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Crítica | Alex & Emma – Escrevendo a Sua História

por Leonardo Campos
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Podemos definir a criatividade? Acredito que sim. Se podemos engessa-la dentro de termos concretos sobre o que é ou não é criatividade, por sua vez, já é algo complicado. Uma coisa é certa: nos desdobramentos de Alex & Emma – Escrevendo a Sua História, temos uma trama bem-humorada sobre falta de criatividade, construída por uma equipe de realizadores que aparentemente contaminados pelo tema do filme, também exercem a linguagem cinematográfica com a mesma ausência de oxigenação narrativa que a história dentro da história. É o que chamo de metalinguagem traiçoeira. Pior que isso é o tom de plágio da comédia romântica, indiscutivelmente inspirada por Quando Paris Alucina, o clássico com Audrey Hepburn e William Holden. Troque o roteirista de Holden pelo romancista de Wilson e a estrutura é praticamente a mesma. Nada contra a reciclagem de ideias, principalmente de algo contado tantas décadas depois, mas não custava nada ao menos assumir, nos créditos, a “inspiração”.

Diante do exposto, além de insosso, Alex & Emma – Escrevendo a Sua História é um ladrão de ideias, daqueles desmascarados que sequer assumem o roubo exposto, ampliado em lentes garrafais diante de seus olhos. Superada a questão, voltemos ao que diz respeito à criatividade. Retomar o assunto me fez reler algumas partes de Criatividade e Processos Criativos, da Fayga Ostrower, uma reflexão mais destinada ao âmbito das artes visuais, mas que pode ser debatida dentro de outros esquemas que engendram a criação artística dos seres humanos. Para a autora, a criatividade é um potencial próprio de todas as pessoas, algo que se desenvolve juntamente com o crescimento e amadurecimento de cada indivíduo. Desenvolvida conforme o contexto cultural de quem a exerce, a criatividade age de acordo com as potencialidades individuais e refletem o momento histórico da pessoa que se desafia a realizar algo. Ao dizer isso, conectado com outros pontos, a autora reforça a possibilidade criativa de qualquer pessoa.

É como se todos fossem criativos, alguns com maior chance de catalisação da criatividade, outros com menor índice. Parte de um processo cultural, a criatividade depende de formas materiais e espirituais praticadas por indivíduos de um determinado grupo, para que assim, atue e comunique por um “fazer” transmitido por meio de vias simbólicas para as gerações seguintes. Aqui, Alex Sheldon (Luke Wilson) é um escritor que lucra com a criatividade há algum tempo, haja vista a sua profissão de escritor. O problema da vez é que a sua dívida com a máfia cubana cresce vertiginosamente e para pagá-la, algo em torno de U$100 mil, ele precisa entregar ao seu editor um novo romance para publicação. As ameaças é que catalisam dentro dele o pavor diante dos cobradores barra pesada. Além de ser acossado fisicamente, os indivíduos queimam seu laptop, dentre outras artimanhas. O jeito agora é escrever. E muito rápido. O caos vem diante da pressão, pois a situação opressiva lhe causa forte bloqueio criativo. E agora?

O jeito é contratar ajuda. É quando ele chama por Emma Dinsmore (Kate Hudson), taquígrafa que pode lhe inspirar e colaborar com a organização das ideias. Inicialmente a personagem reluta, algo bastante compreensível, afinal, a casa de Alex é um horror. Ela testemunha uma das visitas dos agiotas e o lugar carece de limpeza e cuidados, ponto eficiente do design de produção detalhista de John Larena, gerenciador da cenografia de Shay Cunliffe, um dos destaques. Contestadora, óbvio que inicialmente a relação de ambos é tomada por repelência, modificada ao passo que eles constroem pontos de vista para a história e dão segmento ao trabalho com muitas idas e vindas. Há a paixão, mas os obstáculos. Ele possui uma ex com relação ainda não resolvida. Ela é imediatista e está cansada do comportamento masculino tóxico. O material é aparentemente conflituoso e promete uma história envolvente, mas isso fica apenas na intenção.

Sob a direção de Rob Reiner, cineasta que assume o roteiro de Jeremy Leven, Alex & Emma – Escrevendo a Sua História adere ao que mencionei anteriormente, sobre a metalinguagem traiçoeira, transformando o próprio filme no clichê que é satirizado. Apontar os defeitos dos outros dentro de sua própria narrativa é o grande problema da narrativa, ainda ineficaz por apresentar aos espectadores um casal insosso, numa história idem. Adequadamente editados por Alan Edward Bell e Robert Leighton, ao menos a história dentro da história é ajustada sem parecer descabida e exposta ao público de qualquer jeito. Com estilos diferentes, a direção de fotografia de Gavin Finney delineia substancialmente o enredo central e a partícula metalinguística do material, ambas pouco atraentes. Internamente, ele é Adam Shipley, escritor contratado para dar aulas para os filhos de Polina Delacroix, uma das cinco versões de Kate Hudson no filme.

Ele se apaixona pela senhora francesa, sem se dar conta do amor numa relação que seria aparentemente mais bem-sucedida com a governanta da casa. Circulam por essa história burlesca, Elsa, Ylva, Eldora e Anna, a última, estadunidense, “recatada e do lar”. Como sempre, que se dane a alemã, a sueca e a espanhola. O bonito mesmo é ser uma autêntica “americana”. Nenhuma novidade, não é mesmo? Divertido vê-los sendo os personagens da história do romance, mas o conteúdo é tão cretino que na vida real, o material que eles desenvolvem e encerram com sucesso ao final consegue ser mais horroroso que Crepúsculo e Cinquenta Tons de Cinza e outras obras do mesmo quilate, dessas publicações que deveriam ser vendidas com selo a nos alertar de sua ruindade, tal como as caixas de cigarro fazem atualmente. A condução musical de Marc Shaiman consegue ser engraçadinha ali e aqui, mas não há textura percussiva que dê suporte a um roteiro tão descompassado. No final, ficam algumas lições sobre a tal inerência da criatividade nos seres humanos e a comprovação de que alguns não sabem utilizá-la satisfatoriamente.

Alex & Emma – Escrevendo a Sua História (Alex & Emma) – EUA, 2003
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Jeremy Leven
Elenco: Kate Hudson, Luke Wilson, Rob Reiner, Sophie Marceau, Chino XL
Duração: 105 min.

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