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Crítica | Alien: Covenant

por Guilherme Coral
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estrelas 2,5

*Clique, aqui, para ler todo nosso material da franquia Alien.

Quando Alien, O Oitavo Passageiro foi lançado, ele era praticamente o pioneiro do terror espacial como o conhecemos, não que outros filmes do gênero não existissem até então, mas a grande maioria eram filmes B ou completamente diferentes daquilo que vimos no longa-metragem de Ridley Scott, que redefiniu o subgênero. Sabiamente, James Cameron, em Aliens, O Resgate, afastou-se daquilo que Scott fizera, partindo para a ação, já que tinha consciência que repetir tal feito seria impossível dentro da mesma franquia e, se conseguisse, seria uma mera cópia, mais do mesmo, o que diminuiria seu filme ao provocar inevitáveis comparações entre um e outro. O que ele criou foi algo substancialmente diferente, que não interferia, nem um pouco, com o seu antecessor, apenas utilizava suas ideias.

Com o passar dos anos, a franquia Alien sofreu nas mãos de diferentes realizadores e produtores, até o ponto em que foi enterrada pelos anos, com algumas tentativas de ressurreição, como os tenebrosos Alien vs. Predador. Foi somente com Prometheus que a franquia retornou às mãos de seu criador, que optou por explicar as origens do xenomorfo por meio de uma trama complexa que, no fim, não entregou sequer metade daquilo que prometia. Pior que isso, ao tentar criar uma história de origem para o alienígena, grande parte do terror inerente à criatura vai embora, como se o próprio Scott tivesse esquecido de que menos é mais, algo que tão bem definiu o primeiro filme dessa saga.

Servindo como continuação dessa obra de 2012, Alien: Covenant herda o exato mesmo problema: o excesso de explicações que não somente torna a ideia do famoso alien mais palpável, como faz surgir buracos nessa história toda, problemas no roteiro esses que não podem ser resolvidos mesmo com as eventuais sequências, já que pedem demais da suspensão de descrença do espectador, com um pulo de “A” para “B” que soa irrealístico, no mínimo. Para um longa que planta um de seus pés na ciência, isso é, no mínimo, um grande deslize.

Apesar de ser uma sequência, a trama acompanha novos personagens, os tripulantes da nave Covenant, que tem a missão de colonizar um novo planeta distante da Terra. O criossono dessa equipe, porém, é interrompido quando seu veículo é atingido por uma onda de neutrinos provocada por uma estrela próxima. Convenientemente, quando param para consertar a nave, acabam recebendo um sinal críptico de um planeta próximo, capaz de sustentar a vida humana. Desviando de sua trajetória, os tripulantes decidem investigar e averiguar se eles podem se estabelecer ali ao invés do planeta originalmente almejado, que se encontra ainda muito longe. Pouco esperavam que, nesse lugar, encontrariam formas de vida prontas para matá-los.

Similar a Prometheus e ao próprio Alien, O Oitavo PassageiroCovenant tem um início mais cadenciado, que sabe construir a relação dos tripulantes da nave, ainda que permaneçam muito rasos ao longo de toda a obra. Já adianto que, em momento algum, sentimos algum tipo de conexão com a protagonista Daniels, vivida por Katherine Waterston, a tal ponto que, em muitos aspectos, ela não chega a parecer como a personagem principal da obra. Vemos, pois, cada um desses indivíduos como buchas de canhão e ficamos mais curiosos para ver como eles encontrarão seu fim do que efetivamente torcemos pelo seu sucesso.

Ainda assim, esse ritmo mais lento consegue nos envolver, criando uma atmosfera de incerteza, de suspense, que aumenta gradativamente enquanto essa nova localidade é desvendada. Dito isso, quando o “neomorfo” (o alien branco que aparecera nas imagens promocionais e está na imagem dessa crítica) aparece, ele é tido, automaticamente, como um forte elemento de terror. Scott acerta aqui, não nos deixando ver a criatura com clareza e, mesmo quando se encontra mais estática, há um ar de incógnita a circundando, consequência, claro, de sua aparência mais simples, que nos faz não saber focar em um ponto específico de sua fisionomia. A imaginação é aguçada e essa nova criação mantém-se como uma tenebrosa visão a se contemplar e temer.

Ridley Scott, porém, não largando o osso, busca continuar a história de origem do xenomorfo, dando longas passadas ao longo da projeção, desperdiçando essa criatura completamente. Temos o já falado pulo de “A” para “B”, com a trama se tornando desnecessariamente complexa, gerando dúvidas no espectador que jamais são sanadas. Esses questionamentos, porém, passam a ser enxergados como coisas que não fazem sentido, tido que o texto de John Logan e Dante Harper introduz elementos que nunca são desenvolvidos, fazendo-os soarem perdidos ao longo da progressão narrativa. A tentativa de inserir questões filosóficas na história acaba soando, portanto, como filosofia de botequim, com ideias lançadas ao vento, jamais sendo resgatadas.

Em razão disso, a obra se divide em atos tão distintos que provocam claras rupturas narrativas, prejudicando o ritmo de toda a projeção, transformando nossa percepção dessas duas horas de duração e fazendo-as parecer como se estivéssemos diante de algo com três horas ou mais. Alien: Covenant torna-se cansativo e não podemos deixar de sentir uma pontada de tristeza ao contemplar as coisas boas que o filme introduz sendo desconstruídas conforme avançamos na trama. Não bastasse isso, a decupagem de Scott passa a mostrar mais do que deveria e o terror construído no primeiro terço dá lugar à ação puramente genérica, que não surte qualquer efeito no espectador já que, como antes falado, não criamos nenhum vínculo com os personagens.

Chega a ser irônico constatar que o filme se sairia melhor se o xenomorfo jamais aparecesse, o que demonstra a total falta de direcionamento de Ridley Scott, que poderia, muito bem, estabelecer seu nome no terror espacial por intermédio de várias obras com temáticas similares, mas separadas entre si, algo parecido ao terror gótico/cósmico de Lovecraft. Essa mania vigente de criar universos compartilhados, continuações em cima de remakes e reboots prejudica não só essas suas novas empreitadas, como afeta nossa memória do longa de 1979. Felizmente, já aprendemos há muito tempo a distanciar o original de suas sequências, algo que será necessário em relação a Covenant.

Além disso, as “surpresas” reservadas pelo texto são gritantemente previsíveis desde os trechos iniciais da projeção, sendo elaboradas de formas corriqueiras com técnicas cinematográficas mais que batidas. O ponto que, felizmente, minimiza isso é a interpretação de Michael Fassbender, que rouba a atenção em todo momento que aparece, trazendo nuances que aprofundam aquilo que o texto em si não consegue.

No fim, Alien: Covenant não consegue se estabelecer nem como suspense, nem como terror e nem mesmo como filme de ação, brincando com os três gêneros sem verdadeiramente aprofundar-se neles. Com aspectos filosóficos que jamais ganham maior apuro, o filme cai na mesma cilada de Prometheus, evocando a inevitável comparação com aquilo que veio antes e, em razão disso, estabelece em um patamar muito inferior aos dois primeiros Alien. Mesmo analisando-o como uma obra autocontida (o que não chega a ser em momento algum), o longa falha em envolver o espectador, que, claro, não pode esperar o mesmo pioneirismo de Alien, mas que pode e deve almejar uma história bem contada. O que ganhamos são oportunidades perdidas, introduções estragadas pelo seu desenvolvimento e nada mais.

Alien: Covenant – EUA/Austrália/ Nova Zelândia/ Reino Unido, 2017
Direção:
Ridley Scott
Roteiro: John Logan, Dante Harper
Elenco: Katherine Waterston, Michael Fassbender,  Billy Crudup,  Danny McBride, Demián Bichir, Carmen Ejogo,  Jussie Smollett, Callie Hernandez, Amy Seimetz
Duração: 122 min.

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