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Crítica | Algie, the Miner

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Algie, the Miner (1912) é um dos mais curiosos westerns que eu já assisti. Ele conta a história de um rapaz chamado Algernon que, para poder provar-se merecedor da mão de uma garota, aceita o desafio de ir para o “Oeste selvagem” e provar sua masculinidade. E por quê ele precisava fazer isso? Bem… porque ele é bastante afeminado e tem uma postura que faz com que quase todos os espectadores o caracterize como gay, embora essa classificação seja apenas um julgamento não muito louvável a partir da expressão de gênero do rapaz. O fato é que o leitor encontrará em muitas fontes históricas a informação de que Algie foi o primeiro protagonista gay da 7ª Arte.

Tecnicamente falando, o personagem interpretado por Billy Quirk não é gay. Ele tem uma noiva e se arrisca indo para o Oeste a fim de merecê-la, mas… ei!, estamos falando de um filme foi realizado em 1912 e só o fato de Algie tentar beijar os cowboys, fazer caras e bicos, andar rebolando pela cidade e se vestir e portar-se como um dândi bastante afetado deixa, no mínimo, a dúvida sobre sua pulsão heterossexual. E é nessa dualidade (entre julgamento e observação da realidade) que a diretora constrói esta pioneira obra.

O filme é raramente creditado à pessoa que o dirigiu de fato, a diretora francesa Alice Guy-Blaché, tida em muitas referências como a primeira mulher cineasta da História. É normal encontrarmos filmes do Primeiro Cinema que foram dirigidos por mulheres mas os homens que levaram os créditos (vide alguns filmes de D.W. Griffith, por exemplo) e Algie, the Miner é um dos casos. Em outras ocasiões, o curta aparece assinado por 3 diretores, com Alice Guy dentre eles, mas há registros bem claros de que ela dirigiu a obra sozinha e também a produziu, tendo, como é comum no cinema, assistentes de direção.

Só o fato de trazer para o western dos anos 1910 um personagem gay, Algie, the Miner já deveria ter maior notabilidade. E a coisa fica ainda mais impressionante quando notamos que existem questões internas que levam a trama para caminhos ainda mais complexos. Citemos um estético, por exemplo, a metáfora que a diretora faz em relação à masculinidade de Algie versus a dos outros homens do Oeste, com a pistola do jovem afeminado pequena e brilhante e a do restante dos cowboys grandes e enferrujadas.

Para completar o ciclo, existe ainda um subtexto para Big Jim, o “colega de quarto” de Algie, que o ensina a se tornar um “verdadeiro cowboy“. Quando o rapaz perde os trejeitos afeminados e passa a agir de forma socialmente aceita, parece-nos que um bromance existe entre os dois, relação vista fortemente em dois momentos, o primeiro, quando Algie impede de Big Jim volte a beber e o segundo, quando Algie conta ao amigo e professor que está voltando para Nova York afim de pedir a mão da noiva em casamento.

Mesmo com alguns acavalamentos de montagem, Algie, the Miner é um curta-metragem interessantíssimo, com um foco bastante raro no cinema da época e, evidentemente, muito engraçado. Um notável exemplo da fase americana da cineasta Alice Guy-Blaché, que infelizmente não recebeu os créditos ou o amplo conhecimento que merecia na História do Cinema.

Algie, the Miner (EUA, 1912)
Direção:
Alice Guy-Blaché
Roteiro: Alice Guy-Blaché
Elenco: Billy Quirk, Mary Foy
Duração: 10 min.

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