ajudinha alguma da HIDRA.

Agents of S.H.I.E.L.D. (Idem, EUA – 2013/2014)
Showrunner: Joss Whedon
Roteiro: Vários
Direção: Vários
Elenco: Clark Gregg, Cobie Smulders, Brett Dalton, J. August Richards, Iain De Caestecker,  Elizabeth Henstridge, Ming-Na Wein, Chloe Bennet, Ian Hart,  Dylan Minnette, Saffron Burrows, Elena Satine, B.J. Britt, Bill Paxton, Ruth Negga
Duração: 990 min. (aproximadamente)

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