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Crítica | Alien: Earth – 1X03: Metamorfose

Quando é que uma máquina não é uma máquina?

por Ritter Fan
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Logo de largada, é um pouco decepcionante que Alien: Earth caminhe para ser uma versão de Jurassic Park com xenomorfos e outros bichos escrotos. Não que eu não aprecie um massacre cheio de sangue, tripas e gosmas em um ambiente controlado e fechado que pode ser muito facilmente eliminado por completo sem atrapalhar a continuidade do universo inicialmente criado por Ridley Scott, mas confesso que o que Hawley fez, aqui, foi trocar seis por meia dúzia, retirando a ação de um espaço semifechado, mas com potencial para desdobramentos mais surpreendentes e transportando-a para um espaço completamente fechado, por ser cercado por um oceano, lá na Terra do Nunca de Boy Kavalier, que, pelo menos em tese, oferece algo que já vimos antes algumas várias vezes no audiovisual.

Que fique bem claro, porém: eu acompanho os trabalhos do showrunner há muito tempo e não duvido nada da capacidade dele de fazer algo espetacular com essa sua escolha, mas fica aquela indagação incômoda lá no fundo de minha mente que algo menos padrão poderia ter sido tentado. E sim, eu sei que estou me adiantando, mas vamos combinar que é bastante improvável que a série – pelo menos nesta primeira temporada – saia da ilha a não ser quando for para mostrar Yutani atendendo ligações de Morrow ou do próprio Kavalier em certa altura. Por outro lado, é o que temos no momento e, como disse, nunca é desinteressante ver xenomorfos caçando humanos e despedaçando sintéticos, especialmente se houver uma rainha em um daqueles simpáticos ovos onde moram os assustadores Facehuggers.

Seja como for, mesmo ameaçando uma jornada por caminhos mais conhecidos, Alien: Earth continua tendo muita personalidade própria, com direção de arte e efeitos práticos e digitais dignos de blockbusters para Cinema, com Hawley jogando uma rede expansiva que oferece um pouco de tudo, seja um começo em que vemos Wendy e Joe enfrentando e liquidando com o xenomorfo nos destroços da nave espatifada (no final das contas, era um só alien mesmo então…) e Morrow estabelecendo uma conexão metafórica e também física com o assustado Slightly que servirá de porta de entrada do ciborgue lá no quartel-general da Prodigy e a introdução do conceito de trauma em um sintético, com Nibs profundamente afetada por sua experiência com o polvo zoiudo que a leva a basicamente indagar sobre quem ela é e qual é seu propósito, agora que sua mente infantil foi transplantada para um corpo adulto, sem contar com os ciúmes de Curly. Só aí já há muito para desempacotar e, mais ainda, torna-se visível o que espero seja uma atenção tripartite de Hawley, ou seja, um pouco de pura pancadaria, outro de manipulação e invasão robótica e outro que continua explorando a (i)moralidade que é a exploração de crianças moribundas e desesperadas por Kavalier.

Mas, indo além, Metamorfose aprofunda aquilo que havia ficado um tanto quanto ambíguo anteriormente, ou seja, a conexão maior de Wendy com os xenomorfos, algo que parece também existir em Joe. O que exatamente significa isso e quais as consequências desse tipo de compartilhamento de mentes é, talvez, o grande mistério da série e, diria, até mesmo o ás na manga de Hawley. E, claro, como não falar de Kirsh, um sintético cheio de sarcasmo e ironia cortesia de um Timothy Olyphant mais uma vez inspirado no tipo de papel que o consagrou (falo, claro, de seu Raylan Givens, em Justified) que disseca um ovo, retira um “girinomorfo” e o insere no pulmão extraído do corpo de Joe para ver que bicho vai dar, em uma das sequências da franquia Alien mais revoltantes e bizarras, mas que faz absolutamente todo sentido se pensarmos como um jovem trilionário doido por mais trilhões e um androide frio, calculista e sacana.

Metamorfose é um capítulo de transição, portanto, levando a história da Maginot para a Terra do Nunca e aquecendo a corrida armamentista entre a Prodigy e a Weyland-Yutani, com Morrow em um projeto pessoal que o leva à caça de seu projeto de vida esteja onde ele estiver, Wendy estabelecendo uma conexão estranha com os xenomorfos e, de quebra, suas colegas Nibs e Curly tendo reações muito humanas às suas novas experiências. Nós sabemos muito bem como os dois filmes que valem da franquia Alien acabam, assim como sabemos como é que isso se dá em uma escala insular. O que nós não sabemos é o que Noah Hawley tem nos recônditos de sua mente brilhante e é isso que faz com que minha leve decepção inicial com o caminho para que o episódio aponta se dissipe.

Obs: Toda vez que eu escutar Wherever I May Roam, agora, imaginarei que a canção é a partir da perspectiva de um xenomorfo, com a imagem do Facehugger vendo Kirsh pela membrana do ovo passando a ser sua representação visual.

Alien: Earth – 1X03: Metamorfose (Alien: Earth – 1X03: Metamorphosis – EUA, 19 de agosto de 2025)
Desenvovimento: Noah Hawley
Direção: Dana Gonzales
Roteiro: Noah Hawley, Bob DeLaurentis
Elenco: Sydney Chandler, Timothy Olyphant, Alex Lawther, Essie Davis, Samuel Blenkin, Babou Ceesay, Adarsh Gourav, Erana James, Lily Newmark, Jonathan Ajayi, David Rysdahl, Adrian Edmondson, Sandra Yi Sencindiver, Kit Young
Duração: 56 min.

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