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Crítica | Alice in Borderland – 3ª Temporada

Não mais do que um DLC.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

A segunda temporada de Alice in Borderland encerrou muito bem a história de Ryōhei Arisu (Kento Yamazaki), Yuzuha Usagi (Tao Tsuchiya) e demais personagens sobreviventes, mas corajosamente deixou de fora uma explicação sobre o que afinal era aquele mundo dos jogos e quem estava por trás de tudo, deixando apenas uma portinhola aberta para uma continuação na forma de uma carta Curinga na mesa do jardim do hospital. Três anos depois, essa portinhola revela-se quase que como um botão de recomeço que, infelizmente, não tem o condão de expandir de verdade a narrativa, mas sim, apenas, de repeti-la com algumas diferenças e uma forte impressão de corte de orçamento mesmo que, com dois episódios a menos, a minutagem final seja maior do que a da temporada anterior.

Não saberia dizer se o mangá contempla o conteúdo da nova temporada, pois só li o primeiro compilado, mas isso não interessa muito, já que a análise é da série do Netflix e não do trabalho de Haro Aso, mas, sob qualquer aspecto, chega a ser pelo menos um pouco frustrante que personagens coadjuvantes tão bem desenvolvidos como Shuntarō Chishiya (Nijirō Murakami), Hikari Kuina (Aya Asahina) e Suguru Niragi (Dori Sakurada) e outros nem tanto, mas mesmo assim com potencial, como Morizono Aguni (Sho Aoyagi) e Akane Heiya (Yuri Tsunematsu), sejam quase que completamente eliminados da história, ganhando apenas brevíssimas pontas no epílogo da temporada, com apenas Rizuna Ann (Ayaka Miyoshi) tendo um papel importante, ainda que minúsculo. Até entendo a lógica para isso, já que a temporada é focada em Arisu e Usagi, pelo que o uso constante dos demais personagens de certa forma obrigaria a dedicação maior de espaço a eles, o que detrairia do casal.

Mas, como não adianta chorar pelo leite derramado, vamos à nova temporada que começa com Arisu e Usagi, agora casados, mas ainda sem memórias claras do que ocorrera no mundo dos jogos, sendo atraídos de volta para lá por meio da manipulação de Ryuji Matsuyama (Kento Kaku), um professor universitário cadeirante obcecado com experiências de quase morte que pesquisa os sobreviventes de Shibuya, por parte de Sunato Banda (Hayato Isomura), que, agora, gerencia os jogos da “fase Curinga” e que quer Arisu como cidadão permanente desse espaço entre a vida e a morte por considerá-lo um jogador digno dessa honra. Talvez o aspecto mais diferente dessa temporada seja justamente a presença de Banda como o manipulador de tudo, inclusive sendo capaz de “roubar” nas regras desse mundo para conseguir o que quer, mesmo que sua eliminação sem cerimônias ao final por um Ken Watanabe fazendo cosplay de Gandalf seja consideravelmente anticlimática.

Ryuji também é um personagem interessante e enigmático e sua condição de cadeirante acrescenta bons desafios narrativos e práticos para tornar possível sua participação nos jogos sem que ele seja eliminado instantaneamente. Os demais novos personagens que passam a fazer parte de dois times separados, um liderado por Arisu e outro por Ryuji e Usagi, são bons em seu conjunto, mas sem que haja um grande destaque entre eles, talvez com exceção de Tetsu Shimazaki (Koji Ohkura) pelo fato de ele ser dependente químico, o que o torna pouco confiável e quase que automaticamente cria espaço natural para um bom desenvolvimento dele. Em termos de jogos, a quantidade diminuiu e o tempo foi alongado, com quase todos se passando em ambientes fechados. A criatividade ainda é o ponto alto, mas as regras de alguns deles – como as do jogo do zumbi e as do longuíssimo jogo final – exijam constantes interrupções narrativas para alguém explicar o que está acontecendo e qual é a estratégia a ser seguida. Não é que isso seja uma novidade na série, notem bem, mas, com menos jogos, isso se torna consideravelmente mais sensível e cansativo, muito diferente, por exemplo do jogo Osmose na região portuária de Tóquio ou do bizarramente violento jogo do “ácido na cabeça” da temporada anterior.

O fato de tudo girar ao redor de Arisu e Usagi tira um pouco daquela sensação de que qualquer coisa pode acontecer, já que fica bastante evidente que esse casal está blindado de qualquer acontecimento negativo, algo que se torna ainda mais evidente quando a gravidez de Usagi é revelada. Não ajuda em nada que todos os demais personagens, com exceção de Ryuji – que qualquer um pode deduzir facilmente fará um “sacrifício final” – sejam basicamente buchas de canhão, mesmo que alguns bons dramas sejam construídos para eles, como o já citado dependente químico, mas também a dona de casa abusada pelo marido e os irmãos que perderam os pais em acidente de carro. O senso de perigo e urgência é arrefecido dessa maneira, com as subversões nas regras dos jogos causas por Banda não conseguindo compensar por completo.

E, finalmente, quando o dénouement vem e o personagem de Watanabe aparece para Arisu, eis que a temporada nos oferece uma explicação metafísica para lá de mequetrefe que faz todo aquele papinho lisérgico do Rei de Paus (o peladão da segunda temporada) parecer uma convenção dos grandes pensadores gregos. Esse negócio de caminho da vida (luz, águas calmas…), caminho da morte (redemoinho selvagem e destruidor) e toda aquela preparação safada para temporadas que se passam em outros países, a começar, “coincidentemente”, pelos EUA, foi a maior conversa para boi dormir que tive o desprazer de ouvir em muito tempo. Cadê aquela elegância surpreendente da Rainha de Copas em seu chá no intervalo do jogo de críquete? Por mais que a presença de Watanabe seja sempre alvissareira e imponente, esses diálogos que entregaram para ele regurgitar foram inadvertidamente hilários.

Entre mortos e feridos, minha conclusão é que não se salvaram todos, apesar de o terceiro ano de Alice in Borderland não ser nem de longe horrível ou mesmo somente mediano. Mesmo assim, ficou evidente que a série deveria ter parado na temporada anterior. Claro que foi bacana ver Arisu e Usagi novamente e ser apresentado a Ryuji, com os jogos sendo sempre bônus interessantes, mesmo que em suas versões mais econômicas, mas eu já havia me dado satisfeito com o que eu achava que poderia ser o final e nada que me foi mostrado aqui acrescentou algo valioso à mitologia. E, muito sinceramente, não sei se eu quero conhecer a garçonete Alice nos Estados Unidos destruídos por um gigantesco terremoto.

Alice in Borderland – 3ª Temporada (今際の国のアリス / Imawa no Kuni no Arisu – Japão, 25 de setembro de 2025)
Desenvolvimento: Shinsuke Sato (baseado em mangá de Haro Asō)
Direção: Shinsuke Sato
Roteiro: Yasuko Kuramitsu, Shinsuke Sato
Elenco: Kento Yamazaki, Tao Tsuchiya, Kento Kaku, Tina Tamashiro, Risa Sudou, Koji Ohkura, Kotaro Daigo, Hayato Isomura, Katsuya Maiguma, Joey Iwanaga, Akana Ikeda, Hiroyuki Ikeuchi, Hyunri, Sakura Kiryu, Yugo Mikawa, Ken Watanabe, Ayaka Miyoshi, Nijirō Murakami, Aya Asahina, Dori Sakurada, Sho Aoyagi, Yuri Tsunematsu
Duração: 392 min. (seis episódios)

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