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Crítica | Alerta Noturno

Um slasher homoerótico com debates ousados para a sua época.

por Leonardo Campos
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Fala-se por aí que A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy, é o slasher com maior subtexto homoerótico da história do subgênero, mas muitas dúvidas pairaram ao me deparar com o ousado Alerta Noturno, filme irregular em diversos aspectos, mas com uma abordagem bastante interessante da latência homossexual por diversos lados de sua história. A produção é parte da rentável Safra de 1981, o ano que tal como já mencionado em outros textos, foi a era de profusão do subgênero, com quase 40 lançamentos do segmento ao longo do calendário anual desta que foi a “era do terror”. Escrito por Steve Breimbr, Alan Jay Glueckman e Boon Collins, o filme foi dirigido por William Asher, cineasta que entrega uma mirabolante trama de terror com grandes problemas de ritmo, um de seus maiores problemas, responsável por fazer o espectador se desprender um pouco do teor dramático interessante em vista do tédio que se expõe constantemente ao longo dos 96 minutos que até parecem um tanto eternos no desenvolvimento deste slasher sobre a podridão no seio familiar.

Na trama, Billy Lynch (Jimmy McNichol) é um jovem rapaz que vive com a sua tia Cheryl (Susan Tyrell), uma mulher de comportamento um tanto inconstante. Ela o criou depois que os seus pais morreram num acidente terrível na estrada, um acontecimento devidamente registrado num flashback sangrento que nos faz compreender de onde talvez tenha vindo a morte do policial no engavetamento de Premonição 2. Popular, o rapaz é um desejado jogador de basquete, figura com um futuro brilhante garantido, com bolsa de estudos prometida e outras regalias por sua imagem imaculada no espaço escolar. Após ser chamado para jogar na universidade, as coisas ficam ainda mais promissoras, menos para sua tia, uma mulher possessiva que não parece muito feliz com a partida do jovem que se tornou praticamente o seu filho. Constantemente elogiado pelo treinador Tom Landers (Steve Eastin), um homem que o avalia por seu desempenho sempre adequado nas quadras, o rapaz namora Julia, a repórter da escola.

Os problemas começam depois que um encontro de sua tia dá errado. Ela alega que o homem avançou e tentou abusá-la sem o seu consentimento, sendo Billy uma testemunha da situação, metendo-se em confusão após manipular a cena onde a morte sangrenta aconteceu. A polícia, na aqui representada sob a implacável figura de Joe Carbon (Bo Svenson), fica na cola de Billy. Ele não acredita e também faz os demais não acreditarem na versão da tia, alegando que havia um caso amoroso entre o treinador e o tal homem do encontro e que Billy, talvez parte de um triângulo amoroso intenso, tenha desferido os golpes de faca. Perseguido e com sua sexualidade colocada em questionamento o tempo todo pelo policial, Billy vive dias infernais, principalmente pelo fato de uma série de mortes ter começado a acontecer depois deste primeiro crime, uma onda de sangue e terror que o coloca cada vez mais em evidência. Tudo se desenrola conforme a cartilha slasher, mas com número reduzido de mortes e desfecho anticlimático. Falha como entretenimento, mas traz discussões interessantes.

Em Alerta Noturno, encontramos um filme corajoso que flerta com uma série de temas ainda considerados tabu na contemporaneidade, mas que na época eram ainda mais polêmicos. Tratar de sexualidade e gênero nos anos 1980 era adentrar por um terreno subversivo, olhado com temor por muitos, numa época em que a homossexualidade tinha deixado a pouco de ser uma doença na lista de distúrbios da humanidade. Há algum clima de horror, mortes insanas e divertidas, tamanha a criatividade dos realizadores, mas falta, no entanto, um ritmo que permita empolgação diante do que se vê. Dentre os tantos slashers de 1981, Alerta Noturno é mais um a tecer críticas sociais ao bojo da família, um espaço que deveria ser imaculado e de acolhimento, não um território de estabelecimento de vinganças e mortes sangrentas. A sociedade idealizada de Norman Rockwell, já devastada em O Massacre da Serra Elétrica, Comunhão e outras narrativas do Proto-Slasher ganham neste filme mais uma pitada de acidez no discurso de um subgênero que tem lá os seus problemas, mas soube muito bem analisar o comportamento da decadente sociedade que insistia na hipocrisia e na representação falsificada das coisas.

Alerta Noturno (Butcher, Baker, Nightmare Maker, EUA – 1981)
Direção: William Asher
Roteiro: Stephen Breimer, Boon Collins, Alan Jay Glueckman
Elenco: Jimmy McNichol, Susan Tyrrell, Stephen Breimer, Boon Collins, Alan Jay Glueckman, Bill Paxton, Britt Leach
Duração: 86 min

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