Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Aliança Mortal

Crítica | Aliança Mortal

A impagável vilania descabelada de Van Damme.

por Ritter Fan
1,2K views

A terceira e até agora última colaboração de Peter Hyams com Jean-Claude Van Damme é apenas mais uma prova de que o lutador belga só precisa de diretores competentes para estrelar filmes acima de sua própria média geral. Sob a batuta de Hyams (por favor não confundir com o outro Hyams, John, filho sem talento de Peter), fomos brindados com O Guardião do Tempo e Morte Súbita em dois anos consecutivos, 1994 e 1995, com 18 anos se passando para que então chegássemos a Aliança Mortal, em que o usual protagonista vive um raro antagonista em seu currículo, em um longa no estilo Rambo – Programado Para Matar, só que com o herói, o guarda florestal e ex-Navy SEAL Henry Taylor (Tom Everett Scott) lutando no meio do mato contra bandidos mesmo e não contra a polícia.

E não se trata aqui de um daqueles filmes em que Van Damme faz apenas figuração, ainda bem. Muito ao contrário, seu vilão louro (ou ruivo, não sei bem), descabelado, ambientalista, vegano colhedor de frutinhas na floresta e contra o uso de armas de fogo tem presença constante, basicamente roubando o filme para si, tarefa que não é lá muito complicada considerando o bom mocismo cansativo e sem graça do picolé de chuchu Scott, que acaba tendo que fazer a tal “aliança mortal” com Clay Decker (Orlando Jones se esforçando para não cair no genérico), cujas circunstâncias já explico. Sem dúvida que Xander, o vilão de Van Damme, é uma fusão ambulante de estereótipos, sendo eficiente em tudo, especialmente nas artes de matar teatralmente seus inimigos e de fazer caretas exageradas mesmo quando elas são completamente desnecessárias. Mas Aliança Mortal não seria divertido como é sem justamente essas bobagens gigantescas de um astro belga aparentemente muito à vontade ao se autoparodiar (o que ele já havia feito, só que de forma diferente, em Bem-Vindo à Selva, do mesmo ano).

A história reúne duas situações completamente díspares e desconectadas em um filme só. Primeiro, um avião carregando drogas cai em um lago na fronteira entre o Canadá e os EUA, atraindo a atenção do traficante Xander e seus capangas que montam uma operação de “resgate” tendo como ponto de partida King’s Island, uma ilha-parque florestal com apenas um morador fixo onde Henry Taylor trabalha como guia de turismo e guarda florestal como uma espécie de autopenitencia por seu passado na marinha americana. Segundo, exatamente no mesmo dia em que Xander aporta por ali, Clay Decker também aparece na ilha para vingar-se de Taylor pela morte em serviço de seu irmão, o que leva àquela pancadaria usual entre duas pessoas que nós sabemos, de imediato, que se tornarão parceiras. A coincidência de dois eventos dessa magnitude para Taylor acontecerem no mesmo dia chega a ser hilária de tão preguiçosa por parte do roteiro, mas isso é algo que é fácil de deixar passar debaixo da rubrica “não machuca, então tudo bem”.

O que segue, então, é Xander cada vez mais histérico a cada problema que a presença de Taylor e de Decker causa a seu minucioso plano. Aliás, é também muito engraçado que a primeira pessoa de seu grupo a ficar ferida é justamente o único mergulhador que ele tinha, o que o obriga a caçar Taylor que ele sabe que pode substituir sua perda em razão de seu treinamento pregresso. Novamente, coincidências hilárias de um roteiro feito de qualquer jeito, mas que não atrapalham o divertimento. E há bastante divertimento no estilo “Van Damme mais velho” de ser, com a direção de Hyams mantendo o passo apertado, o que garante uma minutagem bastante econômica, mas sem perder nenhuma oportunidade de colocar Van Damme no centro do palco para que seu Xander histriônico brilhe de todas as formas possíveis, seja quebrando pescoços, seja comendo maçãs, o que lhe promove prazeres idênticos. Na verdade é quando Xander não está em tela que a narrativa desanima um pouco e voltamos à estrutura batida de sempre, mas, como Xander é uma figura constante no longa, isso não acontece muitas vezes para nossa sorte.

Aliança Mortal trafega bem entre o sério e o cômico e entrega a Jean-Claude Van Damme a responsabilidade de carregar o filme nas costas, só que, agora, como antagonista, algo que o belga faz com louvor com seu Xander cheio de maneirismos e afetações que valem cada segundo da projeção mesmo quando eles não fazem muito sentido lógico (como é o caso da “reviravolta” final). É como ver o outro lado do Muscles from Brussels, um lado que sem dúvida faz parte de sua gênese como ator (quem se lembra dele em Retroceder Nunca, Render-se Jamais?) e que ele deveria ter exercitado mais nessa fase mais complicada de sua carreira para criar variedade e, claro, diversão para além do personagem padrão que ele sempre viveu.

Aliança Mortal (Enemies Closer – EUA/Canadá, 2013)
Direção: Peter Hyams
Roteiro: Eric Bromberg, James Bromberg
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Tom Everett Scott, Orlando Jones, Linzey Cocker, Christopher Robbie, Zahari Baharov, Kris Van Varenberg, Dimo Alexiev, Vlado Mikailov, Teodor Tsolov, Hristo Mitzkov, Ryan Spike Dauner
Duração: 85 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais