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Crítica | Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X15: Rise and Shine

por Ritter Fan
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  • Há spoilers do episódio e da série. Leia, aquias críticas dos outros episódios e, aquide todo o Universo Cinematográfico Marvel.

Sempre depois de um episódio espetacular como foi The Devil Complex, eu automaticamente espero algo que contrastará violentamente com ele. É natural e, na maioria das vezes, o contraste é abissal. No entanto, para minha surpresa – ou nem tanto, pois isso já tem se tornado um padrão -, mais uma vez, Agents of S.H.I.E.L.D. mostra que não está para brincadeiras e traz um excelente segundo episódio-flashback em uma mesma temporada, desta vez focado na General Hale, contando sua “origem” e toda sua evolução até o ponto em que a trama se encontra.

Sem dúvida alguma, o mesmo efeito prático de Rise and Shine poderia ser alcançado se a informação fosse distribuída ao longo de diversos episódios, seja com ou sem flashbacks, mas, como Rewind mais do que provou, a reunião de tudo em um momento narrativo coeso é, se bem trabalhado, a melhor solução. E talvez mais ainda do que no episódio focado em Fitz, a necessidade de se contar tudo de uma vez de maneira lógica e encadeada se faz presente pela ambição do roteiro de Iden Baghdadchi (estreante com o pé direito na série) que não tenta apenas explicar quem é Hale e o que a motiva, como também cria um envolvente e bem encaixado retcon no Universo Cinematográfico Marvel, muito na linha do que vimos em Homem-Formiga, com a primeira versão do herói, juntamente com a primeira Vespa, agindo na época da Guerra Fria.

Mas arriscaria dizer que o retcon do episódio vai ainda além das peripécias de Hank Pym e Janet Van Dyne, pois o roteiro tenta com sucesso estabelecer uma amplitude maior à Hydra, abordando não só a escola em que vemos uma jovem Hale e os futuros Agente Sitwell e Barão Von Strucker (Marvel, queremos High School Hydra e pode ser um musical!), como também o próprio Daniel Whitehall falando sobre suas experiências para replicar a experiência que resultou no Capitão América e tudo sem contradizer o tecido macro do que foi estabelecido até aqui nos filmes e, claro, na própria série. Se nós somarmos a isso as menções à queda da Hydra e da S.H.I.E.L.D., à Batalha de Nova York e aos Chitauri, Rise and Shine torna-se, talvez, um dos mais completos e eficientes momentos “aglomeradores” do  UCM, perfeitamente costurando, trabalhando e desenvolvendo seus conceitos.

Também é perfeitamente possível chegar à conclusão de que este é o episódio que nos prepara para Vingadores: Guerra Infinita. Sempre duvidei que haveria uma proximidade muito grande entre o vindouro filme e a série, mas, com a breve visão de uma frota vindo em direção à Terra fornecida pelo alienígena Qovas (Peter Mensah, em sua segunda ponta na série e segundo papel no UCM, o primeiro tendo sido o do General Joe Greller, em O Incrível Hulk), a única conclusão que considero possível é que aqueles são mesmo minions de Thanos, até porque, na primeira vez que o Titã Louco enfrentou os Vingadores nos quadrinhos, ele o fez em duas frentes, uma delas sendo exatamente uma armada formada por uma espécie de coalizão de diversas raças alienígenas. Se isso se confirmar – e ainda fico com um pé atrás de especular tanto – a costura que mencionei será ainda mais firme e impressionante.

Voltando ao episódio, porém, ele é dividido em quatro flashbacks que tomam um pouco mais da metade de sua duração. O primeiro dele rebobina a ação da Hydra para 28 anos antes e nós passamos a entender seu programa de lavagem cerebral e sua penetração na mente de jovens preprarados unicamente para serem infiltrados nas mais diversas organizações. Nada mais é do que uma explicação detalhada daquilo que seria facilmente dedutível pela forma insidiosa como a Hydra consegue penetrar na ordem mundial conforme fica claro em Capitão América: Soldado Invernal. Ao mesmo tempo, Hale ganha outras camadas. Jovem brilhante que é passada para trás por Strucker, valentão invejoso que se vale de sua linhagem, ela abre mão de seus planos ambiciosos para tornar-se uma mera “reprodutora” do espécime perfeito para, algum dia no futuro, passar pela mesma câmara de fusão do Capitão América, para tornar-se o primeiro super-soldado da Hydra.

Quando o flashback avança para “dois anos atrás”, vemos os efeitos da queda da organização e da Batalha de Nova York que acabam deixando Hale sozinha com sua filha Ruby no esconderijo subterrâneo onde viveu a vida toda. Em seguida, somos alavancados para “seis meses atrás”, com o General Talbot recuperando-se do tiro que levou do LMD de Daisy e a tentativa de Hale de aliciá-lo à sua causa. Fica evidente que Hale não continuou os ideais “puros” da organização que a criou e sua visão é dissidente, própria e que passa por uma aliança com a S.H.I.E.L.D. ou, pelo menos, do que restou dela. Como Talbot se recusa a cooperar (mas ganha o dia ao chamar Ruby de “cross fit Tinker Bell” e Hale de “calamari Mata Hari” – quase morri de rir!), ela espera calmamente capturar Phil Coulson, algo que acontece no flashback-que-não-é-exatamente-flashback, para apenas “um dia atrás”, com Coulson, assim como Talbot e Hale antes dele (e como Ruby em All the Comforts of Home), acordando em sua cela/quarto e seguindo para um “café da manhã”.

Nesse ponto, depois que Coulson e Hale são levados pela máquina alienígena para a presença misteriosa de Qovas, é que descobrimos mais sobre a ameaça à Terra, ainda que o corte abrupto da montagem – proposital, lógico – mantenha-nos em dúvida sobre quem está vindo para nosso pequeno planeta azul. Na sequência seguinte, os planos de Hale são deixados bem claros: ela pretende fazer com que Daisy, não Ruby, seja colocada na câmara de fusão, para ser fundida com o gravitonium em um programa que Whitehall batizara de… rufem os tambores… “Destruidor de Mundos”. Impressionante como o quebra-cabeças antes indecifrável começa a fazer todo o sentido naquele jeito “plano louco” de ser. Daisy ainda pode ser a Destruidora de Mundos, ainda que eu desconfie fortemente que Ruby é que entrará naquela câmara de algum jeito, já que a garota não me parece lá muito estável.

Como se não bastasse essa impressionante quantidade de coisas sendo derramadas sobre nós, pobres espectadores, somos trazidos novamente para o presente efetivo, desta vez no Farol, com May, depois de dizer que “nós temos um super-vilão” (que maldade, May!), tentando obter ajuda de Fitz para descobrir o que raios afinal Hale quer. A manutenção daquele jeito superior, frio e calculista do novo Fitz é um triunfo, para começo de conversa. Iain de Caestecker encontrou o perfeito equilíbrio entre as duas versões principais de seu personagem fundindo-as em uma amálgama poderosa que, em uma frase calculada e destruidora, derruba o ataque físico e verbal de uma Daisy machucada e que se recusa a enxergar um iota sequer de sentido no que Fitz fez a ela.

Além disso, como no episódio anterior, tudo acaba com Deke, mesmo que ele tenha se ausentado aqui. Simmons revela para Fitz que o jovem deslocado no tempo é neto deles e que, por isso, não interessa o que aconteça, os dois permanecerão juntos e serão, nas palavras de Mack, invencíveis. E, de fato, a julgar pelo futuro que eles viram, sim, eles serão invencíveis assim como Yo-Yo é invencível, mas a forma como o roteiro trabalha esse conceito deixa um proposital nota de dúvida que, claro, está ligada com o momento e a forma como o loop temporal será quebrado, pois, no momento em que ele for quebrado, a invencibilidade acaba, o futuro torna-se absolutamente incerto.

Mantendo a estrutura de espaço confinado, o episódio continua “economizando” em efeitos especiais, certamente por muito ter sido gasto já na primeira metade da temporada e, supostamente, também, pelo que vem a frente. Mas a grande verdade é que o que importa é o roteiro e a direção. E, aqui, os dois são quase perfeitos. A direção consegue trabalhar de maneira clara cada um dos momentos de flashback, com um cuidado na movimentação de câmera que se aproveita de um design de produção simples, mas muito eficiente ao emular as várias épocas muito bem. O roteiro é que naturalmente ganha alguns loops repetitivos aqui e ali e, no flashback mais longínquo, se perde um pouco no fan service. Divertido, sem dúvida, mas talvez um pouco mais do que era efetivamente necessário, ainda que o resultado final – que, para mim, foi mais a transformação de Hale, finalmente, em uma personagem multidimensional – tenha sido muito positivo. É só uma pena que Dove Cameron continue sendo somente aquilo que ela foi contratada para ser, não mais do que um rostinho bonitinho para amealhar fãs mais novos da atriz, já que sua amplitude dramática é constrangedora.

Rise and Shine é um belo exemplo do quanto Agents of S.H.I.E.L.D. está disposta a auto-alimentar-se, trabalhando elementos de sua própria mitologia em conjunto com os do vastíssimo UCM como um todo em um resultado surpreendente. Se haverá um crossover efetivo com Guerra Infinita, descobriremos em muito pouco tempo, mas, mesmo que não haja, os showrunners estão de parabéns por conseguirem liberdade para fazer o que vêm fazendo.

Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X15: Rise and Shine (EUA, 30 de março de 2018)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Jesse Bochco
Roteiro: Iden Baghdadchi
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Catherine Dent, Dove Cameron, Briana Venskus, Brian Patrick Wade, Spencer Treat Clark, Zach McGowan, Adrian Pasdar, Peter Mensah, Reed Diamond
Duração: 43 min.

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